Cidade de Nova York bate recorde de tempo sem neve expressiva no inverno

Já se passaram 50 anos desde que a região esperou tanto tempo pela primeira nevasca da temporada

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Nova York | The New York Times

Nova-iorquinos sabem que nem todo ano tem um Natal branco, mas no final de janeiro a cidade costuma ter neve suficiente para os moradores se divertirem com trenós e guerras de bolas brancas e geladas.

Não neste inverno.

Já se passaram 50 anos desde que a cidade esperou tanto tempo pela primeira nevasca mensurável da temporada. É uma ausência recorde que deixou muitos moradores felizes, melancólicos e preocupados.

Pessoas correm ao lado do reservatório do Central Park, em Manhattan
Pessoas correm ao lado do reservatório do Central Park, em Manhattan - David Dee Delgado - 28.jan.23/The New York Times

Rachel Reuben, uma chef particular, está silenciosamente satisfeita por não ter visto neve mensurável –definida como mais de 0,25 centímetro– na cidade de Nova York nos últimos 325 dias.

Segundo meteorologistas, a cidade se aproxima de dois marcos relacionados à neve: estabelecerá um recorde nesta segunda-feira (30) de sua mais tardia primeira neve mensurável do inverno, superando 29 de janeiro de 1973. E, menos de uma semana depois, poderá vencer sua mais longa sequência de dias sem neve mensurável. O recorde é de 332 dias, estabelecido em 15 de dezembro de 2020.

A última vez que nevou na cidade foi em 22 de março passado. Mesmo apreciando o clima sem neve, Reuben, 66, não deixa de se sentir um pouco desconfortável. "Se é um presságio da crise climática, então não é algo bom", disse ela em um sábado ameno enquanto passeava com seus cachorros no Central Park.

Reuben repetiu muitos nova-iorquinos que disseram que, apesar das pequenas alegrias de não ter que remover a neve ou caminhar pelas ruas cobertas de lama cinzenta, o clima ameno parece estranho.

A cidade geralmente tem neve em meados de dezembro, mas essa ausência significa que ela ficou mais de um mês atrás de seu ritmo médio. Esta e outras grandes cidades ao longo da rodovia Interestadual 95 estão passando por algumas das estações com menor precipitação de neve do último meio século.

Já havia condições para um início de inverno relativamente quente: a região tem estado mais quente do que o normal, em parte graças a La Niña, fenômeno climático recorrente originário do Oceano Pacífico, que está no terceiro ano consecutivo.

"Tivemos invernos quentes no passado, mas estamos vendo muito mais do que chamo de invernos ioiô", diz Chris Stachelski, supervisor do Serviço Nacional de Meteorologia na Costa Leste dos EUA. "Estamos vendo mais extremos, quando passamos de muita neve para pouca", diz, acrescentando que, embora houvesse invernos com menos neve no passado, as oscilações agora são mais frequentes. "É aí que você pode argumentar que talvez esteja ocorrendo alguma influência definitiva dos padrões climáticos globais."

A variação extrema deste inverno pode ser vista em um único trecho do interior do estado de Nova York. Syracuse é uma das cidades com mais neve dos EUA, com média de mais de 3 metros por ano, mas neste inverno recebeu apenas 63,5 centímetros, colocando-a 90 cm abaixo da norma para a temporada. A vizinha Rochester teve menos de 38 cm, em comparação com o 1,27 metro típico desta época.

No entanto, a oeste de ambas as cidades existe um bolsão de neve: Buffalo está tendo um dos invernos mais nevados dos últimos 50 anos. Cerca de metade da neve desta temporada caiu durante uma única e mortal nevasca. Stachelski explica que a extrema divergência observada entre diferentes partes do estado de Nova York tem a ver com rastros de tempestades.

"Normalmente, recebemos muitas de nossas nevascas de tempestades que vêm do mar, costeiras, e, ocasionalmente, quantidades menores vêm do que chamamos de ‘clippers de Alberta’ [sistema de baixa pressão vindos do Canadá]. E realmente não tivemos nenhum desses neste inverno que causasse neve."

Bill Morache, 35, diz sentir falta da neve. Um historiador da arquitetura que mora no bairro de Morningside Heights, Morache é natural de New Hampshire, estado que periodicamente recebe muita neve. Ele está em Nova York há cerca de uma década e, olhando fotos antigas, lembrou que tinha que desenterrar seu carro da neve. "É real", diz sobre a crise climática. "Você pode vê-la acontecendo."

Ainda assim, alguns nova-iorquinos consideram a falta de neve um possível sinal de que a cidade será castigada por uma nevasca em fevereiro, que, apesar de ser o mês mais curto, quase sempre parece ser o auge do inverno. "Todo mundo fica dizendo: 'Sabe, e se não tivermos aquela grande tempestade este ano?' E eu penso: 'Espere até fevereiro'", diz Anna Muller, 30, funcionária de uma empresa que armazena roupas. "Sinto que fevereiro sempre lança uma bola curva."

Stachelski, o meteorologista, também adverte contra conclusões rápidas demais. "Ainda é muito cedo para definir o inverno", diz. "Realmente houve alguns invernos aqui nos últimos 20 ou 30 anos em que não tivemos muita neve no início e, no final, foi ruim."

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves 

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