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Dina Boluarte assume como 1ª mulher presidente do Peru após crise e destituição de Castillo

Ex-aliada de líder esquerdista é oficializada no cargo pelo Congresso após presidente fracassar em tentativa de golpe

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São Paulo

O Congresso do Peru oficializou nesta quarta-feira (7) Dina Boluarte como nova chefe de Estado do país, depois de destituir o agora ex-presidente Pedro Castillo, que liderou uma tentativa fracassada de golpe. A política, que era vice do populista, se torna a primeira mulher a presidir a nação sul-americana.

Ao ser empossada, Boluarte pediu uma trégua política aos parlamentares e disse que pretende instalar um governo de unidade nacional, com um "gabinete de todos os matizes". Segundo ela, sua primeira ação como presidente será combater a corrupção, com o apoio do Ministério Público e da Controladoria.

"A segurança do país não depende só da presidente, mas de todos nós", disse. "Cabe a nós conversar, dialogar, chegar a um acordo, algo tão simples quanto inviável nos últimos meses. Por isso convoco um amplo processo de diálogo entre todas as forças políticas representadas ou não no Congresso." Ela afirmou que cumprirá seu mandato até 28 de julho de 2026.

Presidente do Peru, Dina Boluarte, é empossada presidente do Peru, em Lima
Presidente do Peru, Dina Boluarte, é empossada presidente do Peru, em Lima - Cris Bouroncle - 7.dez.22/AFP

Boluarte se manteve fiel a Castillo até esta quarta, quando o acusou de "perpetrar a quebra da ordem constitucional" com a tentativa de dissolver o Parlamento e antecipar eleições. "É um golpe que agrava a crise política e institucional, que a sociedade peruana terá que superar com estrito cumprimento da lei", escreveu em sua conta no Twitter, sendo uma das primeiras lideranças a repudiar a medida do populista.

No discurso ao Congresso, ela voltou a atacar a medida de Castillo.

As frases iniciais da agora presidente do país também podem ser interpretadas como indiretas ao antecessor. O político destituído é alvo de ao menos seis investigações do Ministério Público, uma das quais o acusa de liderar uma organização criminosa em seu gabinete. Os promotores dizem que Castillo demitiu o ministro do Interior, em julho, com o objetivo de suspender uma apuração contra aliados.

A nova presidente foi oficializada no cargo após o Parlamento peruano ignorar a decisão de Castillo e aprovar a moção de vacância do político. O mecanismo, uma espécie de impeachment, foi aprovado com 101 votos a favor, 6 contra e 10 abstenções –eram necessários 87 votos para a aprovação.

O resultado, que refletiu o paroxismo a que chegou o desgaste crescente do presidente, foi bem superior ao das últimas duas votações que tentaram tirar o populista do poder sob acusações de corrupção e da chamada incapacidade moral.

Após a destituição de Castillo, o Departamento de Estado dos EUA reconheceu Boluarte como nova presidente peruana. "Elogiamos as instituições e autoridades do Peru por garantir a estabilidade democrática. Continuaremos a apoiar o país sob o governo de unidade que a presidente Boluarte prometeu formar", informou em comunicado.

No Brasil, a nova presidente também foi reconhecida pelo Itamaraty. Segundo o governo Bolsonaro, Castillo adotou ações "incompatíveis com o arcabouço normativo constitucional" do país. Já o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que a destituição e a prisão do agora ex-mandatário peruano se deram "dentro do marco constitucional". O petista disse ainda esperar que Boluarte tenha êxito "em sua tarefa de reconciliar o país e conduzi-lo no caminho do desenvolvimento e da paz social".

Dina Boluarte, 60, formou-se advogada na Universidade de San Martín de Porres e se especializou em direito administrativo e gestão pública, direito constitucional e direitos humanos. Antes de entrar para a política, comandou o Registro Nacional de Identificação e Estado Civil (Reniec), órgão responsável por emitir as carteiras de identidade dos peruanos.

Como seu companheiro de chapa de 2021, ela chegou ao posto de vice com parca experiência. Nas eleições municipais de 2018, havia sido candidata a prefeita de Surquillo, mas terminou em nono lugar. Após a vitória de Castillo, além de vice ela foi nomeada ministra do Desenvolvimento e Inclusão Social. No mês passado, porém, abandonou a pasta depois da nomeação de Betssy Chávez como primeira-ministra —decisão que marcou seu afastamento do governo.

Boluarte era filiada ao Perú Libre, partido de esquerda do qual Castillo também fazia parte quando foi eleito, em julho de 2021. Os dois, porém, deixaram a legenda sob ataques de correligionários.

A agora presidente foi expulsa em janeiro depois de dizer que nunca se identificou com a ideologia do grupo; Castillo saiu em junho, acusado de não ter colocado em prática o programa da legenda e de ter descumprido promessas eleitorais. A direção do Perú Libre afirma que ele vinha implementando um "programa neoliberal perdedor".

Nesta quarta, após a tentativa fracassada de destituir o Parlamento, Castillo foi detido pela Polícia Federal peruana em Lima, depois de deixar o palácio de governo. Segundo a imprensa local, ele e seus familiares foram vistos reunindo pertences e malas antes da detenção —em possível indicação de que ele poderia tentar deixar a capital.

Boluarte terá como desafio maior pacificar a atmosfera política peruana, depois de 17 meses de uma instabilidade profunda sob Castillo —rara mesmo para os padrões atribulados do país. A nova presidente é a sétima pessoa no cargo em pouco mais de seis anos.

Pedro Pablo Kuczynski, conhecido como PPK, renunciou em março de 2018 acusando a oposição de criar um "clima ingovernável". Na mesma linha, seu sucessor, Martín Vizcarra, dissolveu o Parlamento depois de os congressistas rejeitarem dois votos de confiança, mas acabou destituído do cargo no ano seguinte.

Os dois afastamentos seguidos não desaceleraram a crise, e o congressista Manuel Merino assumiu por só seis dias, renunciando depois de episódios de violência disparados na esteira da crise institucional. O deputado Francisco Sagasti, então, assumiu o governo interinamente e conseguiu permanecer no cargo até a posse de Castillo.

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