EUA elegem deputado filho de brasileiros, republicano, trumpista, bolsonarista e gay

George Santos, eleito em Nova York, posou com Eduardo Bolsonaro, defendeu cloroquina e é contra 'ideologia de gênero'

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Washington

"É assim que se faz! Chega de censura! Acorda, mundo! O Brasil está estabelecendo os padrões da #lutapelaliberdade #OGiganteAcordou #Brazil #7DeSetembro". O autor dessa mensagem, acompanhada de uma imagem do protesto bolsonarista contra o Supremo Tribunal Federal no Rio de Janeiro no 7 de Setembro do ano passado, acaba de ser eleito para o Congresso nos Estados Unidos.

Trata-se de George Santos, 34, nascido em Nova York e filho de pais brasileiros, que foi eleito na terça-feira (8) para representar o partido e as ideias de Donald Trump na Câmara.

Ele é o primeiro deputado republicano abertamente gay eleito no país —a sigla teve dois representantes na Câmara também gays, mas que só se assumiram publicamente depois de anos na Casa.

Deputado federal Eduardo Bolsonaro se encontra com o deputado dos EUA George Santos
George Santos, deputado eleito por Nova York, nos EUA, em foto com o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL) em fevereiro de 2020 - @Santos4Congress no Twitter

Trumpista convicto, ele defende as bandeiras do ex-presidente e faz questão de deixar claro em seu site que os pais "imigraram de forma legal para os Estados Unidos na busca do sonho americano, onde começaram suas novas vidas sob os princípios da vida, liberdade e busca pela felicidade."

Durante a crise na fronteira dos EUA com o México no ano passado, ele publicou no Twitter um comentário sobre o aumento da imigração irregular de brasileiros ao país e afirmou que "estava envergonhado em ver esse enorme desrespeito pela legislação." Provocou ainda o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do presidente da República, a aprovar "uma legislação no seu Congresso o mais rápido possível para mandar essas pessoas de volta ao Brasil", escreveu.

Santos já publicou em suas redes sociais foto com Eduardo, afirmando que seria "um ótimo momento e oportunidade para criar uma rede" com o parlamentar brasileiro. Em maio de 2020, no começo da pandemia de Covid-19, pediu que o então presidente Trump enviasse hidroxicloroquina ao Brasil, remédio propagandeado tanto pelo presidente americano quanto por Jair Bolsonaro para enfrentar a doença, a despeito das evidências que não apontam qualquer eficácia contra o coronavírus. Em junho daquele ano, os EUA anunciaram o envio de 2 milhões de comprimidos do medicamento ao país.

A eleição de um filho de imigrantes brasileiros ao Congresso do país também chama a atenção porque, embora o Brasil tenha uma das grandes comunidades de estrangeiros nos EUA, nunca teve representação política expressiva.

O Itamaraty estima em 1,8 milhão o tamanho da comunidade brasileira nos EUA. Ainda que esses imigrantes possam ser encaixados de forma geral na categoria dos latinos, segundo maior grupo étnico dos EUA, o Brasil em si nunca teve representatividade nem próxima por exemplo à dos descendentes de cubanos, que há décadas elegem políticos no país.

Santos é admirador contumaz de Trump e o elogia sempre que pode. Em fevereiro do ano passado, afirmou em uma entrevista ao canal de Lara Trump, nora do ex-presidente, que estava em Washington em 6 de janeiro de 2021, quando manifestantes invadiram o Congresso dos EUA para tentar impedir a certificação da vitória de Joe Biden, em um episódio que deixou 5 mortos e uma fissura na história da democracia do país.

Ele afirma que estava no Elipse, um parque que fica atrás da Casa Branca, a menos de 3 quilômetros do Congresso. "Era a multidão mais incrível, e o presidente [Trump] estava em toda sua excelência", disse.

O deputado eleito diz que não pisou no Capitólio e, de fato, no dia seguinte, em 7 de janeiro, chegou a escrever que o dia ficaria "marcado como um dia triste e escuro na nossa história" e que a nação precisava "ser curada imediatamente." Neste ano, no entanto, ele foi filmado por um suposto apoiador dizendo que estava trabalhando na arrecadação de recursos para contratar advogados e tirar da prisão manifestantes que invadiram o Congresso, deixando claro que "não queria publicizar" o assunto.

Santos já havia concorrido anteriormente, em 2020, sem sucesso, mas sua eleição neste ano foi considerada histórica porque pela primeira vez na história dos Estados Unidos dois candidatos gays duelaram entre si por uma vaga na Câmara. Santos venceu o democrata Robert Zimmerman e virou para os republicanos um assento que era do partido de Joe Biden desde 2013.

O deputado eleito, no entanto, tem controvérsias na comunidade gay. Santos foi a público manifestar apoio à Lei dos Direitos Parentais na Educação da Flórida, polêmica legislação do governador Ron DeSantis que ficou mais conhecida pelo apelido "não diga gay". Na luta contra a suposta "ideologia de gênero", o estado proibiu que professores falassem para crianças na sala de aula sobre orientação sexual e identidade de gênero.

A legislação foi criticada por grupos de direitos LGBTQIA+, que chegaram a processar o estado, e Santos saiu em defesa dos republicanos na Flórida. "Como um homem gay, me coloco orgulhosamente a favor de não ensinar nossas crianças sobre sexo ou orientação sexual", afirmou ele em vídeo no Facebook. "DeSantis, você tem todo o meu apoio, eu apoio sua decisão de proteger a inocência de nossas crianças", disse, afirmando que essa seria "uma lei decente que protege nossos valores."

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