Idade avançada de autores de massacres na Califórnia quebra padrão em crimes do tipo

Suspeitos têm mais de 60 anos, enquanto mediana etária de atiradores entre 2010 e 2019 foi de 29

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São Paulo

A polícia ainda investiga as motivações por trás dos dois ataques a tiros que mataram ao menos 18 pessoas na Califórnia nos últimos dias. Uma caraterística, porém, os diferencia da maioria dos episódios do tipo nos Estados Unidos nos últimos 50 anos —em ambos, os acusados são idosos.

Huu Can Tran, suspeito de matar 11 pessoas numa boate em Monterey Park, tinha 72 anos. Zhao Chunli, acusado de assassinar sete pessoas ao abrir fogo em duas fazendas em Half Moon Bay, tem 67.

Vigília em homenagem às vítimas do massacre em Monterey Park, na Califórnia, em frente à prefeitura da cidade - Frederic J. Brown - 24.jan.23/AFP

O perfil é raro, se considerados os demais autores de massacres a tiros nos EUA, segundo levantamento dos pesquisadores Jillian Peterson e James Densley. Eles coordenam o Violence Project, que mapeia ataques a tiros em massa —quando quatro ou mais pessoas são baleadas— no país.

Em artigo publicado no portal The Conversation, eles afirmam que apenas seis de um total de 172 autores de crimes do tipo entre 1966 e 2020 tinham mais de 60 anos. A lista inclui o responsável pelo maior massacre do gênero na história dos EUA: então com 64 anos, Stephen Paddock matou 60 pessoas e deixou centenas feridas em um festival de música country em Las Vegas, em 2017.

Assim, pesquisadores têm pouco conhecimento sobre padrões de comportamento desses atiradores. O que se sabe é que, diferentemente dos mais jovens, eles tendem a não comunicar suas intenções com antecedência, e em geral as ações não são guiadas por ideologia nem têm uma mensagem específica.

Os atos também não costumam ser motivados por ódio ou pela busca de fama, mas por problemas legais, financeiros ou ligados a relacionamentos —como dívidas ou conflitos familiares.

Os atiradores também têm, em geral, fichas criminais e constantemente estabelecem como alvo seus locais de trabalho —caso de Tran, que no início dos anos 2000 deu aulas de dança na boate que invadiu— ou ambientes frequentados por comunidades que conhecem intimamente.

Os pesquisadores sublinham, porém, que os autores dos ataques de Monterey Park e Half Moon Bay têm uma diferença marcante em relação aos demais atiradores de mais de 60 anos: ambos eram de origem asiática, enquanto os representantes dessa faixa etária costumam ser brancos.

Ao mesmo tempo, dois fatores ligam o comportamento dos dois ao dos demais. Eram homens, como 98% dos atiradores da base de dados do Violence Project. Os massacres são, ainda, uma espécie de último ato —eles são mortos na cena do crime, cometem suicídio, como no caso de Tran, ou esperam ser presos. "Ataques a tiros em massa representam um ato final de desesperança e raiva", dizem os pesquisadores.

Os casos na Califórnia aumentaram o histórico de massacres com armas nos EUA. Segundo a ONG Gun Violence Archive, que acompanha a violência armada no país, foram registrados 40 casos do tipo desde o início do ano até esta quarta-feira (25), média de 1,66 por dia.

De 2018 a 2021, o número de ataques provocados por atiradores nos EUA dobrou, segundo relatório do FBI divulgado em maio. No primeiro ano do levantamento foram 30 ações provocadas por um ou mais indivíduos com a intenção de matar em áreas populosas. Em 2021, esse número subiu para 61.

Ainda segundo o Gun Violence Archive, houve 354 ataques a tiros que envolveram mortes no ano passado. Mais de 44 mil pessoas morreram devido a armas de fogo no país em 2022, mais da metade das quais por suicídio. Os EUA têm mais armas do que pessoas: um a cada três adultos possui ao menos um artefato do tipo e quase um a cada dois adultos vive em uma casa onde há uma arma.

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