Descrição de chapéu Partido Republicano

Trump pôs em perigo a mim e a todos no Capitólio, diz ex-vice-presidente Mike Pence

Ex-presidente deveria depor até esta segunda em comitê da Câmara, mas ignorou intimação

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Washington | AFP

Criticado por trumpistas desde que se opôs à tentativa de evitar a certificação da vitória de Joe Biden à Presidência, o ex-vice-presidente dos EUA Mike Pence acusou Donald Trump de ter sido imprudente e de tê-lo colocado em perigo ao incitar a multidão antes da invasão ao Capitólio, em 6 de janeiro de 2021. O episódio, que deixou cinco mortos, é considerado uma fissura na história da democracia do país.

Após a derrota para o democrata, Trump organizou um comício em Washington para repudiar o que chamou de fraude nas eleições —nunca comprovada. O então presidente desejava que Pence se recusasse a reconhecer o resultado na sessão do Senado. Como o sinal não foi seguido, apoiadores republicanos invadiram a sede do Legislativo.

O ex-vice-presidente dos EUA, Mike Pence, discursa durante evento em Washington
O ex-vice-presidente dos EUA, Mike Pence, discursa durante evento em Washington - Chip Somodevilla - 19.out.22/ Getty Images América do Norte/ AFP

O procedimento de certificação era comandado por Pence. Mas, diante da invasão, o ex-vice-presidente teve de se esconder, ao lado de outros congressistas. A cerimônia foi adiada e concluída só na madrugada.

"As palavras do presidente naquele dia no comício [antes do ataque] colocaram a mim, minha família e todos no Capitólio em perigo", disse Pence nesta segunda (14) à rede ABC, em sua primeira entrevista a um canal de TV desde então. "As palavras do presidente foram imprudentes."

Em um primeiro momento, Trump se recusou a pedir a apoiadores que deixassem o Capitólio. Ele ainda escreveu em uma rede social que o então vice-presidente "não teve coragem de fazer o que deveria ter feito". Sobre a publicação, Pence disse nesta segunda ter ficado "com raiva".

Segundo o comitê da Câmara que investiga a invasão ao Capitólio, Trump teria pressionado Pence a contestar a vitória de Biden mesmo após ter sido informado de que o então vice não tinha autoridade para se opor formalmente à sua derrota. Familiares do ex-presidente contaram também que os dois brigaram por telefone. Um ex-assessor disse que ouviu a palavra "covarde" na discussão.

Insuflados por Trump, milhares de apoiadores gritaram para que Pence fosse retirado do Capitólio ou enforcado. Liz Cheney, vice-presidente do comitê da Câmara, afirmou que o ex-presidente respondeu aos gritos dizendo que talvez os apoiadores estivessem certos.

Pence, por outro lado, escreveu ao Congresso ainda no dia da invasão que os fundadores dos EUA nunca pretenderam que o vice-presidente tivesse "autoridade unilateral" para anular as recontagens eleitorais e acrescentou que "nenhum vice-presidente na história do país fez valer tal autoridade".

Nesta segunda se encerrou o prazo para que Trump depusesse ao colegiado parlamentar que investiga o episódio. No mês passado, ele foi intimado a apresentar a sua versão, mas não compareceu até a data limite.

O testemunho sempre foi tido como incerto. Parecer da Suprema Corte garante a ex-presidentes o chamado privilégio executivo, mecanismo que, em alguma medida, os protege de prestar depoimentos. A comissão entende, porém, que há limites para o acionamento do dispositivo e cita casos em que outros ex-presidentes testemunharam em órgãos semelhantes do Congresso.

Na sexta (11), Trump entrou com uma ação para evitar ser obrigado a testemunhar ou fornecer documentos ao órgão. Nesta segunda, a ausência do ex-presidente foi criticada por parlamentares.

"A verdade é que Trump, como vários de seus aliados mais próximos, está se escondendo da investigação e se recusando a fazer o que mais de mil outras testemunhas fizeram", escreveram em comunicado o presidente do comitê, Bennie Thompson, e a vice, Liz Cheney.

Normalmente, quando a intimação é descumprida, o comitê encaminha a questão ao plenário da Câmara, que pode comunicar a transgressão ao Departamento de Justiça. Caberia a este último formalizar a acusação contra o depoente, que pode ser condenado a até um ano de prisão. O fato de o caso agora envolver um ex-presidente, contudo, poderia dificultar o trâmite.

O comitê não informou como deverá proceder com a negativa de Trump de comparecer ao depoimento.

Legisladores avaliam que encerrar os trabalhos sem falar com Trump, personagem central do episódio, seria insuficiente. O caso é investigado também no âmbito do Departamento de Justiça, cujo inquérito tem aumentado o cerco contra o político.

Nos últimos meses, a Justiça americana ouviu pessoas próximas a Trump como testemunhas, questionando-as acerca do envolvimento do republicano nos episódios de 6 de janeiro de 2021.

Apesar dos desgastes, Trump deve anunciar, nesta terça (15), uma nova pré-candidatura à Presidência. A decisão é esperada mesmo com as amargas derrotas sofridas por candidatos que ele apoiou nas midterms —que podem enfraquecê-lo politicamente.

Pence também é especulado como pré-candidato à Casa Branca.

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