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Mortes em protestos e confusão no Congresso voltam a elevar tensão no Peru

Manifestantes exigem soltura de Castillo e eleição antecipada; deputado esquerdista agride colega durante discussão

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Lima | AFP

Um dia depois de a nova presidente Dina Boluarte indicar seu gabinete, como forma de aplacar tensões no Legislativo e nas ruas, a temperatura nesses dois âmbitos voltou a subir no Peru neste domingo (11). Nas manifestações, concentradas no sul do país e na capital, Lima, ao menos duas mortes foram registradas; no Congresso, uma confusão terminou com um deputado agredido.

Manifestantes fogem de gás lacrimogêneo lançado pela polícia para dispersar ato em Lima - Alessandro Cinque - 11.dez.22/Reuters

Desde quarta-feira (7), milhares de peruanos têm saído às ruas para protestar contra a prisão do agora ex-presidente do país, Pedro Castillo, destituído pelo Parlamento e detido após fracassar em uma tentativa de golpe de Estado.

Segundo a Defensoria do Povo, uma das vítimas é um adolescente na cidade de Andahuaylas, a 775 quilômetros de Lima. Na mesma cidade, um jovem de 18 anos teria morrido após sofrer um traumatismo craniano aparentemente causado por um objeto contundente. A informação foi divulgada pelo jornal peruano La República, com base no comunicado de um hospital local.

As duas mortes teriam ligação com um confronto registrado nas proximidades do aeroporto entre manifestantes e policiais. Ainda segundo o La República, uma menina de 14 foi baleada no olho durante o tumulto –outras cinco pessoas ficaram feridas, incluindo um agente. No sábado, protestos na região já haviam deixado 16 civis e quatro policiais feridos.

Andahuaylas está localizada na região de Apurímac, onde nasceu a presidente. Logo após a confirmação da primeira morte, Dina lamentou o caso em sua conta no Twitter. "A vida de nenhum peruano merece ser sacrificada por interesses políticos. Reitero meu apelo ao diálogo e ao fim da violência", disse.

Segundo a agência de notícias AFP, as manifestações aumentaram consideravelmente no interior do país neste domingo. Militantes convocaram uma paralisação nacional exigindo a renúncia da nova presidente, a quem consideram uma traidora, e a convocação de novas eleições.

Milhares de pessoas se reuniram em cidades como Cajamarca, Arequipa, Tacna, Andahuaylas, Huancayo, Cusco e Puno, segundo imagens transmitidas por emissoras de TV locais.

Sindicatos agrários e organizações camponesas e indígenas anunciaram uma paralisação por tempo indeterminado a partir da próxima terça (13). Assim como a grande maioria dos outros manifestantes, eles pedem o fechamento do Congresso –que está no centro da crise política do país–, eleições antecipadas, nova Constituição e a libertação imediata de Castillo.

Em Lima, o Perú Libre, antigo partido do ex-presidente e da atual, organizou um ato na praça San Martín, epicentro das manifestações políticas no Peru. Desde as eleições de 2021, o apoio a Castillo na capital peruana é escasso, ao contrário do visto em regiões andinas.

O Parlamento unicameral, dominado pela oposição, se reuniu para analisar a situação. A sessão, porém, precisou ser suspensa em meio a discussões acaloradas. Após o término das discussões, o deputado esquerdista Pasión Dávila agrediu o colega Juan Burgos, de direita —ele tentou revidar, mas foi controlado pelos demais.

É improvável que o Congresso consiga conter os protestos; a Casa tem avaliação pior do que a que Castillo apresentava antes de ser destituído. Pesquisas do mês passado indicam que 86% dos peruanos desaprovam o Legislativo.

Se a gestão de Castillo foi conturbada devido às relações com o Congresso, analistas apontam que a maior resistência ao novo governo virá das ruas. Na sexta, Dina tentou apaziguar as manifestações, dizendo que dialogaria com a sociedade sobre uma eventual antecipação das eleições. Um dia antes, por outro lado, ela descartou por ora disparar mudanças na Constituição —uma demanda de partidos de esquerda e bandeira de Castillo.

Paralelamente, no sábado, ela apresentou os nomes de seu gabinete, mais técnico e centrista, pedindo calma e diálogo à classe política. O êxito político da presidente será testado nos próximos dias, quando o novo gabinete terá que receber um voto de confiança no Legislativo.

"Até agora, a presidente não foi clara sobre a grande questão: estamos em um governo de transição ou estamos diante de uma autoridade que pretende ficar até 2026?", disse à AFP a analista política Giovanna Peñaflor.

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