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Quase 1 milhão de mortes. É esse o número esperado na China após a recente flexibilização das normas de controle da pandemia. A estatística foi apresentada pela Faculdade de Medicina da Universidade de Hong Kong, que considerou a baixa oferta de leitos de UTI e as disparidades entre províncias para atender os casos graves da Covid.
Segundo os pesquisadores, se a China continental reabrir totalmente até janeiro do ano que vem, 965 mil pessoas devem morrer. Para chegar ao número, um programa de computador simulou vários cenários levando em consideração a experiência de Hong Kong, onde um surto de coronavírus infectou ao menos metade da cidade no início do ano.
O relatório apresenta saídas para minimizar mortes e proteger os mais vulneráveis. Segundo Gabriel Leung, referência em estudos epidêmicos no território e um dos professores que lideraram o estudo, a cobertura vacinal de 85% da população com quarta dose (hoje disponível apenas para maiores de 60 anos) e a disponibilização de antivirais para pelo menos 60% dos infectados poderia reduzir a mortalidade entre 26% e 35%.
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"Uma saída mais segura da Covid zero dinâmica pode ser alcançada adotando uma abordagem multifacetada que inclui vacinação, tratamento antiviral, saúde pública e medidas sociais e reabertura sequencial", defende o estudo.
Os pesquisadores também defendem que o governo implemente um amplo programa de vacinação até um mês antes da reabertura, concluindo-o em até 60 dias. Além disso, "um grau moderado de medidas para promover o distanciamento social" (isolamentos pontuais e restrição à circulação de pessoas) poderia reduzir a transmissão do vírus entre 47% e 69%.
Como contei na semana passada, a China caminha a passos largos para encerrar a política de Covid zero, desabilitando plataformas de rastreamento de contatos e pondo fim à obrigatoriedade de testes a cada 48 ou 24 horas. A flexibilização acontece após atos em todo o país pelo fim dos lockdowns e a criação de uma tática para coexistência com o vírus.
Por que importa: confiante de que conseguiria reabrir o país quando o índice de vacinação mundial estivesse alto e o coronavírus perdesse força, Pequim não mapeou o cenário em que variantes mais transmissíveis fariam ser impossível controlar totalmente a doença e sacrificou o crescimento econômico e a estabilidade em prol de uma política de contenção da Covid.
O número alto de mortes projetado com a reabertura, porém, assusta e deve causar desgaste político ao Partido Comunista Chinês. Será necessário acompanhar com atenção como os líderes do país vão reagir à situação, após anos de propaganda que mostravam a China como superior ao Ocidente pelo cuidado que teve em controlar a doença.
O que também importa
Um dos principais epidemiologistas da China previu nesta semana que o país deve progredir para o "novo normal" pós-pandêmico já em meados do ano que vem.
Segundo Zhong Nanshan, pneumologista que descobriu o vírus da Sars em 2001 e hoje é um dos principais conselheiros das autoridades sanitárias chinesas, doses de reforço podem impedir um crescimento descontrolado da Covid, e a estratégia será priorizada às vésperas do Ano-Novo Chinês no ano que vem (programado para 22 de janeiro).
"Perguntaram-me quando nossas vidas podem voltar para onde estávamos em 2019. Na primeira metade do ano que vem, depois de março. Não posso garantir, mas a tendência diz que deve ser nessa época", disse Zhong, citado pelo jornal South China Morning Post.
A projeção ressoa as falas de Zhang Wenhong, que, ouvido na semana passada pelo mesmo jornal, disse que Xangai atingirá o pico das infecções pela Covid até janeiro e depois levará entre três e seis meses para um cenário pós-pandêmico.
Um tribunal em Hong Kong adiou para setembro de 2023 o julgamento de Jimmy Lai, fundador do jornal pró-democracia Apple Daily. Ele foi preso em 2021 sob acusações de sedição e conluio com forças estrangeiras para desestabilizar o governo na cidade.
Lai quer ser defendido pelo famoso advogado britânico Timothy Owen, algo que era comum no território, uma ex-colônia do Reino Unido. O governo alega agora, contudo, que permitir estrangeiros em julgamentos de segurança nacional pode colocar em risco o vazamento de "segredos de Estado". O caso então precisará ser avaliado pelo Legislativo em Pequim.
Lai já tinha sido condenado a cinco anos e nove meses de prisão no último sábado por outras acusações. O magnata foi considerado culpado de ter quebrado o contrato de aluguel da sede do jornal ao arrendar parte do prédio a uma empresa de consultoria.
Fique de olho
A visita de Xi Jinping à Arábia Saudita na semana passada selou US$ 50 bilhões em investimentos chineses no país do Oriente Médio. Xi também elevou as relações sino-sauditas ao nível de "parceria estratégica", dizendo em discurso que "a China vê a Arábia Saudita como uma força importante no mundo multipolar e atribui grande importância ao desenvolvimento de laços mais fortes" com o país.
Por que importa: Além da importância estratégica de aprofundar a presença chinesa no Oriente Médio, região historicamente sob as esferas americana e europeia, os acordos têm um segundo motivo importante: a intenção da China em internacionalizar o yuan.
Ele deixou claro em seu discurso na Cúpula do Conselho de Cooperação China-Golfo que a Bolsa de Petróleo e Gás Natural de Xangai seria utilizada para facilitar as negociações em yuan. Lançada em 2016, a bolsa foi criada para ampliar transações no mercado energético.
Contudo, segundo a revista Caixin, a ambição chinesa deve esbarrar em um antigo acordo entre Riad e Washington que proíbe os sauditas de vender petróleo em outra moeda que não o dólar e obriga o país a manter parte das suas reservas em títulos do Tesouro.
Para ir a fundo
O Conselho Empresarial Brasil-China lançou nesta quinta (15) um documento em que analisa as transições políticas nos dois países e as oportunidades econômicas advindas do momento para o Brasil. O texto na íntegra pode ser acessado aqui. (gratuito, em português e chinês)
O Centro Brasileiro de Relações Internacionais publicou um extenso artigo da professora Karin Vazquez, que leciona na Universidade Fudan, em Xangai. Ela analisa oportunidades para o desenvolvimento sustentável no Brasil e explora opções de cooperação dentro do Brics. (gratuito, em português)
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