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Número de mortos em atos no Peru sobe a 18, e crise se agrava com renúncias de ministros

Apoiadores de Pedro Castillo fecham aeroportos e bloqueiam rodovias, e turistas estão presos no país

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Lima | AFP e Reuters

A convulsão social que toma as ruas de várias cidades do Peru há dez dias já deixou ao menos 18 mortos, segundo anunciou a ministra da Saúde do país, Rosa Gutiérrez, nesta sexta-feira (16). O número deu um salto depois de oito delas terem sido registradas na véspera, em Ayacucho, e a ombudsman da gestão federal, Eliana Revollar, disse que a contagem pode chegar a 20.

Em uma onda violenta, os protestos em defesa do ex-presidente Pedro Castillo se estendem desde a fracassada tentativa de golpe do político populista, e nesta sexta foram responsáveis por mais bloqueios de rodovias e pelo fechamento de cinco aeroportos no país.

A temperatura da crise não dá mesmo sinais de alívio. No Parlamento, uma emenda que propunha o adiantamento das eleições gerais foi rejeitada, e no governo dois ministros do gabinete recém-nomeado da presidente Dina Boluarte renunciaram com críticas à gestão.

Militares e policiais peruanos em guarda na praça San Martín, em Lima
Militares e policiais peruanos em guarda na praça San Martín, em Lima - Martin Bernetti/AFP

"Mortes de compatriotas não têm justificativa. Violência estatal não pode ser desproporcional e causar óbitos", escreveu Patricia Correa, da Educação, no Twitter. Na mesma linha, Jair Pérez, da Cultura, disse que "o Peru precisa de paz e diálogo efetivo".

Nas ruas, os protestos continuaram ante a decisão da Suprema Corte, anunciada nesta quinta (15), de estender por 18 meses a prisão preventiva de Castillo. Manifestantes atearam fogo às sedes locais do poder Judiciário e da Promotoria em Ayacucho, a cerca de 500 quilômetros de Cusco, onde houve o registro de oito mortes —desde o início dos atos, óbitos foram registrados também em Chincheros, Andahuaylas e Arequipa. O governo disse que uma investigação será aberta para apurar os responsáveis pelas ocorrências.

Munidos de pedras e paus, apoiadores do ex-presidente ainda tentaram tomar o aeroporto da cidade. Foram contidos pelo Exército, que passou a ajudar a polícia a garantir a manutenção da segurança pública desde que Dina declarou estado de emergência em todo o país, na quarta-feira.

A ministra da Saúde afirmou que ainda foram contabilizadas seis mortes em acidentes vinculados ao bloqueio de vias, como atropelamentos. A ONU voltou a expressar preocupação com o número de vítimas e com a apreensão de menores envolvidos nas manifestações. A chanceler Ana Cecilia Gervasi deve se encontrar com representantes das Nações Unidas na próxima terça para discutir a situação.

Em Cusco, os tumultos afetam o turismo, setor responsável por 4% do PIB peruano; segundo o prefeito da cidade que é base para visitas a Machu Picchu, cerca de 5.000 turistas estão presos, aguardando em hotéis que seus voos sejam retomados.

Os manifestantes exigem a antecipação das eleições gerais, a dissolução do Congresso, a criação de uma Assembleia Constituinte, a renúncia de Dina, a quem chamam de traidora, e a libertação de Castillo.

Nesta semana, a presidente anunciou que negocia com o Congresso a antecipação do pleito de julho de 2026 para abril de 2024. Nesta sexta, porém, o Parlamento rejeitou uma proposta do gênero. Apresentado por Hernando Guerra García, do partido de Keiko Fujimori, adversária de Castillo na eleição de 2021, o texto adiantava antecipar o pleito presidencial de abril de 2026 para dezembro de 2023.

O projete obteve 49 votos a favor e 33 contrários, além de 25 abstenções. Por se tratar de uma emenda à Constituição, que estipula que mandatos devem durar cinco anos, a medida necessitava de 87 votos em duas votações, o equivalente a dois terços do Parlamento, ou que fosse aprovada por maioria simples, de 66 votos, e posteriormente ratificada em referendo popular.

A medida teve a rejeição mesmo de parlamentares da oposição, caso do Perú Libre, antiga legenda de Castillo, e do centro. Eles exigiam que a proposta de criação de uma Constituinte fosse incluída no texto, o que não foi aceito pelo Força Popular.

O Parlamento peruano tem avaliação pior que a que Castillo apresentou antes de ser destituído. Pesquisas do mês passado indicam que 86% dos peruanos desaprovam o Legislativo, principal alvo dos atos disparados pela moção de vacância contra o populista.

Diante das crises política e social, Dina afirmou que viajará ao interior para atender às reivindicações dos protestos e que irá convocar lideranças religiosas e governadores para promover mesas de diálogo.

"Todos esses esforços têm um objetivo claro: a paz social do país", diz. "Condeno fortemente os atos de vandalismo que alguns radicais, usando a boa vontade do povo no direito de mobilizar, usaram para atacar a polícia, militares, civis, instituições públicas e privadas e que prejudicam a economia familiar a poucos dias do Natal."

Castillo foi preso depois de ser destituído pelo Parlamento e é acusado de rebelião e conspiração devido à tentativa fracassada de golpe de Estado. Ele nega as acusações e se diz líder do país por direito —o populista tem se comunicado com apoiadores por meio de seu perfil no Twitter, onde posta mensagens escritas à mão assinadas como "presidente constitucional do Peru".

O ex-presidente foi transferido para o presídio de Barbadillo, em Lima.

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