França cede à pressão da ditadura de Burkina Fasso e vai retirar tropas do país

Anúncio representa perda de espaço francês no Sahel africano e provável ganho diplomático para governo e mercenários russos

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São Paulo

Em um cenário anunciado havia meses, os militares que comandam Burkina Fasso pediram, e a França aceitou retirar as tropas do país do Sahel africano em um mês. A decisão foi anunciada nesta quarta (25).

A uma emissora local um porta-voz da ditadura disse que o país está rompendo o acordo feito com Paris em 2018, mas salientou que a mudança não significa o fim das relações diplomáticas entre as nações.

Soldado da França monitora área rural durante operação no norte de Burkina Fasso
Soldado da França monitora área rural durante operação no norte de Burkina Fasso - Michele Cattani - 10.nov.19/AFP

Já nesta quinta (25), um porta-voz da chancelaria francesa disse que a pasta chamou o embaixador francês em Burkina, Luc Hallade, baseado na capital, Uagadugu, desde 2019, para consultas. O objetivo seria acertar as perspectivas de seguir com alguma cooperação bilateral.

Os anúncios vêm na esteira da diminuição da presença francesa na África —em parte pelos fracassos acumulados pelas tropas, para lá enviadas sob a justificativa de ajudar no combate ao terrorismo, em parte pela ampla rejeição a esse movimento de cidadãos de países que formam o Sahel.

Em agosto passado o país de Emmanuel Macron concluiu sua retirada militar do Mali, outra ex-colônia francesa, depois de nove anos de operações. Três meses depois, o presidente francês anunciou o fim da chamada Operação Barkhane, esforço do país para deslocar tropas ao Sahel.

Na ocasião, disse que os militares seguiriam em nações como Burkina Fasso, Chade e Níger, mas só por meio de acordos que envolvessem governos e regimes locais. Além disso, o país tem soldados em Djibuti, Gabão, Costa do Marfim e Senegal. Macron deve anunciar um novo modelo de presença militar na região.

Ao longo dos últimos meses, o descontentamento de burquinenses com os franceses passou a ser expresso nas ruas, com atos que também demandavam ajuda da Rússia de Vladimir Putin, que aumenta sua influência no continente africano principalmente por meio da empresa militar privada Grupo Wagner.

No início de dezembro, Uagadugu concedeu a licença de exploração de uma nova mina de ouro à empresa de mineração russa Nordgold. Duas semanas depois, o governo da vizinha Gana acusou o país de pagar com a mina a contratação desses mercenários russos, que também atuam na Guerra da Ucrânia.

Paris mantém de 200 a 400 forças especiais em Burkina. O país africano enfrenta uma onda de jihadismo que, neste mês, teve nova demonstração após mais de 60 mulheres e bebês serem sequestrados por homens armados —segundo a ditadura, eles já foram liberados, após uma operação do regime.

A nação também é marcada por profunda instabilidade política. Com apoio popular, em parte gerado pela insatisfação com o fracasso no combate a violência, um golpe militar depôs o presidente Roch Kaboré há um ano. Em setembro, o militar que capitaneou o golpe foi deposto em outro golpe.

Com Reuters

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