Maria Laura da Rocha deve ser secretária-geral do Itamaraty, 1ª mulher no cargo

Diplomatas queriam uma chanceler, mas ficaram com o segundo maior cargo; embaixadora já cantou em disco com Chet Baker

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São Paulo

Diante da pressão de diplomatas mulheres e de setores do PT, a embaixadora Maria Laura da Rocha deve ser nomeada secretária-geral do Itamaraty, o segundo cargo mais alto na hierarquia do ministério.

Havia a expectativa da nomeação de uma chanceler pela primeira vez na história brasileira, mas o nome de Mauro Vieira foi anunciado nesta sexta-feira (9) pelo presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), no que foi visto como uma vitória da estabilidade e da velha guarda.

Vieira é próximo do ex-chanceler Celso Amorim, um dos principais assessores de Lula na área internacional, e se aproximou de quadros do PT com atitudes consideradas solidárias na época em que o político estava preso em Curitiba.

Maria Laura da Rocha durante sabatina na Comissão de Relações Exteriores, em Brasília
Maria Laura da Rocha durante sabatina na Comissão de Relações Exteriores, em Brasília - Edilson Rodrigues - 11.nov.22/Agência Senado

Maria Laura já voltou a Bucareste, onde hoje serve como embaixadora do Brasil na Romênia, para preparar a mudança de retorno para Brasília. Caso a nomeação se confirme, ela será a primeira secretária-geral no Ministério das Relações Exteriores.

Carioca, a diplomata é formada em direito pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e vem de uma família de classe média. Embora seja negra, não é considerada uma ativista do movimento racial. Descrita como muito ética e republicana, é casada com o produtor musical italiano Sandro Melaranci e tem duas filhas.

Fã de MPB, Maria Laura, 67, chegou a cantar no álbum "Rio" ao lado do trompetista Chet Baker, em 1983. Foi na época em que conheceu seu marido, que também participou da gravação do disco.

encarte de disco com fotografia em preto e branco
Maria Laura entre os músicos que participaram do álbum 'Rio', de Chet Baker, Roberto Gatto e Rique Pantoya, de 1983 - Reprodução

Quem trabalhou com a diplomata afirma que ela sabe motivar equipes, descentraliza tarefas e assume responsabilidade por erros. Ela foi chefe de gabinete de Amorim na pasta e serviu nas representações do país em Roma, Moscou, Paris e Budapeste, além de na Unesco e na FAO, órgãos das Nações Unidas para educação e cultura e para alimentos, respectivamente.

Houve críticas da ala mais progressista do Itamaraty devido ao fato de que Vieira, quando foi chanceler pela primeira vez, promoveu poucas mulheres na hierarquia interna e, normalmente, não nomeava diplomatas. Na época em que ocupou o cargo, no governo de Dilma Rousseff (PT), ele chegou a ter um gabinete composto 100% por homens.

O presidente eleito Lula abriu a entrevista coletiva desta sexta, na qual foram feitos os anúncios dos titulares de cinco pastas do futuro governo, afirmando que nos próximos eventos do tipo haverá mais mulheres e negros sendo nomeados.

No caso das Relações Exteriores, o plano é escolher diplomatas mulheres para assumir outras secretarias. O Itamaraty enfrenta uma pressão para elevar sua diversidade, e a turma mais recente do Instituto Rio Branco, no qual começa a carreira de diplomata no Brasil, teve neste ano a maior participação feminina da história: dos 36 admitidos, 15 são mulheres.

Entre as cotadas, estão as diplomatas Gisela Padovan, cônsul em Madri; Glivania Oliveira, diretora do Instituto Rio Branco; Irene Vida Gala, que está no escritório do ministério em São Paulo; e Eugênia Barthelmess, embaixadora em Singapura.

Outro plano é indicar, pela primeira vez, uma mulher para a chefia das embaixadas em Washington, Londres ou Buenos Aires, postos considerados cruciais para a política externa do Brasil —que deve ter, sob Lula, um peso maior, para atender a sua promessa de fazer o Brasil voltar ao palco internacional. Em novembro, o PT conseguiu costurar um acordo com a liderança do Senado para barrar indicações de Jair Bolsonaro (PL) às missões na Argentina, na Itália e no Vaticano, também vistos como postos-chave.

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