Descrição de chapéu Guerra da Ucrânia Rússia

Baterias antiaéreas no centro de Moscou assustam moradores

Após dias de silêncio, governo confirma que fez exercício contra ataques na capital

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São Paulo

Desde quinta-feira (19), as redes sociais moscovitas só falam de uma coisa: a instalação de sistemas de defesa antiaérea em prédios governamentais no centro da cidade, um sinal evidente de que o governo de Vladimir Putin está preocupado com a possibilidade de ser atacado em sua própria capital pela Ucrânia.

Tudo começou com a foto de uma bateria de curto alcance Pantsir-S1 em cima do prédio do Ministério da Defesa, que fica 3,5 km a sudoeste do Kremlin, na margem oposta do rio Moscou ao famoso parque Górki.

Bateria antiaérea Pantsir-S1 usada para proteger o estádio de São Petersburgo na Copa de 2018
Bateria antiaérea Pantsir-S1 usada para proteger o estádio de São Petersburgo na Copa de 2018 - Anton Vaganov - 27.jun.18/Reuters

Depois, um vídeo captou outro Pantsir sendo içado para o topo de um prédio do Ministério da Educação, cerca de 5 km a leste, no distrito de Taganski. A partir daí, pululam imagens do sistema em outros pontos em torno de Moscou, como a cerca de 10 km da residência oficial de Putin, em Novo-Ogariovo.

"Dá medo, lembra-me histórias da minha avó na Segunda Guerra, quando havia baterias em telhados", disse por WhatsApp o jornalista Mikhail, que pediu para não divulgar o sobrenome. Ele mora perto de Taganski, e sua formação militar o faz especular que a posição daquela bateria visa a cobrir a aproximação a leste do Kremlin. De fato, olhando o raio de alcance das duas baterias, a sede do governo russo fica na intersecção das áreas de cobertura dos Pantsir.

"Ninguém fala nada, é mau sinal, ainda mais após o que aconteceu em Engels", continuou, em referência aos ataques com drones de longa distância de origem soviética que Kiev promoveu contra a base aérea homônima, a 800 km da fronteira ucraniana. Houve ainda um ataque a meros 180 km de Moscou, que por sua vez fica a 450 km do país vizinho, dentro do raio de alcance das antigas armas ucranianas (1.000 km).

Na sexta (20), o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, foi instado a explicar o que estava acontecendo. Não o fez, dizendo que temas de defesa devem ser discutidos com a pasta, que tampouco fez comentários. O mistério só se desfez nesta sábado (21): o ministério confirmou que houve um exercício de defesa antiaérea para a proteção de "estruturas críticas e prédios governamentais".

Não houve muitos detalhes sobre quando e onde a simulação ocorreu, além do número de 150 soldados envolvidos.

Os Pantsir-S1 são sistemas de curto alcance e baixa altitude, a última das três camadas do sistema de defesa antiaérea russo: na longa distância estão o S-300, o S-400 e o novo S-500, enquanto na intermediária são empregadas baterias como a Tor-M1 e a Buk, entre outros modelos.

Moscou já era protegida por sistemas de longa distância, segundo analistas militares, mas a introdução dessas baterias, que protegeram estádios na Copa-2018, sugere a preocupação com drones, menores e de mais difícil interceptação. O Pantsir-S1 teve desempenho sofrível contra drones suicidas na guerra civil da Síria, mas desde então foram atualizados com novos radares e parecem ter sucesso na Ucrânia.

Eles atacam seus alvos com mísseis de alcance de 18 km de distância e 15 km de altitude. Caso um drone ou míssil de cruzeiro escape, ainda conta com dois canhões de curtíssimo alcance para tentar abatê-los.

Alguns observadores pró-Kremlin parecem conformados com o sinal de insucesso militar que as baterias implicam. "Isso significa que [o governo] entende perfeitamente os riscos e que ataques contra Moscou e outras regiões são uma questão de tempo", escreveu o jornalista especializado em assuntos militares Alexander Kots, alinhado a Putin. "É bom começar a planejar antes do que depois de um primeiro ataque".

Seu colega de profissão Mikhail vê a questão de outra forma. "Se a guerra chegar a Moscou, será um enorme fracasso para Putin, ficará difícil esconder o problema." Quando esteve na capital em outubro, a Folha viu pouquíssimas referências ao conflito nas ruas da cidade, uma política deliberada do Kremlin.

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