Descrição de chapéu China

Relatório acusa China de manter policiais no Brasil e em outros países

ONG espanhola afirma que agentes de Fuzhou e Qingtian abriram centros de serviço no exterior

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Igor Patrick
Washington

Esta é a edição da newsletter China, terra do meio. Quer recebê-la todas as sextas no seu email? Inscreva-se abaixo.

Um relatório produzido pela Safeguard Defenders causou barulho em todo o mundo ao acusar a China de manter delegacias ilegais em dezenas de países, inclusive no Brasil (no Rio e em São Paulo). A organização de direitos civis sediada na Espanha diz que policiais de Fuzhou e Qingtian abriram "centros de serviço no exterior" em 25 cidades de 21 países.

O documento afirma que eles são usados para monitorar, prender e deportar chineses expatriados e dissidentes do regime. Entre abril de 2021 e julho deste ano, 230 mil chineses teriam sido "persuadidos a retornar" para o país asiático devido a ações desses agentes.

"Esta campanha, que começou em escala modesta em 2018, desembocou no estabelecimento de ‘postos de serviço’ da polícia chinesa no exterior, às vezes chamados de 110 Overseas, referência ao número de emergência da polícia nacional", diz o relatório.

A Safeguard Defenders diz que os postos implementaram uma tática desenvolvida pelo Ministério de Segurança Pública da China junto à Comissão Nacional de Supervisão. O modus operandi envolveria intimidação, assédio, prisão de parentes dos alvos na China, além de abordagem online ou destacamento de agentes para perseguir pessoas no exterior.

Autoridades de vários países reagiram às acusações.

  • A Polícia Real Montada do Canadá abriu uma investigação para apurar "atividades criminosas promovidas por supostas delegacias chinesas clandestinas";

  • O Ministério das Relações Exteriores da Holanda disse que a denúncia "preocupou profundamente" e que o governo holandês vai abrir um inquérito sobre o assunto;

  • Portugal, Reino Unido, Irlanda e Espanha também estão checando as alegações.

Até o momento, apenas as embaixadas da China no Canadá e no Reino Unido se manifestaram em nota sobre o assunto.

  • Negaram que as instalações funcionem como delegacias, mas como "estações de serviço" para prestar assistência consular a chineses no exterior e impedidos de retornar devido à pandemia de Covid-19.

  • Autoridades diplomáticas chinesas disseram que os funcionários nessas instalações são voluntários, não policiais.

A Folha entrou em contato com a embaixada da China no Brasil e com o Itamaraty. Não houve resposta de nenhuma das partes até a conclusão desta edição.

Por que importa: o relatório da Safeguard Defenders é mais uma acusação de atuação policial ilegal da China no exterior. Se confirmadas, as denúncias violariam o direito internacional e podem colocar Pequim em uma tempestade diplomática global.


o que também importa

Centenas de trabalhadores da Foxconn, que fabrica iPhones na China, foram vistos fugindo das instalações a pé após um surto de Covid em Zhengzhou, na província de Henan. Apenas na quarta (2), a cidade registrou 167 casos da doença.

Vídeos postados nas redes sociais mostram empregados pulando cercas e caminhando pelas estradas próximas ao complexo fabril carregando malas, enquanto voluntários de vilas próximas distribuem alimentos e bebidas para alguns deles. A mídia local afirma que havia funcionários que cumpriam quarentena. Ao menos 200 mil pessoas trabalham no local.

Sede da Foxconn em Taipei, Taiwan
Sede da Foxconn em Taipei, Taiwan - Carlos Garcia Rawlins/Reuters

Cidades próximas temem que a fuga em massa espalhe a doença além das fronteiras de Zhengzhou. A Foxconn afirma que não tem como proibir os funcionários de irem embora, mas vai oferecer um bônus diário quadruplicado para quem decidir ficar.

O mercado chinês reagiu positivamente ao vazamento de um suposto memorando instaurando um "Comitê de Reabertura" chefiado por Wang Huning, membro do novo Comitê Permanente do Politburo chinês.

A nota apócrifa ganhou credibilidade após ser reproduzida nas redes por Hong Hao, conhecido analista de mercado em Hong Kong. O texto diz que o comitê revisará os dados da Covid e desenhará um plano que permita a reabertura do país em março.

O governo não confirma a informação. Em entrevista coletiva, o porta-voz da chancelaria chinesa, Zhao Lijan, disse não ter informação sobre o tal órgão. O CSI 300, que reúne as 300 principais companhias listadas na bolsa de Xangai, subiu 3,6% com a notícia, enquanto as ações de firmas chinesas na bolsa de Hong Kong (índice Hang Seng) saltou 2,6%.

fique de olho

Após sinalizações de Xi Jinping, que na semana passada declarou disposição em retomar a cooperação com os Estados Unidos, delegações chinesas e americanas começaram a trabalhar para viabilizar uma reunião entre o líder chinês e o presidente Joe Biden.

Segundo o porta-voz de segurança nacional americano, John Kirby, funcionários estão explorando "várias modalidades" para o encontro, que será o primeiro presencial entre os dois governantes desde a eleição do democrata. O prazo para organizar o encontro será exíguo, já que o G20 está marcado para começar no próximo dia 15 de novembro.

Por que importa: ambos os governos esperam uma reunião mais amena e propositiva, já que nem Biden nem Xi precisarão marcar posição em virtude da agenda doméstica.

Com a recondução ao cargo garantida ao líder chinês e o fim das eleições de meio de mandato para Biden, talvez sobre espaço para um diálogo mais pragmático entre os países.


para ir a fundo

  • O Projeto Orientalismo, da UERJ, lançou o livro "Chineses no Brasil, Brasileiros na China: Trajetórias em Movimento", que analisa problemas relativos à migração e o trânsito de chineses e brasileiros entre seus países. A obra está disponível para download aqui. (gratuito, em português)
  • Estão abertas as inscrições para o programa de bolsas de graduação, mestrado e doutorado na China. No Brasil, os interessados precisam reunir os documentos necessários e enviá-los à embaixada da China, responsável pela seleção. Quem passar no processo seletivo tem isenção nas taxas da faculdade e recebe passagens aéreas e ajuda para custear os gastos durante os estudos. Informações aqui. (gratuito)
  • Academia de Estudos Contemporâneos sobre a China e o Mundo convidou acadêmicos brasileiros para analisar as mudanças trazidas pelo Congresso do Partido Comunista, em especial o impacto para nações em desenvolvimento. (gratuito, em chinês)
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.