Oposição na Venezuela deixa de reconhecer Juan Guaidó como presidente interino

Político se declarou líder do país em 2019, após eleições contestadas, e foi reconhecido por países como EUA e Brasil

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Caracas | AFP

Partidos da oposição na Venezuela decidiram nesta sexta-feira (30) deixar de reconhecer Juan Guaidó como presidente interino. O ex-parlamentar se declarou líder do país em 2019, após o ditador Nicolás Maduro ser alçado a um terceiro mandato consecutivo em eleições cujos resultados são contestados.

A decisão desta sexta foi aprovada por 72 votos a favor e 29 contra, além de 8 abstenções, na chamada Assembleia Nacional 2015, formada por deputados eleitos naquele ano. Na prática, o mandato dos políticos foi encerrado em 2020, após a realização de um pleito boicotado pelos críticos ao regime.

Opositor Juan Guaidó segura bandeira da Venezuela durante manifestação em Caracas
Opositor Juan Guaidó segura bandeira da Venezuela durante manifestação em Caracas - Federico Parra - 27.out.22/AFP

Os opositores decidiram que o mandato de Guaidó deve terminar em 5 de janeiro. A iniciativa foi liderada por três das principais legendas da oposição: Primeira Justiça, Ação Democrática e Um Novo Tempo. "O governo interino foi uma emergência. Mas o que era temporário tornou-se perpétuo", disse o ex-deputado Juan Miguel Matheus, do Primeira Justiça.

Ao se declarar presidente, em janeiro de 2019, o político teve apoio diplomático de aproximadamente 50 países, incluindo os EUA e o Brasil de Jair Bolsonaro (PL) —o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que assume neste fim de semana, já antecipou que vai restabelecer ligações com Maduro. Apesar do respaldo internacional, ele nunca conseguiu assumir o poder de fato.

A influência de Guaidó diminuiu na medida em que Maduro foi se mantendo no poder. Nos últimos meses, a ditadura venezuelana retomou o diálogo com a oposição após um ano de suspensão das conversas, em uma negociação na qual o tema central são as eleições, cujo calendário oficial prevê para 2024.

Os opositores reivindicam que o regime ofereça garantias de um processo livre e justo e permita que seja supervisionado de forma independente pela comunidade internacional.

Em resposta à retomada dos diálogos, os EUA aliviaram algumas das sanções ao regime e anunciaram que voltarão a permitir que a petroleira Chevron importe petróleo e derivados produzidos em território venezuelano, desde que o gigante estatal do país, a PDVSA, não seja beneficiada financeiramente.

A coomodity é pilar central da retomada das conversas entre o regime e a oposição, que buscam reforçar o papel do país no mercado internacional. Interessa também a grandes potências mundiais, em especial após mudanças geopolíticas desencadeadas pela Guerra da Ucrânia forçarem a busca de alternativas em termos de petróleo e energia em meio à alta de preços e às restrições impostas ao produto russo.

Recentemente, Maduro se fortaleceu com a melhora na economia, que cresceu 17,73% de janeiro a setembro deste ano em comparação com o mesmo período do ano passado, segundo informou nesta sexta o Banco Central da Venezuela.

A decisão na Assembleia Nacional 2015 evidencia as fissuras na oposição venezuelana, que busca eleger um representante único nas primárias que devem acontecer no ano que vem para enfrentar Maduro em 2024. Guaidó, membro do partido Vontade Popular, é um possível candidato.

Após a votação, aliados de Guaidó afirmaram que a proposta aprovada é um erro, inconstitucional e que vai favorecer Maduro. "Não consigo entender como estamos cometendo esse suicídio", disse o ex-deputado Freddy Guevara na sessão realizada online. "Isso deveria envergonhar a todos nós."

Ao se referir a Guaidó, Maduro costuma ironizá-lo, afirmando que ele é representante do "governo interino de Nárnia". Os EUA continuarão a apoiar a oposição venezuelana e o governo interino "independentemente da forma que assuma", disse um porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA após a votação.

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