Dezenas morrem em onda de frio no Afeganistão, que vê crise humanitária se agravar

Caos econômico no país da Ásia Central e proibição de trabalho de mulheres em ONGs acentuam dificuldades para população

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O frio intenso observado em partes da Ásia tem agravado a crise humanitária que se desenrola no Afeganistão desde o retorno do grupo fundamentalista Talibã ao poder. Somente na última quinzena, ao menos 124 pessoas morreram devido às baixas temperaturas.

A situação tem potencial para agravar também a crise econômica e a fome. Segundo afirmou um porta-voz do Ministério de Gerenciamento de Desastres do Estado à rede BBC nesta terça (24), 70 mil cabeças de gado foram perdidas em meio à queda brusca nas temperaturas.

Afegãs com crianças caminham em Cabul em meio a frio intenso - Wakil Kohsar - 23.jan.23/AFP

O inverno é o mais frio no país da Ásia Central em ao menos 15 anos, com temperaturas de -34°C. À agência afegã Tolo News autoridades do regime talibã disseram que a pobreza e o desemprego são as principais causas do número de vítimas durante a estação mais fria do ano. Moradores relatam que é mais difícil encontrar trabalho nesse período.

Mas outro fator —uma consequência direta de ordens do grupo fundamentalista— piora a situação. Organizações sociais antes baseadas em território afegão e fonte importante de atenção e suprimentos à população têm debandado do país.

O movimento se dá após um decreto talibã, em dezembro passado, proibir que mulheres trabalhem em ONGs no país —o grupo alega que elas estão descumprindo regras de vestimenta islâmica. Antes disso, o regime já havia proibido mulheres de frequentarem universidades.

Mohammad Abbas Akhund, ministro de Gerenciamento de Desastres, contou que muitas áreas estão completamente isoladas pela neve e que helicópteros militares foram enviados para resgatar a população, mas não conseguiram chegar a regiões montanhosas.

"A maioria dos que perderam suas vidas devido ao frio era formada por pastores e moradores de áreas rurais. Eles não tinham acesso a cuidados de saúde", disse. Segundo dados das Nações Unidas, ao menos 25 milhões de afegãos dependem de ajuda humanitária para sobreviver —o país tem cerca de 40 milhões de habitantes atualmente.

As Nações Unidas têm tentado negociar com autoridades do regime para que concessões sejam implementadas e, assim, mulheres atuem em ONGs. Segundo disse à agência Reuters Martin Griffiths, subsecretário de Assuntos Humanitários da ONU, autorizações do tipo já foram dadas para organizações de saúde e educação.

O objetivo da entidade, no entanto, é mediar uma saída que também permita a mulheres atuarem em ONGs que trabalham com temas como nutrição e saneamento, para ajudar na prevenção de doenças graves e de desnutrição entre a população afegã.

O Escritório da ONU para a Coordenação de Assuntos Humanitários disse na última semana que as restrições estão dificultando os esforços para entregar ajuda. "Parceiros humanitários estão fornecendo apoio às famílias, como aquecedores, dinheiro para combustível e roupas quentes, mas as distribuições foram severamente afetadas pela proibição de trabalhadoras humanitárias em ONGs."

No início do inverno, profissionais de saúde relataram um aumento expressivo no número de crianças com casos graves de pneumonia e outras doenças respiratórias, em parte devido ao agravamento da pobreza que afetou as possibilidades de aquecimento dentro das casas.

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