General do Irã admite ao menos 300 mortes em protestos contra regime

Declaração é a primeira de uma autoridade em ao menos 2 meses sobre vítimas em atos; ONGs apontam número maior

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São Paulo

Um general iraniano deu nesta segunda-feira (28) a primeira declaração oficial em ao menos dois meses sobre mortes nos protestos desencadeados pela morte da jovem Mahsa Amini. Os atos representam o maior desafio público ao regime em anos.

Segundo um site alinhado à Guarda Revolucionária, o comandante da divisão aeroespacial das forças paramilitares, Amir Ali Hajizadeh, admitiu que mais de 300 pessoas morreram nas manifestações —o texto não cita um número exato nem a origem da informação.

Grupo de homens da milícia Basij reunido durante discurso do líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Hhamenei, na capital Teerã - 26.nov.22/Regime do Irã via AFP

De acordo com a agência de notícias Associated Press, o militar incluiu nessa conta o que chamou de mártires, em possível referência a agentes de forças de segurança mortos em conflito com manifestantes. Até aqui, a versão oficial do regime menciona apenas mortes de policiais e militares.

Nesta segunda-feira, de acordo com a Reuters, Ali Bagheri Kani, vice-chanceler do país, falou em cerca de 50 policiais mortos nos atos, além de centenas de feridos. O balanço também não especifica se o número de vítimas inclui representantes de forças paramilitares ou da Guarda Revolucionária, por exemplo.

Pela contagem de entidades de direitos humanos que monitoram a situação no Irã, porém, esses números oficiais são subdimensionados. A ONG Direitos Humanos no Irã estima 451 manifestantes e 60 agentes mortos desde o início dos atos, dias depois que Amini, 22, morreu sob custódia da polícia moral —ela havia sido detida sob acusação de não usar de forma correta o hijab, o véu islâmico.

Ainda segundo a Associated Press, Hajizadeh teria dito que muitas das vítimas são iranianos comuns, que não se envolveram nos protestos. Sem apresentar evidências, o general ainda reforçou a versão do regime de que os atos seriam fomentados por rivais de Teerã, como a Arábia Saudita, os EUA e outros países ocidentais, como forma de desestabilizar o país.

O Conselho de Direitos Humanos da ONU aprovou na última semana a criação de uma missão para investigar a repressão no país do Oriente Médio. Como esperado, Teerã se recusou a colaborar com a iniciativa para esclarecer as ações de suas forças de segurança, em grande parte chefiadas pelo líder supremo do país, o aiatolá Ali Khamenei.

Nesta segunda, o porta-voz da chancelaria iraniana, Nasser Kanaani, afirmou que a missão representa um comitê político. "Temos informações provando que os EUA, países ocidentais e outros aliados americanos têm papel nos protestos", disse ele, sem entrar em detalhes.

Em Genebra, o Conselho Econômico e Social da ONU decidiu que votará no próximo dia 14 uma resolução para excluir Teerã de uma de suas comissões, ligada à defesa dos direitos femininos —o Irã acabou de ser indicado para um mandato de quatro anos no órgão, que reúne 45 Estados-membros sempre em março.

Um rascunho do documento pedindo a expulsão, elaborado por Washington e à qual a Reuters teve acesso, cita que o país nega às mulheres e meninas uma série de direitos e promove uma repressão brutal dos atos contra o regime. No fim de semana, Khamenei se reuniu com membros da milícia paramilitar voluntária Basij na capital do país, Teerã. A força é uma das que atuam na repressão a civis.

Às dezenas de homens o aiatolá chamou os protestos de tumultos. "Muitos [soldados da milícia] sacrificaram suas vidas para proteger as pessoas dos manifestantes; a presença de Basij mostra que a Revolução Islâmica está viva", disse, em discurso que também foi televisionado.

Com Reuters

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