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Podcast da Economist debate chances de Trump em nova corrida à Presidência

Participantes de discussão ignoram episódios que podem se tornar obstáculos a republicano

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São Paulo

Será que o controverso Donald Trump se elegerá presidente mais uma vez? Pode ser que sim, pode ser que não. Ainda faltam dois anos para a sucessão de Joe Biden, e, até lá, muita água passará debaixo da ponte eleitoral americana. Mesmo assim, a aposta de uma ala de conservadores em Trump foi objeto de um dos recentes podcasts da revista britânica The Economist, mas com um detalhe interessante.

Os participantes do debate não mencionaram dois episódios que, para parte da mídia, poderiam significar forte obstáculo: a invasão do Capitólio por seus simpatizantes, em 6 de janeiro de 2021, e o suposto furto, pelo hoje pré-candidato, de documentos confidenciais que pertencem ao Poder Executivo.

O ex-presidente dos EUA Donald Trump durante comício em Dayton, no estado de Ohio
O ex-presidente dos EUA Donald Trump durante comício em Dayton, no estado de Ohio - Gaelen Morse - 7.nov.22/Reuters

Pode-se até especular as razões dessas lacunas. Ou a revista não quis machucar eleitores de um pré-candidato pelo qual ela nunca teve grandes simpatias ou os fatos em questão se tornaram irrelevantes para um país mergulhado numa flexibilização dramática de sua ideia tradicional de democracia.

Mas vamos ao podcast. Um dos seus participantes foi Russell Vought, do Centro para a Renovação da América, uma das entidades que circulam ao redor dos projetos pessoais de Trump.

Questionado sobre a ossatura de seus argumentos, Vought responde que o ex-presidente e atual candidato às primárias republicanas quebrou a lógica do conservadorismo que prevalecia entre deputados e financiadores, interessados apenas em desregulamentar a economia e cortar gastos do governo.

Trump, disse ele, não hesita em ignorar a laicidade e se aliar a grupos religiosos que se preocupam, por exemplo, com a expansão do tráfico de drogas em pequenas comunidades. Quanto à política externa, o ex-presidente dirá que a Ucrânia não tem nada a ver com a Segunda Guerra Mundial e que Putin por isso não quer conquistar toda a Europa. O dirigente russo poderá ser tratado com energia, segundo seu partidário, da mesma maneira com que tratou seus potenciais adversários estrangeiros.

O problema agora, insistiram os participantes do podcast, é que a já anunciada pré-candidatura terá desta vez, dentro do Partido Republicano, a forte concorrência de Ron DeSantis, governador da Flórida e personagem ascendente no establishment conservador. Idrees Kahloon, da sucursal da Economist em Washington, assinala que DeSantis tem recebido da mídia um tratamento um tanto favorável, em contraste com a antipatia ao estilo antidemocrático e histriônico do trumpismo.

Além do mais, diz Charlotte Howard, da sucursal em Nova York, DeSantis também é heterodoxo em seu conservadorismo, agregando eleitores que, em vez de aplaudir o corte de impostos, aceitam o crescimento de despesas na Flórida, como o aumento dos salários de professores e a contratação de policiais.

DeSantis elegeu-se governador pela primeira vez por uma minúscula margem de 30 mil votos ao se colocar como uma espécie de cópia em papel-carbono de Trump. Ele hoje voluntariamente confunde sua imagem com a do ex-tutor, para roubar dele uma parcela de tamanho ainda indefinido de eleitores.

Um dos critérios para prever se Trump conseguirá retornar ao poder é o do precedente histórico.

Os participantes do podcast evocam um grande fracasso em uma tentativa de volta à Casa Branca. A vítima se chamava Herbert Hoover, derrotado em 1932 por Franklin Roosevelt, ao tentar se reeleger, e derrotado outra vez quatro anos depois, quando o Partido Republicano acreditou que ele voltaria a ser presidente. Não o foi, sabe-se hoje, porque sua imagem estava contaminada pelo início da grande depressão econômica de 1929. Um ex-mandatário que gerava maus pensamentos.

Trump é egocêntrico ao extremo e jamais atentaria para a importância desse episódio. O discurso de uma hora no qual anunciou que se recandidataria –em 15 de novembro, em sua casa de Mar-a-Lago, na Flórida– não trouxe novidades, como se ele falasse para si mesmo, disse um dos participantes do podcast. A Fox News interrompeu a transmissão do que poderia ter sido um pronunciamento na íntegra.

É até possível, disse Howard, que Trump não se dê claramente conta de que não terá mais a mesma base que o sustentava em 2020. Alguns deputados republicanos e ao menos um grande doador de dinheiro já debandaram para o campo de DeSantis. É bem verdade, também, que Trump tem eleitores fanáticos.

Kahloon diz, porém, que não é esse o tipo de eleitor que o governador da Flórida tentará atrair.

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