Descrição de chapéu Partido Republicano

Trumpista George Santos admite ter mentido sobre formação escolar e currículo profissional

Deputado eleito fala a veículos conservadores sobre acusações que vieram à tona na semana passada

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São Paulo

O político americano George Santos, deputado eleito pelo Partido Republicano, admitiu nesta segunda-feira (26) que mentiu sobre sua formação educacional e seu histórico profissional durante a campanha na eleição legislativa de novembro. O caso foi revelado na semana passada pelo jornal The New York Times.

Filho de imigrantes brasileiros, Santos apresentou sua versão da história a dois veículos conservadores americanos, o jornal New York Post e a rádio WABC-AM. Anteriormente, ele e seus advogados haviam negado comentários às reportagens do NYT.

"Eu não sou um criminoso", disse ele ao NYPost, reforçando que pretende tomar posse como deputado na nova legislatura. "Meu pecado foi enfeitar meu currículo. Peço desculpas. Fazemos coisas estúpidas na vida."

O deputado eleito pelo Partido Republicano George Santos discursa em evento em Las Vegas - Scott Olson - 19.nov.22/Getty Images/AFP

Segundo o político, sua campanha se baseou nas preocupações dos americanos —e deve ser analisada sob esse aspecto, não o de seu currículo. "Pretendo trabalhar [como deputado] para cumprir as promessas que fiz: combater o crime, lutar para baixar a inflação e melhorar a educação."

Ele admitiu ao jornal que não se formou na Baruch College, de onde dizia ter um diploma —diretores da faculdade não encontraram registros de alguém com seu nome ou sua data de nascimento que tivesse encerrado lá os estudos em 2010. Ele também contou que nunca se graduou em nenhuma instituição de ensino superior.

Santos confirmou ainda que, como descobriu o NYTimes, ele nunca trabalhou no Citigroup ou no Goldman Sachs, que constavam de sua biografia. As duas empresas de Wall Street afirmaram que não têm qualquer registro de que ele tenha trabalhado para elas em algum momento.

O político teria lidado com as companhias em trabalhos realizados por uma outra firma, a LinkBridge Investors, da qual teria sido vice-presidente —o Times informou que comprovou o vínculo dele com a empresa. Segundo ele, a afirmação de que passou por Citigroup e Goldman Sachs se deveu a uma "escolha ruim de palavras".

Outro assunto tratado na entrevista com o NYPost foi sua origem familiar. Na esteira das denúncias da semana passada, a publicação judaica The Forward relatou que Santos teria enganado os eleitores também sobre ter ascendência judaica.

Em seu site e em declarações dadas durante a campanha eleitoral, ele contou que a mãe, Fatima Devolder, nasceu no Brasil, filha de imigrantes que "fugiram da perseguição aos judeus na Ucrânia, se estabeleceram na Bélgica e novamente fugiram da perseguição durante a Segunda Guerra Mundial".

De acordo com The Forward, porém, citando informações do site de genealogia My Heritage, documentos de imigração brasileiros e bancos de dados de refugiados, os pais de Devolder parecem ter nascido no Brasil antes da Segunda Guerra.

Agora, Santos disse ser "claramente católico" e contou que ouviu da avó histórias de que ela seria uma judia que mais tarde se converteu. "Nunca disse que eu era judeu. Sou católico, mas como ouvi que minha família materna tinha um passado judaico, eu dizia que era 'meio judeu'."

Em outro trecho da entrevista, ele fala sobre sua orientação sexual. "Sou muito gay. Estou tranquilo quanto à minha sexualidade. As pessoas mudam e eu sou uma delas", disse ao NYPost, admitindo que foi casado com uma mulher entre 2012 e 2017.

Segundo o jornal, a única acusação que Santos refutou foi a de ter confessado um crime de estelionato em Niterói (RJ) em 2008. A confissão ocorreu em depoimento à Polícia Civil, dois anos após ele ter virado réu pelo crime —ele havia sido acusado pelo vendedor de uma loja de roupas de se passar por "Délio" e pagar R$ 2.144 com dois cheques sem fundo de R$ 1.072, nos valores da época.

A informação foi publicada inicialmente pelo jornal O Globo e confirmada pela Folha no processo junto ao Tribunal de Justiça fluminense.

"Não sou criminoso aqui [nos EUA], no Brasil nem em qualquer jurisdição do mundo. Isso não aconteceu", disse ao jornal nova-iorquino.

O político por fim reconheceu que dificuldades financeiras fizeram com que devesse milhares de dólares para credores e locatários, mas não esclareceu por completo como conseguiu resolver a situação tão rapidamente para conseguir investir US$ 700 mil na própria campanha para o Congresso.

A vitória de Santos ajudou o Partido Republicano a garantir, nas midterms, uma maioria estreita na Câmara na próxima legislatura. Segundo a imprensa americana, é improvável que alguma medida agora impeça o político de tomar posse —parlamentares só podem ser impedidos de assumir caso tenham violado pré-requisitos de idade, cidadania e local de residência definidos pela Constituição.

Lideranças democratas têm dito abertamente que o filho de brasileiros não tem as condições de estar no Congresso, mas republicanos até aqui se mantiveram em silêncio. Depois do inicio do mandato, porém, analistas veem o risco de Santos ser alvo de processos e investigações, especialmente pelas mentiras envolvendo sua situação financeira, ainda que seu partido seja o que terá maioria na Casa.

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