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Nova presidente do Peru nomeia gabinete e tenta aliviar pressão de protestos

Dina Boluarte vinha sendo criticada por demora em escolher ministros; equipe é mais técnica e tem 50% de mulheres

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Lima | AFP e Reuters

Três dias depois de ser empossada pelo Parlamento, a presidente do Peru, Dina Boluarte, anunciou neste sábado (10) a formação de seu gabinete. A política, que assumiu no momento mais agudo de uma crise política crônica, vinha sendo pressionada para fazer as nomeações.

A expectativa era grande porque a equipe de ministros permitirá sentir o pulso da orientação do novo governo, estimando as possibilidades de que o país viva enfim algum período de estabilidade. Desde a quarta-feira (7), milhares de manifestantes têm saído às ruas para protestar contra a destituição do populista Pedro Castillo, que tentou dar um golpe de Estado e acabou preso.

A presidente do Peru, Dina Boluarte, ao centro, com seus ministros recém-nomeados, em Lima - Sebastián Castañeda - 10.dez.22/Reuters

Dina indicou como primeiro-ministro Pedro Miguel Angulo Arana, ex-reitor do Colégio de Advogados de Lima e ex-procurador especialista em combate à corrupção —ao ser oficializada presidente, a nova chefe do Executivo disse que o tema seria a prioridade de seu governo. Angulo tentou concorrer à Presidência em 2021, mas sua candidatura foi cassada pela Justiça por questões burocráticas.

Pesam contra ele acusações de assédio sexual quando ainda era procurador. O episódio fez com que ele renunciasse ao cargo, em 2011.

A nomeação evidencia o distanciamento que Dina quer marcar de Castillo. Nas redes sociais, Angulo fez críticas ao governo do populista e, ao comentar a tentativa de golpe de quarta-feira, afirmou que o agora ex-presidente não acredita na democracia. Castillo é alvo de investigações do Ministério Público, que o acusa de liderar uma organização criminosa no Executivo.

A presidente também anunciou Alex Contreras nas Finanças. Apesar de ele ter sido número 2 da pasta na gestão de Castillo, mais identificado com a esquerda, a agência de notícias Reuters afirmou que espera-se dele ações mais pró-mercado. Entre outros postos-chave, Ana Cecilia Gervasi Díaz ocupará a chancelaria, César Cervantes Cárdenas o Interior, Óscar Vera Gargurevich as Minas e Energia e Alberto Otárola a Defesa. Este último já foi advogado de Dina e ministro no governo Ollanta Humala (2011-16).

No gabinete de perfil mais técnico, metade dos 16 nomes anunciados é mulher —não foram divulgados os titulares das pastas de Trabalho e Transportes.

Dina pediu calma e diálogo à classe política do país. "Trabalhei muito para formar um gabinete de unidade e consolidação democrática, que atenda às necessidades do país", disse. Ela ainda destacou que seu governo não deve ser interpretado como um "cheque em branco", mas como um acordo para sair da crise.

Na quarta, ela já havia pedido trégua política ao Parlamento, afirmando que sua gestão seria de "unidade nacional". O êxito político da presidente será testado nos próximos dias, quando o novo gabinete terá que receber um voto de confiança no Legislativo, em meio ao clima quente entre os Poderes.

Castillo passou por esse processo ao menos quatro vezes e obteve a aprovação, mas sempre em sessões que se tornaram verdadeiras maratonas —depois das quais viu atritos com os congressistas derrubarem alguns ministros.

Mais cedo neste sábado, o chefe do Congresso, José Williams, havia pedido expressamente para que a nova presidente nomeasse logo seu gabinete, como forma de pôr fim aos protestos que pedem a antecipação das eleições —hipótese que, de resto, Dina disse não negar.

O Parlamento unicameral, que também seria renovado no pleito, tem avaliação pior que a que Castillo apresentou antes de ser destituído. Pesquisas do mês passado indicam que 86% dos peruanos desaprovam o Legislativo, principal alvo dos atos disparados pela moção de vacância contra o populista.

Neste sábado, estudantes, trabalhadores e partidos de esquerda haviam convocado novos protestos para o final da tarde, quando acabassem os jogos das quartas de final da Copa do Mundo. Bloqueios rodoviários continuaram pelo terceiro dia em regiões do sul, onde Castillo tem maior apoio.

Na sexta, manifestantes chegaram a enfrentar a polícia em Lima tentando chegar à sede do Congresso. Agentes usaram bombas de gás lacrimogêneo para dispersar a mobilização, que terminou com ao menos sete detidos e alguns feridos de ambos os lados, segundo a presidente. Os últimos acontecimentos levaram a polícia a suspender férias e licenças de seus agentes.

Na quarta, Castillo promoveu uma tentativa de golpe de Estado, mandando dissolver o Congresso e decretando um estado de exceção. O movimento fracassou depois que o Parlamento ignorou as ordens e destituiu o político com uma moção de vacância —a terceira que foi analisada na Casa em 16 meses de mandato.

Preso, o ex-presidente foi transferido para a sede da Direção de Operações Especiais (Diroes) —mesmo centro em que está Alberto Fujimori, ditador que comandou o Peru de 1990 a 2000. A Justiça decretou prisão preventiva de sete dias para o politico, acusado dos crimes de rebelião e conspiração, que têm penas previstas de 10 a 20 anos de prisão.

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