Lula encontra líderes estrangeiros em 1º dia e ouve promessas de retomada de diálogo

Presidente português cutuca Bolsonaro e diz que Brasil 'faz falta'; chileno critica isolamento da Venezuela

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Brasília

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) destinou seu primeiro dia de trabalho, nesta segunda-feira (2), para receber, em encontros bilaterais em sequência, uma série de delegações estrangeiras. Entre os líderes que se reuniram com o petista estão os chefes de Estado de Portugal, Espanha e Argentina.

Ao deixar o gabinete do Palácio do Itamaraty, muitos políticos exaltaram o futuro das relações com o Brasil. O presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, disse que o país "faz muita falta" no cenário internacional, em referência ao isolamento imposto pelo governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebe o seu colega argentino, Alberto Fernández, em reunião no Palácio do Itamaraty. A foto mostra os dois homens em pé e apertando as mãos
Lula recebe o presidente da Argentina, Alberto Fernández, para encontro no Palácio do Itamaraty - Pedro Ladeira/Folhapress

Ele também confirmou uma viagem de Lula a Portugal, entre 22 e 25 de abril, quando, entre outros compromissos, assistirá à entrega do prêmio Camões de 2019 a Chico Buarque.

Os encontros com os chefes de governo e de Estado, que viajaram ao Brasil para prestigiar a cerimônia de posse do petista, fizeram com que Lula programasse para esta terça (3) a ida ao velório de Pelé, em Santos. Até as 18h, o petista havia recebido dez líderes internacionais, o que também atrasou a cerimônia de posse de Mauro Vieira como ministro das Relações Exteriores, inicialmente marcada para 19h.

Lula chegou pela manhã ao Palácio do Itamaraty, em Brasília, para as reuniões. O primeiro encontro foi com o rei da Espanha, Felipe 6º. Na sequência, estavam agendadas outras 16 bilaterais, com autoridades sobretudo da América Latina, mas também de países europeus, asiáticos e africanos.

A agenda internacional extensa logo no primeiro dia de trabalho contrasta com a posição no cenário internacional durante a gestão Bolsonaro. O primeiro chanceler do antigo governo, Ernesto Araújo, chegou a afirmar que o Brasil era um "pária internacional", em uma das muitas críticas ao sistema multilateral.

Ao chegar à reunião com Lula, o presidente português aproveitou para dar um cutucão velado aos tempos do antecessor do petista, citando a ausência brasileira nos fóruns internacionais. "Brasil multilateral, Brasil na cena internacional, Brasil nas organizações [internacionais] faz muita falta", afirmou Rebelo de Sousa —com quem Bolsonaro chegou a desmarcar um jantar, gerando certo desconforto diplomático, após o político se encontrar com o petista ainda na época da campanha.

O chefe de Estado português acrescentou que iria tratar da data da viagem do presidente para Portugal. Em novembro, pouco depois de eleito, Lula esteve em Lisboa com Rebelo e o primeiro-ministro, António Costa, em uma escala na volta da COP27, no Egito.

A nova ida de Lula ao país europeu, em abril, vai coincidir com o feriado do Dia da Liberdade de Portugal e a entrega do prêmio Camões a Chico Buarque —o compositor e escritor ainda não recebeu oficialmente o troféu, entre outros motivos porque Bolsonaro se recusou a assiná-lo.

"Foi um encontro fraternal, muito rápido, mas muito eficaz. É assim, com uma família é assim. Pelo menos é assim comigo e com o presidente Lula", disse o presidente português.

O presidente argentino, Alberto Fernández, aliado histórico do petista, dirigiu a mesma crítica indireta a Bolsonaro, ressaltando a ausência do Brasil em organizações internacionais como algo "evidente". Segundo o político, ele e Lula acordaram em voltar a "colocar em marcha" a relação entre os dois vizinhos.

"Do ponto de vista institucional, foi uma grande reunião, também porque decidimos claramente voltar a colocar em marcha o vínculo entre Argentina e Brasil com toda a força que esse vínculo sempre teve. Nos últimos quatro anos foi difícil, mas acho que agora os dois estamos convencidos da importância desse vínculo e da necessidade de dar a esse vínculo a transcendência que ele merece", afirmou.

Fernández exaltou ainda a tendência brasileira de voltar a priorizar os fóruns regionais da América Latina, como vem sendo dito pelo chanceler de Lula, Mauro Vieira.

"Obviamente que compartilho o desejo de voltar a unir a América Latina como espaço comum. Nós dois achamos que a Celac pode suprir isso, mas não conseguiu a institucionalidade que merece. Seguramente no dia 23 falaremos de tudo isso e no dia 24 nos reuniremos na [cúpula da] Celac, em Buenos Aires. Lula é um líder regional, vai dar um impulso à América Latina muito importante", disse, em referência à viagem programada do petista para a Argentina, para o encontro do colegiado latino-americano e caribenho.

O chileno Gabriel Boric, outro que teve agenda com Lula, afirmou que um dos assuntos tratados na conversa foi a situação da Venezuela. O líder esquerdista defendeu a reintegração do país em fóruns internacionais. "Para a solução da crise que a Venezuela viveu nos últimos anos, é relevante que se volte a incorporá-la nos circuitos multilaterais. Os problemas não se resolvem isolando os países, mas sim incorporando-os e fortalecendo a democracia."

Boric também defendeu uma "posição unificada" da América Latina e acrescentou que Brasil e Chile têm uma "cumplicidade". Após o encontro, o Ministério das Relações Exteriores anunciou a concessão do chamado agrément para Sebastián Depolo, indicado do esquerdista, se tornar embaixador no Brasil.

A indicação estava havia meses na gaveta. O jovem político chileno criticou Bolsonaro diversas vezes, fazendo associações do ex-presidente ao fascismo.

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