Descrição de chapéu Guerra da Ucrânia Rússia

Ucrânia ataca bases de bombardeiros nucleares na Rússia; veja vídeo

Ao menos três pessoas morreram e aviões foram danificados no que parece ser um ataque inédito

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São Paulo

A Ucrânia atacou duas bases de bombardeiros estratégicos russos usados em ataques contra seu território poucas horas antes de Moscou lançar uma nova onda de mísseis de cruzeiro contra a infraestrutura civil do vizinho invadido há nove meses.

É uma ação inédita, que atingiu uma base a meros 180 km de Moscou. Os russos dizem ter interceptado "drones de origem soviética em baixa altitude" direcionados contra os aeródromos de Engels-2 e de Diaguilevo, mas que destroços mataram três pessoas e atingiram ao menos dois bombardeiros.

Os detalhes do incidente são fragmentários, baseados no cruzamento de dados da mídia estatal, blogueiros independentes e relatos de rede social.

Bombardeiro estratégico Tu-160, cuja base de operações Engels-2 foi atingida por explosões
Bombardeiro estratégico Tu-160, cuja base de operações Engels-2 foi atingida por explosões - Vassili Fedosenko - 3.jul.19/Reuters

Diaguilevo, em Riazan, e Engels-2, em Saratov, sediam bombardeiros estratégicos Tu-22 e Tu-95, e a segunda é o centro de operação dos gigantes supersônicos Tu-160. Engels-2 tem um bunker com armas nucleares para seus aviões, o mais importante da Rússia.

Kiev não comentou, como é usual, o caso. O único equipamento soviético em seu arsenal que teria alcance para atingir os locais sem ser lançado de dentro da Rússia é o Tu-141, um drone rudimentar que pode voar por 1.000 km.

Em Diaguilevo, segundo especialistas militares independentes, ao menos quatro aeronaves foram danificadas —a base também tem alguns dos preciosos aviões-tanque Il-78, usados para reabastecimento aéreo nas ações contra a Ucrânia.

Psicologicamente, é um grande golpe: a base fica perto da capital e a 570 km de Kharkiv, a cidade ucraniana de grande porte mais próxima. Já Saratov fica a mais de 500 km de Kharkiv, e segundo blogueiros militares teve dois aviões danificados.

Antes, houve ataques na Crimeia ocupada e na região de Belgorodo, ambas vizinhas da Ucrânia.

Um vídeo em rede social indica o uso do Tu-141 ou de um míssil inaudito das forças ucranianas. Gravado por uma câmera de segurança de uma casa a cerca de 6 km da base de Engels-2, ele traz o som que lembra muito o de um míssil, seguido da explosão.

O Ministério da Defesa da Ucrânia não comentou, como também não o fez quando houve ataques bem-sucedidos a uma base aérea da Frota do Mar Negro na Crimeia ou à ponte que liga a península anexada em 2014 à Rússia continental, no começo de outubro.

De forma simbólica, o presidente Vladimir Putin dirigiu pessoalmente uma Mercedes ao longo da ponte nesta segunda. "Estamos dirigindo no lado direito. O lado esquerdo está, pelo que entendo, em condições de uso, mas ainda precisa ser trazido para um estado ideal", disse, ao lado do vice-premiê Marata Khusnullin.

Depois dessas ações mais ousadas, a resposta padrão dos russos foi retaliação contra a infraestrutura civil. Segundo a inteligência ucraniana, um grande ataque já estava sendo planejado para esta segunda-feira, e segundo Moscou o ataque visava dissuadir os russos.

Isso não foi alcançado, segundo Kiev, que foi golpeada por uma grande quantidade de mísseis de cruzeiro lançados pelos bombardeiros baseados exatamente nas duas unidades militares atingidas. Ao menos 70 foram disparados, e a Ucrânia diz ter derrubado quase todos. Ainda assim o presidente Volodimir Zelenski falou em ao menos quatro mortos de seu lado.

Imagens de satélite feitas ao longo da semana passada mostravam cerca de 24 Tu-95 e Tu-160 lado a lado em Engels-2, no que parecia ser a preparação para um ataque maciço. Ambos os aparelhos podem empregar armas nucleares, mas no conflito ucraniano têm lançado mísseis de cruzeiro sem entrar no espaço aéreo do vizinho.

Segundo os relatos iniciais, Kiev e Odessa foram particularmente atingidas, com estações de energia e de distribuição de água como alvo. Ao menos duas pessoas morreram, disse o governo.

A campanha contra a infraestrutura civil virou sistemática a partir de outubro, justamente após o ataque à ponte da Crimeia, e está sendo acusada na ONU de crime de guerra: o inverno já se faz presente na Ucrânia, com temperaturas na capital em -5°C nesta segunda. Sem energia —as autoridades de Kiev falam em 40% da cidade com abastecimento comprometido—, o aquecimento fica muito mais difícil.

A escalada militar ocorre no mesmo dia em que os países ricos do G7, a União Europeia e a Austrália decidiram impor um teto ao preço do petróleo russo. A medida parece largamente inócua, já que o produto é vendido a menos do que o valor fixado de US$ 60, mas Moscou tem prometido retaliar.

Politicamente, a retórica voltou a subir após uma semana em que Putin e Joe Biden trocaram sinalizações públicas de que poderiam se sentar à mesa para tentar colocar fim ao conflito na Ucrânia, visto na Rússia como um embate direto com o Ocidente, que mantém o fluxo de armamentos para Kiev.

O chanceler russo, Serguei Lavrov, afirmou que a Otan, a aliança militar ocidental, é "uma ameaça séria" a seu país e que suas posições na guerra arriscam "um choque direto entre potências nucleares, com consequências catastróficas".

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