Descrição de chapéu China

Entenda o que muda com as novas regras que relaxam a Covid zero na China

Edição da newsletter China, terra do meio explica consequências para o país e para o resto do mundo

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Igor Patrick
Washington

Esta é a edição da newsletter China, terra do meio. Quer recebê-la todas as sextas no seu email? Inscreva-se abaixo.

Depois de quase três anos, a China enfim dá sinais de que iniciou os preparativos para o fim da polêmica política de Covid zero. Após protestos em dezenas de cidades do país, a Comissão Nacional de Saúde emitiu novos regulamentos para o controle do patógeno e colocou fim às medidas mais duras que caracterizaram a longa batalha chinesa contra o coronavírus:

  • Os chineses agora não precisam mais fazer testes a cada 48 horas para entrar em lugares fechados (com exceções de casas de repouso, orfanatos, hospitais, escolas primárias e secundárias);
  • A exigência de um teste PCR ao chegar a algumas cidades como Xangai e Pequim também foi abolida;
  • Assintomáticos e infectados que apresentarem sintomas leves não serão mais levados a instalações de quarentena centralizada e poderão se isolar em casa;
Trabalhadores chineses removem grades de uma área residencial que reabriu após um lockdown instaurado devido às restrições de Covid-19 em Pequim - Noel Celis 9.dez.2022/AFP
  • Autoridades locais não poderão mais decretar lockdown de cidades ou distritos inteiros. Os isolamentos serão decididos caso a caso e devem se restringir a unidades residenciais/condomínios com infecções confirmadas;
  • Os famigerados códigos de saúde deixarão de ser conferidos, exceto em asilos e hospitais. Essa é uma das principais mudanças, já que, desde 2020, os chineses eram obrigados a vincular suas identidades a um sistema que rastreia todos os seus movimentos e armazena dados de testes ou vacinação. Antes, apenas aqueles considerados de baixo risco (código verde) podiam circular, o que levou dezenas de milhares de pessoas para a quarentena apenas por morar ou se aproximar de pontos classificados de áreas de risco.

Como esperado, a máquina de propaganda chinesa já começou a se movimentar para reduzir as preocupações da população. A agência de notícias estatal Xinhua publicou um relatório na segunda (5) segundo o qual "o período mais difícil já passou" e "a patogenicidade da variante ômicron está enfraquecendo".

A principal articuladora da Covid zero na China, Sun Chunlan, reconheceu publicamente que, dados os menores riscos de contaminação pela doença, é chegada a hora de as autoridades sanitárias "focarem novas tarefas". Não há, porém, nenhuma previsão de quando as fronteiras serão totalmente reabertas para passageiros do exterior, e a quarentena de oito dias após chegar à China continua sendo obrigatória.

Por que importa: A batalha chinesa contra a avalanche de casos de Covid está apenas começando –e não deve ser simples.

  • Nesta quinta (8), o ex-diretor do Centro de Controle e Prevenção de Doenças da China, Feng Zijian admitiu em uma palestra na Universidade Tsinghua que "cerca de 60% da população pode ser infectada na primeira onda, antes que a curva se achate". Isso significa 847 milhões de pessoas com Covid;
  • Feng também admitiu que o país será obrigado a reabrir antes que governos locais atinjam metas robustas de vacinação entre os mais idosos, de modo a garantir alguma proteção por meio da imunidade de rebanho. O plano deve levar a um número considerável de mortes;
  • Não espere uma recuperação imediata após a reabertura. O volume significativo de pessoas doentes vai impactar cadeias de produção em todo o país. Com fábricas e portos parados, a China deve experimentar um declínio acentuado no crescimento econômico, com severas consequências para índices de inflação no planeta (já que produzirá menos do que a demanda mundial);
  • O mundo terá de acompanhar como o coronavírus vai se comportar ao infectar tanta gente ao mesmo tempo. Especialistas ouvidos pelo Wall Street Journal falam em "um bilhão de possibilidades para adaptação", o que pode levar a variantes ainda mais transmissíveis e resistentes à vacina.

