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Família de Pedro Castillo se exila no México em meio a espiral de crises no Peru

Lima expulsa diplomata mexicano após manifestações de AMLO em defesa de ex-líder peruano que tentou golpe de Estado

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Cidade do México | Reuters

A família de Pedro Castillo, ex-presidente do Peru deposto após uma tentativa fracassada de golpe de Estado, chegou nesta quarta (21) ao México, onde receberá asilo político. O anúncio foi feito por Martín Borrego, diretor para a América do Sul do Ministério de Relações Exteriores mexicano, em uma rede social.

Borrego publicou uma foto ao lado da mulher de Castillo, Lilia Paredes, e seus dois filhos, Arnold, 16, e Alondra, 10. "Orgulho da política externa que continua salvando vidas na América Latina", escreveu ele, afirmando ainda que a medida é um exemplo da tradição diplomática de seu país. Yenifer Paredes, 26, irmã caçula da ex-primeira dama que foi criada como filha pelo casal e atualmente enfrenta acusações de corrupção na Justiça, não aparece na imagem.

homem de terno cumprimenta uma mulher, uma menina e um menino adolescente em um cômodo com uma grande pintura no pano de fundo
Martín Borrego Llorente, diplomata mexicano e diretor do ministério para a América do Sul, cumprimenta a família de Pedro Castillo, presidente deposto do Peru, na Cidade do México - @mborregol/Twitter/Reprodução

A partida da família do ex-presidente para a nação da América do Norte já havia sido anunciada pela sucessora de Castillo na Presidência, Dina Boluarte, em uma entrevista televisiva no domingo (18). Na ocasião, ela afirmou que a investigação que a Receita Federal conduz a respeito de Lilia Paredes, suspeita de coordenar uma organização criminal ao lado do marido, não impedia a sua ida.

Castillo está preso preventivamente, acusado de rebelião e conspiração após desrespeitar preceitos da Carta Magna peruana e tentar dissolver o Legislativo e concentrar poderes no Executivo. O governo do mexicano Andrés Manuel López Obrador, conhecido como AMLO, ofereceu a ele asilo político já no dia seguinte à deposição.

Desde então, Obrador tem feito uma série de declarações públicas em defesa do ex-líder peruano —contestando, desse modo, a legitimidade da gestão de Dina, que era vice de Castillo e foi empossada pelo Parlamento após o seu afastamento.

Assim que a presidente assumiu, AMLO disse que esperaria alguns dias para reconhecer a sua posse, e declarou que Castillo vinha sendo vítima de assédio desde a sua vitória nas eleições. Uma semana depois, o México assinou, junto a Argentina, Bolívia e Colômbia, uma carta que exortava o Peru a proteger os direitos humanos e legais de Castillo —ambígua, a nota não pedia, porém, sua restituição ao cargo.

Dina reagiu imediatamente às falas de AMLO e convocou o embaixador do México em Lima, Pablo Monroy, à chancelaria peruana —considerado um ato de reprimenda na prática diplomática. Na terça (20), sua gestão deu um recado ainda mais duro ao México, e declarou o embaixador do país "persona non grata" no Peru, ordenando que ele deixe o país em 72 horas.

Obrador, por sua vez, afirmou que não pretende romper relações diplomáticas com a nação andina. "Não expulsaremos ninguém", disse em um encontro com a imprensa na quarta. O mexicano também manifestou o desejo de dialogar com seu homônimo americano, Joe Biden, sobre o papel que os EUA exercem na América Latina, incluindo a deposição de Castillo. A embaixadora dos EUA em Lima, Lisa Kenna, foi uma das primeiras representantes da diplomacia internacional a rechaçar a tentativa de golpe.

Dina vem lidando com um país em convulsão desde que assumiu. Apoiadores de Castillo saíram às ruas para exigir sua renúncia e a libertação do ex-presidente, além da antecipação das eleições gerais, a dissolução do Congresso e a criação de uma Assembleia Constituinte.

A escala e a violência dos atos, que fecharam aeroportos e bloquearam rodovias pelo território, levaram a presidente a decretar estado de emergência por 30 dias. O Ministério da Saúde peruano registrou 26 mortes nos enfrentamentos dos manifestantes com as forças de segurança até agora, a maior parte delas na região ao sul dos Andes peruanos, onde os protestos foram mais intensos e local em que se concentrou o eleitorado de Castillo nas eleições passadas.

Esta semana, Dina conseguiu aprovar no Congresso um de seus principais planos para tentar apaziguar a população —a antecipação das eleições gerais do país de 2026 para 2024. Um projeto semelhante, que propunha que o pleito ocorresse já no ano que vem, havia sido rechaçado pelo Parlamento na semana anterior.

A presidente também anunciou mudanças em seu gabinete depois que dois ministros renunciaram a seus cargos após mortes de manifestantes. Na quarta (20), ela divulgou o nome de seu novo primeiro-ministro, o advogado Alberto Otarola, assim como os dos novos chefes das pastas da Defesa e do Interior. Foram mantidos no governo Alex Contreras, à frente do ministério da Economia, e Oscar Vera, da pasta de Minas e Energia.

Mulheres agora ocupam metade das pastas da gestão de Dina, a primeira dirigente feminina do Peru.

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