Talibã proíbe mulheres de frequentarem universidade no Afeganistão

Apesar de ter assumido em 2021 prometendo moderação, grupo extremista vem cerceando direitos femininos

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Cabul (Afeganistão) | Reuters e AFP

O ministério de Educação Superior do Afeganistão, comandado pelo Talibã, afirmou nesta terça-feira (20) que o acesso de estudantes mulheres às universidades afegãs está suspenso até nova ordem.

Um comunicado, cuja veracidade foi confirmada pelo ministério, instrui as universidades públicas e privadas do Afeganistão a bloquear o acesso de estudantes mulheres imediatamente, de acordo com decisão do regime.

Trata-se da mais recente restrição do Talibã à educação de mulheres no país.

Estudantes afegãs deixam escola após exame em Cabul, em 7 de dezembro de 2022.
Estudantes afegãs deixam escola após exame em Cabul - Wakil Kohsar - 7.dez.22/AFP

A mãe de uma estudante universitária, que pediu para não ser identificada por motivos de segurança, disse que a filha telefonou aos prantos quando soube da carta, com medo de não poder terminar a faculdade de medicina em Cabul.

"Não dá para descrever a dor que eu e outras mães temos em nossos corações. Todas nós estamos preocupadas com o futuro de nossas filhas", declarou.

O grupo extremista retomou o poder no Afeganistão, em 15 de agosto do ano passado, prometendo moderação e amplos direitos às mulheres. No entanto, a prometida moderação durou pouco. A pena de morte, apedrejamentos e amputações das mãos para crimes como roubos e adultérios foram reintroduzidos pelo Talibã em setembro de 2021.

Nos últimos meses, escolas foram fechadas e meninas foram proibidas de receber educação formal além da sexta série. Em maio, um decreto estabeleceu a obrigatoriedade do uso de véus cobrindo o rosto para mulheres, com três escalas de advertências para o "guardião masculino", a última sendo três dias de prisão.

Governos estrangeiros vêm dizendo que é necessário o Talibã mudar as políticas para mulheres antes que outras nações reconheçam formalmente o regime, que está sob sanções. A confirmação da proibição nas universidades veio à tona no mesmo dia em que o Conselho de Segurança da ONU realizou uma sessão sobre o Afeganistão.

Na sessão, pouco antes do anúncio sobre as universidades, a representante especial para o Afeganistão do secretário-geral, Roza Otunbayeva, afirmou que o fechamento das escolas de meninas "solapou" o relacionamento do Talibã com a comunidade internacional. "Enquanto as meninas continuarem excluídas das escolas e as autoridades ignorarem as preocupações da comunidade internacional, nós ficaremos em um impasse", disse ela.

O embaixador adjunto dos EUA junto à ONU condenou a restrição contra universitárias. "O Talibã não pode esperar ser um membro legítimo da comunidade internacional até respeitar os direitos de todos os afegãos, especialmente os direitos humanos e a liberdade das mulheres e das meninas", disse Robert Wood.

A embaixadora britânica junto à ONU, Barbara Woodward, afirmou que as restrições a mulheres nas universidades eram "mais um cerceamento flagrante dos direitos das mulheres e uma profunda decepção para cada uma das universitárias".

O porta-voz da ONU, Stéphane Dujarric, disse que a medida era "claramente mais uma promessa não cumprida pelo Talibã". "Trata-se de mais uma decisão preocupante, e não dá para imaginar como o país pode se desenvolver, lidar com todos os seus desafios, sem a participação ativa e a educação das mulheres."

Também nesta terça-feira, o Talibã libertou dois cidadãos americanos que estavam detidos no Afeganistão, segundo autoridades dos EUA. Não há informações sobre as identidades das pessoas libertadas nem o motivo pelo qual estavam presas.

"Entendemos isso como um gesto de boa vontade do Talibã. Não faz parte de uma troca de prisioneiros", afirmou o porta-voz do Departamento de Estado americano, Ned Price.

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