O que também importa

A ByteDance, dona do aplicativo chinês TikTok, está sendo processada pelo estado de Indiana, nos EUA. O procurador-geral local, o republicano Todd Rokita, acusa a empresa de coletar e transferir dados dos usuários para a China e de expor crianças americanas a conteúdo adulto.

Segundo o New York Times, Rokita pediu uma medida cautelar de emergência e a imposição de penalidades civis contra o aplicativo.

Na semana passada, o estado de Maryland também adotou medidas contra o TikTok, proibindo que a plataforma seja instalada em celulares oficiais. As ações antecipam discussões no Congresso americano, em que deputados e senadores de ambos os partidos consideram impor restrições à empresa em 2023. A ByteDance não quis se manifestar sobre as acusações.

O orçamento do Departamento de Defesa dos EUA para 2023 pode incluir ajuda militar a Taiwan de mais de US$ 10 bilhões (R$ 52,2 bilhões) em cinco anos. O plano precisa da aprovação do Congresso americano.

  • US$ 2 bilhões (R$ 10,4 bilhões) por ano seriam repassados via programa que fornece subsídios e empréstimos a outros países para comprar equipamentos, serviços e treinamento militar dos EUA;
  • Em outra frente, US$ 1 bilhão (R$ 5,2 bilhões) iria anualmente em "assistência emergencial de defesa" à ilha.

O Pentágono justifica o gasto para impedir que a China "tome o controle, neutralize ou torne ineficaz a liderança civil e de defesa" da região. Se a ajuda for aprovada, será a primeira venda direta de armas pelos EUA a Taiwan.

O projeto prevê ainda outros planos polêmicos com menor chance de sucesso, como transformar a ilha em "aliado preferencial extra-Otan", renomear a missão americana em Taiwan para "embaixada" (o que indicaria reconhecimento de soberania) e a previsão de sanções contra líderes chineses em caso de invasão.

Pequim ainda não reagiu ao plano, que deve ser levado para votação nos EUA em janeiro.

Fique de olho

Xi Jinping resolveu encerrar a agenda de compromissos internacionais com uma viagem à Arábia Saudita. O líder chinês chegou a Riad com a esperança de aprofundar a parceria com o país, maior exportador de petróleo do mundo. De acordo com a chancelaria chinesa, Xi participará da primeira edição da Cúpula Sino-Árabe e se encontrou com o príncipe-herdeiro, Mohammad bin Salman.

Por que importa: é a primeira visita de Xi aos sauditas desde 2016, motivado pelo momento geopolítico no Oriente Médio.

  • A China quer aproveitar as estremecidas relações entre Riad e Washington desde a execução do jornalista Jamal Khashoggi, que teria sido ordenada pelo próprio MbS, para ampliar a relação comercial com a Arábia Saudita;
  • O encontro deve terminar com a assinatura de uma parceria estratégia e a consolidação de acordos na ordem de US$ 27 bilhões em várias áreas de cooperação.
O líder chinês Xi Jinping em encontro com o rei Salman bin Abdulaziz Al Saud na Arábia Saudita - Huang Jingwen 8.dez.2022/Xinhua

Para ir a fundo

  • O Hospital Sírio-Libanês realiza na próxima quarta (14) o primeiro Fórum Brasil-China de Saúde. O evento será virtual e contará com autoridades sanitárias de ambos os países para explorar possibilidades de negócios e cooperação. Interessados devem se inscrever por meio do e-mail forumbrasilchinasaude@puyiglobal.com (gratuito, em português e chinês)
  • Estão abertas até o dia 18 de janeiro o envio de papers nas áreas de internacionalização do renminbi e investimentos no Brics do Congresso da Associação Internacional de Ciências Políticas. Os painéis, organizados por professores da USP e da FGV, acontecem em Buenos Aires no ano que vem (gratuito, em inglês)
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.