Descrição de chapéu Governo Biden África

Biden recebe 49 líderes africanos e busca recuperar espaço diplomático

Cúpula de Líderes EUA-África tem objetivo não declarado de conter avanço da China sobre o continente

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Washington

Em uma tentativa de conter o avanço da influência da China e de outras nações sobre a África, os Estados Unidos recebem nesta semana dezenas de líderes de países do continente na Cúpula de Líderes EUA-África, em Washington.

O maior evento diplomático na capital americana desde a pandemia da Covid-19 tem parado a cidade com a presença de 49 líderes —além do anfitrião, Joe Biden—, na reedição da cúpula feita pela primeira vez em 2014, no governo Barack Obama.

O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, em encontro com o premiê da Etiópia, Abiy Ahmed, em encontro às margens da cúpula EUA-África - Evelyn Hockstein - 13.dez.22/Reuters

Na pauta oficial estão os impactos da crise sanitária, a emergência climática, a Guerra da Ucrânia, democracia, segurança e comércio, a serem debatidos em fóruns, reuniões e um jantar de gala entre esta terça (13) e quinta (15). Mas é a presença chinesa na África o tema mais questionado.

Dados da Administração Geral de Alfândega da China mostram que o comércio entre o país de Xi Jinping com o continente africano chegou a US$ 254,3 bilhões no ano passado, um recorde. No mesmo ano, as importações e exportações dos EUA com o continente foram de US$ 64,3 bilhões.

Pequim também tem dominado o setor de infraestrutura por meio de financiamentos de estradas, ferrovias, portos, aeroportos, barragens e companhias de energia. Segundo a revista The Economist, 31% de todos os projetos do tipo no continente africano com valores acima de US$ 50 milhões são financiados por empresas chinesas.

O gigante asiático ainda tem dado de presente prédios governamentais para uma série de países. O Zimbábue, por exemplo, inaugurou em novembro a nova sede do Parlamento, um edifício luxuoso de US$ 140 milhões (R$ 754 milhões) em um dos países mais pobres do mundo —cortesia da China. Nos últimos anos também se ergueram assim as sedes dos Parlamentos de Moçambique, Maláui, Lesoto e Guiné-Bissau e do palácio presidencial de Burundi.

A Casa Branca desconversou, em diferentes entrevistas coletivas, sobre o fator China na cúpula. "[O encontro] será uma proposição positiva sobre a parceria dos EUA com a África. Não vai ser sobre outros países nem uma tentativa de comparar e contrastar", disse o conselheiro de segurança nacional, Jake Sullivan, nesta segunda (12).

O tema foi, porém, citado pelo secretário de Defesa, Lloyd Austin, na abertura do fórum. Ao lado do secretário de Estado, Antony Blinken, e de Samantha Power, diretora da Usaid, agência para o desenvolvimento internacional, ele equiparou o gigante asiático à Rússia ao afirmar que ambos ameaçam a estabilidade da região. "Testemunhamos a China expandir sua atuação no continente todo dia, e isso cria questões que podem ser desestabilizadoras, se é que já não o são", disse aos líderes africanos.

A preocupação também consta da Estratégia dos EUA para a África Subsaariana. O documento oficial, publicado em agosto, diz que a China "vê a região como um espaço importante para desafiar a ordem internacional, promover os próprios interesses comerciais e geopolíticos, minar a transparência e a abertura e enfraquecer as relações dos EUA com os povos e governos africanos".

Também cita a Rússia, que, para o governo Biden, "vê a região como um ambiente permissivo para empresas militares privadas e paraestatais, muitas vezes fomentando a instabilidade para benefício estratégico e financeiro".

Desde que assumiu o cargo, há dois anos, Biden foi apenas uma vez ao continente, em uma viagem-relâmpago de três horas ao Egito para participar da conferência do clima COP27.

Agora, o americano deve anunciar um apoio expresso para que a União Africana, fórum de 55 países do continente, ocupe um assento permanente no G20, grupo das maiores economias do mundo. Hoje, a única nação africana no grupo é a África do Sul. O governo do democrata também pretende anunciar a liberação de US$ 55 bilhões em ajuda ao continente nos próximos três anos.

"Não queremos que ninguém nos diga ‘não trabalhe com Fulano, mas apenas conosco’. Queremos fazer negócios com todo mundo", disse o presidente do Senegal, Macky Sall, também chefe da UA, ao New York Times.

Dos países que compõem o bloco, não foram convidados Sudão, Mali, Guiné e Burkina Fasso, por terem sido suspensos da instituição após golpes de Estado —além da Eritreia, país do Chifre da África cujas relações com Washington estão fragilizadas.

Mas na lista de presença constam personagens controversos. Há líderes de pelo menos três governos acusados de abusos de direitos humanos e crimes contra a humanidade: Abdul Fattah al-Sisi (Egito), Salva Kiir (Sudão do Sul) e Abiy Ahmed (Etiópia). Neste último, a guerra na região do Tigré já deixou cerca de 500 mil mortos, segundo estimativas.

O novo presidente do Quênia, William Ruto, também foi acusado pelo Tribunal Penal Internacional de crimes contra a humanidade ao liderar uma onda de violência no país que terminou com cerca de 1.500 mortos entre 2007 e 2008. Também deve participar o ditador do Chade, Mahamat Déby, que assumiu no ano passado após um golpe militar.

A Casa Branca disse que os convites mostram o compromisso "em manter conversas respeitosas mesmo onde há áreas de divergência", nas palavras de Molly Phee, secretária-assistente do Departamento de Estado para Assuntos da África.

Territórios que reivindicam reconhecimento internacional —como o Saara Ocidental e a Somalilândia— também ficaram de fora.

Paralelamente aos preparativos para o evento, Biden assinou nesta terça a lei que reconhece o direito do casamento entre pessoas do mesmo sexo, que havia sido aprovada pelo Congresso. Até aqui, esse tipo de união é garantido pela jurisprudência da Suprema Corte, e a transformação do direito em lei era considerada essencial para proteger o dispositivo. "Esta lei e o amor que ela defende desferem um golpe contra o ódio em todas as suas formas", disse o presidente americano.

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