Lula terá encontro com Biden nos EUA antes da posse, diz Haddad

Presidente eleito deve viajar a Washington e Buenos Aires; representantes da Casa Branca estarão em SP na semana que vem

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Brasília

O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deve se encontrar com o americano Joe Biden, nos Estados Unidos, antes de tomar posse. A informação foi dada nesta quarta-feira (30) pelo ex-ministro da Educação Fernando Haddad, um dos auxiliares mais próximos do petista e cotado para ocupar uma pasta no futuro governo —já foram citadas a da Fazenda e o próprio Itamaraty.

A equipe de transição também fala na expectativa de que Lula viaje para a Argentina antes de iniciar seu terceiro mandato, em janeiro de 2023.

"A eleição do Lula promoveu um choque de credibilidade. Ela está atraindo muito a atenção de investidores estrangeiros, pude constatar isso na viagem ao Egito e a Portugal", apontou Haddad ao deixar o hotel onde estava hospedado em Brasília, antes de voltar a São Paulo.

O presidente eleito Lula acena a jornalistas em Brasília - Lucio Távora - 28.nov.22/Xinhua

O ex-ministro fez referência à ida do presidente eleito para a COP27, cúpula do clima realizada em Sharm El-Sheikh na primeira metade de novembro —o único deslocamento internacional do político teve escala em Lisboa na volta. Na ocasião, o petista pegou uma carona no jatinho do empresário José Seripieri Filho, dono da QSaúde, o que foi alvo de críticas.

Ao se defender de acusações de possível conflito de interesses, já em Portugal, Lula se justificou dizendo que quem o convidou ao Egito não poderia arcar com os custos da viagem e que o empresário, seu amigo, tinha um avião à disposição.

Segundo Haddad, o presidente eleito recebeu também um convite para ir à China, mas a confirmação para que esse deslocamento aconteça é mais difícil, devido à falta de tempo de realizá-lo antes da posse. "Lula vai concluir o ano tendo conversado com as grandes potências", disse o ex-ministro, acrescentando que algumas dessas reuniões podem se dar de forma virtual. "Há muitos convites para encontrá-lo."

Além das conversas na COP e com o premiê e o presidente de Portugal, António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa, em Lisboa, Lula já esteve com o presidente da Argentina, que viajou a São Paulo no dia seguinte ao segundo turno.

Na ocasião, Alberto Fernández disse que o petista viajaria a Buenos Aires antes da posse. "Lula sabe que a Argentina é sua casa", afirmou. "Agora poderemos falar mais de futuro do que passado." No mesmo dia, o presidente eleito recebeu telefonemas de uma série de líderes mundiais para falar sobre sua vitória —entre eles o americano Biden, que já havia sido um dos primeiros a parabenizá-lo publicamente pelo resultado, instantes depois da oficialização.

Desde então, Washington já havia dito que o democrata tinha interesse em agilizar um encontro para um diálogo presencial entre os dois. Nesse sentido, o assessor de Segurança Nacional Jake Sullivan e o conselheiro para América Latina Juan González devem viajar ao Brasil na próxima segunda-feira (5) —como a Folha mostrou, os planos para isso vêm desde antes do segundo turno, também como forma de destacar a confiança numa transição de poder dentro da normalidade. Até esta quarta (30), a Casa Branca não havia se manifestado sobre o tema.

Havia na administração americana um receio de tumulto no Brasil similar ao de 6 de janeiro de 2021, quando uma multidão insuflada pelo então presidente Donald Trump invadiu a sede do Congresso para impedir a confirmação da vitória de Biden na eleição.

O atual presidente, Jair Bolsonaro (PL), sempre foi apoiador de primeira hora de Trump, tendo manifestado torcida por ele no pleito e depois ecoado alegações de fraude —que jamais foram provadas. Desde a posse do democrata, os líderes de EUA e Brasil mantiveram uma relação fria: nunca se falaram por telefone e só se reuniram uma vez, na Cúpula das Américas.

A dificuldade na agenda de Lula para viagens se deve também à necessidade de negociar a chamada PEC (Proposta de Emenda à Constituição) da Transição, que tira o Bolsa Família do teto de gastos. A proposta encaminhada pelo relator do Orçamento, senador Marcelo Castro (MDB-PI), prevê uma exceção de quatro anos, o que não deve ser ratificado pelo Congresso; a tendência é de aprovação de um prazo de dois anos.

O presidente eleito passou esta quarta-feira em Brasília conversando com parlamentares e se reuniu com os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), além de representantes da federação PSDB/Cidadania —siglas que defendem que o programa social fique fora do teto por somente um ano.

Lula permanecerá até esta sexta (2) em Brasília, quando seguirá para São Paulo, mas na próxima semana deve retornar à capital federal. Outro compromisso que pede sua presença no DF, atrapalhando a possibilidade de viagens internacionais, é a diplomação do presidente eleito e de seu vice, Geraldo Alckmin (PSB), agendada para o próximo dia 12.

O prazo inicial estipulado pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) era 19 de dezembro, limite máximo para a cerimônia, mas o PT quis antecipar a data para esvaziar atos golpistas em frente a quartéis militares. Os manifestantes pedem que as Forças Armadas impeçam a posse de Lula, em 1º de janeiro de 2023.

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