Descrição de chapéu imigrantes

Ministra chama migração no Reino Unido de 'invasão' e abre 1ª crise do governo Sunak

Suella Braverman, chefe da pasta do Interior, recebe críticas até mesmo de aliados por termo condenado por especialistas

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São Paulo

A ministra do Interior do Reino Unido, Suella Braverman, foi alvo de duras críticas nesta terça-feira (1º), após chamar o fluxo migratório por meio do Canal da Mancha de "invasão".

No Parlamento para discutir uma recomendação legal sobre a detenção prolongada de migrantes em centros de processamento, ela alegou que o atual sistema de migração está "fora de controle".

A ministra do Interior do Reino Unido, Suella Braverman, durante sessão na Câmara dos Comuns, em Londres
A ministra do Interior do Reino Unido, Suella Braverman, durante sessão na Câmara dos Comuns, em Londres - Jessica Taylor - 31.out.22/Parlamento do Reino Unido/AFP

Em meio à discussão na Câmara dos Comuns, a líder da pasta disse que estava trabalhando para cessar a "invasão na costa sul", em referência à chegada de migrantes em botes. "Vamos parar de fingir que todos eles são refugiados em apuros, o país sabe que isso não é verdade", afirmou Braverman, que é filha de imigrantes do Quênia e de Maurício, país na África Oriental, que chegaram ao Reino Unido nos anos 1960.

A ministra ainda concordou com a declaração de um parlamentar que instou imigrantes a "subir em uma jangada e voltar para a França" caso não estivessem satisfeitos com a recepção britânica.

O secretário de Imigração, Robert Jenrick, que responde ao Ministério do Interior, tentou amenizar as falas da chefe ao dizer que elas refletem o tamanho do desafio a ser enfrentado, mas também afirmou ser necessário "escolher sabiamente a terminologia", dada a posição que ocupa.

Especialistas em imigração condenam o uso do termo "invasão" para denominar fluxos migratórios. Para João Chaves, coordenador de Migrações e Refúgio da Defensoria Pública da União em SP, chamar migrantes de invasores "é colocá-los no mesmo patamar de inimigos". "Todos têm direito de pedir asilo".

O Acnur (Alto Comissariado da ONU para os Refugiados), em seu guia para profissionais e estudantes de comunicação, afirma que "o termo 'invasão' costuma ser associado a guerras, destruição, violações e a atos ilícitos em geral". "Quando usado para designar um determinado fluxo migratório ou de refugiados, traz consigo a mensagem de que esse fluxo pode desagregar ou ameaçar a ordem e a rotina vigentes."

Braverman foi reconduzida ao Ministério do Interior seis dias após renunciar ao cargo, admitindo ter usado sua conta pessoal de email para enviar documentos do governo britânico. Ela fez parte da breve gestão de Liz Truss e voltou ao posto sob Rishi Sunak, o terceiro premiê a assumir a posição em dois meses.

No Parlamento, Braverman, ao discutir a questão migratória, defendeu a decisão de manter milhares de pessoas em um centro de processamento no condado de Kent, mesmo após a acusação de que teria deliberadamente ignorado uma recomendação legal para transferir os migrantes para hotéis.

As condições do abrigo foram descritas por David Neal, inspetor-chefe de Fronteiras e Migração, como deploráveis. Desenhado para receber 1.500 migrantes por dia e por apenas 24 horas, o centro abrigava mais que o dobro de sua capacidade, e uma família afegã contou estar no local há pelo menos 32 dias.

Alguns parlamentares, incluindo membros do Partido Conservador, ao qual Braverman pertence, apressaram-se para tentar conter os danos das declarações. Tommy Sheppard, do Partido Nacional Escocês, afirmou que a chefe da pasta se valia de uma "retórica ultradireitista inflamatória".

Um porta-voz de Sunak contradisse a ministra e descreveu o país como "receptivo e compassivo" com migrantes. Já a ministra, que em outra oportunidade disse que seu sonho era ver um avião com requerentes de asilo deportados decolando rumo a Ruanda, alegou ser alvo de "caça às bruxas política".

Na Albânia, o primeiro-ministro criticou políticos britânicos por comentários sobre migração, notadamente ligados ao aumento do número de albaneses cruzando o Canal da Mancha —foram 11 mil entre maio e setembro deste ano, contra 815 no mesmo período de 2020.

Edi Rama afirmou que Londres usa os albaneses como bode expiatório, numa retórica fácil e insana, para os problemas no setor.

Com Reuters

Erramos: o texto foi alterado

O condado de ​Kent foi incorretamente identificado como uma cidade. O texto foi corrigido.

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