Descrição de chapéu Governo Biden

Procurador especial vai investigar descoberta de documentos sigilosos de Biden

Casa Branca confirma segunda leva de papéis na garagem do presidente; republicano quer apuração na Câmara

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Washington | Reuters

Advogados de Joe Biden afirmaram nesta quinta-feira (12) ter encontrado mais um lote de documentos sigilosos do governo sob posse do atual presidente dos EUA, na garagem da casa dele, em Wilmington, Delaware. Os papéis pertencem ao período em que o político foi vice de Barack Obama (2009-2017).

A informação veio a público dias depois de a própria Casa Branca revelar que outros arquivos confidenciais da mesma época tinham sido descobertos semanas antes, em um escritório particular que foi usado pelo democrata entre o fim da gestão Obama e o início de sua campanha presidencial, em 2020.

Com a repercussão crescente dos episódios, o secretário de Justiça dos EUA, Merrick Garland, designou um procurador especial para liderar uma investigação. Medidas do tipo são comuns em casos politicamente delicados, uma vez que esse tipo de apuração garante certa autonomia em relação ao próprio Departamento de Justiça, que é subordinado à Presidência —Garland foi nomeado por Biden.

Joe Biden participa de cerimônia em homenagem ao ex-secretário da Defesa Ash Carter, morto em 2022, na Catedral Nacional de Washington, na capital americana - Jonathan Ernst/Reuters

O responsável por liderar a investigação envolvendo os documentos encontrados em imóveis ligados ao político democrata será Robert Hur, que atuou como procurador federal pelo distrito de Maryland quando Donald Trump estava no poder. Segundo o secretário de Justiça, ele terá a função de avaliar se houve impropriedade no armazenamento dos papéis e "se alguma pessoa ou entidade violaram a lei".

Desde a primeira descoberta, em um escritório em Washington, a Casa Branca afirma que vai cooperar com todas as análises do Departamento de Justiça.

A descoberta de uma segunda leva de papéis sigilosos pode elevar a pressão sobre o atual presidente, que desde o início do mandato convive com índices baixos de popularidade, em um caso que já tem uma série de semelhanças apontadas com uma das ações que tem como alvo seu antecessor —a começar pela designação de um procurador especial.

O republicano Trump é investigado por ter guardado materiais sigilosos do governo em uma de suas propriedades, na Flórida —autoridades afirmaram que os documentos têm potencial para comprometer a inteligência do país. No ano passado, agentes do FBI fizeram duas operações para recuperar os papéis, em ações sem precedentes na história recente dos EUA contra um ex-presidente.

Em fevereiro, buscaram na casa dele na Flórida 15 caixas que haviam sido retiradas indevidamente da Casa Branca —e que incluíam, entre outros papéis, correspondências trocadas com o ditador norte-coreano, Kim Jong-un. Meses depois, a polícia federal americana entrou na mansão de Mar-a-Lago para apreender outras 20 caixas de documentos, vários deles sigilosos.

A legislação americana prevê que membros do governo entreguem documentos confidenciais aos Arquivos Nacionais dos EUA, agência responsável por sua preservação, ao fim do mandato. A porta-voz da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, afirmou que Biden não sabia que os papéis estavam em sua posse e que tampouco se lembra do conteúdo deles.

"Uma investigação minuciosa mostrará que esses documentos foram deslocados inadvertidamente e que o presidente e seus representantes legais agiram prontamente ao descobrirem o erro", disse o advogado do democrata, Richard Sauber.

O próprio Biden prometeu tratar do caso novamente em breve. "Como disse mais cedo nesta semana, as pessoas sabem que levo a sério arquivos sigilosos", afirmou. Questionado por um repórter sobre os possíveis motivos para armazenar papéis do tipo no mesmo lugar em que guarda o carro, ele respondeu: "Meu Corvette está em uma garagem trancada, não é como se estivesse estacionado no meio na rua".

Nesta quinta, membros da oposição se aproveitaram do caso para apontar que as descobertas evidenciam a hipocrisia do atual presidente, que chegou a chamar Trump de "totalmente irresponsável" pela forma como lidou com documentos sigilosos ao deixar o poder.

Pouco antes do anúncio oficial da investigação por Garland, o presidente da Câmara dos Representantes, o republicano Kevin McCarthy, havia cobrado uma apuração dos episódios, chamando-os de "novo passo em falso da administração" atual.

Correligionários do deputado da Califórnia defenderam ainda que o caso seja objeto de apurações da Casa. "A designação de procuradores especiais limita nossa capacidade de instalar medidas de supervisão que desejamos", disse James Comer.

Ainda que guardem semelhanças com o caso de Trump, o dois episópdios com Biden no centro têm diferenças importantes —realçadas também pela Casa Branca, que defende que os contextos são bastante distintos. A descoberta dos papéis com o atual presidente, por exemplo, não se deveu a uma solicitação judicial anterior e o político não apresentou qualquer resistência para admitir e reportar a existência dos papéis nem para submetê-los a análise.

O primeiro lote foi encontrado em novembro, quando advogados do presidente empacotavam arquivos em uma sala do Centro Penn Biden para Diplomacia e Engajamento Global. A descoberta levou a equipe a vasculhar dois outros lugares para onde materiais do gabinete vice-presidencial poderiam ter sido enviados. A segunda leva, divulgada nesta quinta, foi achada em 20 de dezembro em Delaware —no outro imóvel não havia nada.

Trump e assessores, por outro lado, demoraram meses para responder a pedidos dos Arquivos Nacionais e depois não cumpriram totalmente intimações.

Outra diferença entre os dois casos se dá na quantidade de material. Só em Mar-a-Lago foram encontrados ao menos cem documentos sigilosos, enquanto que no antigo escritório de Biden havia menos de uma dúzia. O número da casa do presidente não foi revelado, mas também seria pequeno —ainda não há detalhes sobre o conteúdo.

Por fim, a interpretação do Departamento de Justiça da Constituição americana é de que presidentes em exercício não podem ser indiciados. Trump, por sua vez, perdeu essa prerrogativa ao deixar o poder.


Linha do tempo

2.nov.22
Ao menos dez documentos sigilosos são descobertos por advogados de Joe Biden no antigo escritório do presidente no Centro Penn Biden para Diplomacia e Engajamento Global, think tank vinculado à Universidade da Pensilvânia. O material é entregue aos Arquivos Nacionais dos EUA, e democrata começa a cooperar com agência e Departamento de Justiça

9.nov.22
FBI, polícia federal dos EUA, inicia investigação para determinar se houve vazamento de informações sigilosas ou infração de outras leis federais

14.nov.22
Secretário de Justiça dos EUA pede a procurador público que determine se é o caso de instaurar um procurador especial para a investigação contra o presidente; medida é comum em casos delicados politicamente, já que comitês do tipo têm certa autonomia em relação ao Departamento de Justiça

20.dez.22
Equipe de Biden notifica o Departamento de Justiça sobre a descoberta de uma nova leva de documentos sigilosos na biblioteca da casa do presidente, em Wilmington, Delaware

5.jan.23
Procurador designado pela secretaria de Justiça recomenda a instauração de um procurador especial de investigação

9.jan.23
Casa Branca anuncia publicamente a descoberta dos documentos sigilosos no antigo escritório de Biden e afirma estar cooperando com investigadores

12.jan.23
Secretário de Justiça nomeia Robert Hur, que atuou como procurador público pelo distrito de Maryland no governo Trump, para liderar conselho especial de investigação contra Biden

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.