Maria Laura da Rocha se torna 1ª secretária-geral do Itamaraty e promete atuar por diversidade

Mulheres diplomatas vestiram roupas lilás na cerimônia de transmissão de cargo em Brasília

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Brasília

A diplomata Maria Laura da Rocha assumiu na tarde desta quarta-feira (4) o posto de secretária-geral do Ministério das Relações Exteriores. Ela se torna, assim, a primeira mulher na história a ocupar o cargo —o segundo mais importante da hierarquia da diplomacia brasileira.

A cerimônia de transmissão de cargo foi realizada no Palácio do Itamaraty, em Brasília. Em seu discurso, a auxiliar do chanceler Mauro Vieira prometeu trabalhar para aumentar a diversidade na pasta.

"Como primeira mulher a ser nomeada secretária-geral, não medirei esforços para evidenciar o que a casa ganha em múltiplas dimensões valorizando as suas funcionárias mulheres e a diversidade dos seus quadros. O objetivo da igualdade de gênero deve pairar sobre todas as ações do ministério", afirmou.

Maria Laura da Rocha discursa após assumir o comando da secretaria-geral do Ministério de Relações Exteriores, no Palácio do Itamaraty, em Brasília
Maria Laura da Rocha discursa após assumir o comando da secretaria-geral do Ministério de Relações Exteriores, no Palácio do Itamaraty, em Brasília - Gustavo Magalhães/MRE/Divulgação

"Vamos cuidar para que o Itamaraty seja um ator engajado, em parceria com outros órgãos e com a sociedade civil, para ampliar o número de mulheres, negras e negros, pessoas menos favorecidas e candidatos de todas as regiões do país recrutados para as nossas carreiras."

A cerimônia de transmissão de cargo também foi marcada por um movimento de diplomatas mulheres, que vestiram roupas na cor lilás para celebrar o fato de Maria Laura ser a primeira secretária-geral do sexo feminino. A cor é associada ao movimento sufragista e ao feminismo.

Nos trabalhos de transição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), chegou-se a cogitar a possibilidade de uma mulher ser nomeada ministra das Relações Exteriores, algo inédito. No final, porém, Lula optou por Vieira, que já havia sido chanceler no governo de Dilma Rousseff (PT) —o que frustrou parte da diplomacia.

À Folha após ser escolhida para o cargo Maria Laura defendeu as demandas de diversidade na área. "Queremos continuar esse caminho, ter muitas profissionais no topo da carreira, mais mulheres no comando. Chegará um momento em que teremos uma ministra das Relações Exteriores. É inevitável."

Na cerimônia desta quarta, discursou na mesma linha do novo chanceler, ao mencionar o projeto de reconstrução da diplomacia brasileira e de reaproximação com países e blocos multilaterais, citando a necessidade de "reconstruir pontes". Também disse que o setor fará o país voltar à posição de "grande nação em desenvolvimento e que detém a maior floresta tropical do mundo", prometendo que o Brasil contribuirá para cumprir as metas do Acordo de Paris sobre Mudanças Climáticas.

A embaixadora afirmou, por fim, que dará especial atenção para a reconstrução de uma unidade do Itamaraty para atender e dar proteção e assistência a brasileiros que vivem no exterior. Aos servidores disse que estará à frente de uma secretaria-geral "amorosa", aberta a ouvir os desafios do serviço externo.

Maria Laura da Rocha é diplomata de carreira, tendo ingressado nos anos 1970 no Instituto Rio Branco. Seu último cargo no exterior foi de embaixadora do Brasil em Bucareste, na Romênia. Ela também chefiou as missões brasileiras junto à FAO e à Unesco —órgãos das Nações Unidas para alimentação e agricultura e para educação, ciência e cultura, respectivamente.

Nos primeiros governos de Lula, foi chefe de gabinete do então chanceler, Celso Amorim —ainda hoje principal conselheiro do petista para a área internacional e padrinho da indicação de Vieira.

Durante a cerimônia desta quarta, o novo chanceler teceu diversos elogios a Maria Laura, destacando sua experiência e dizendo que ela tem "refinada habilidade política". Ressaltou também a luta das mulheres e das minorias para exercer a carreira diplomática e as propostas do atual governo para corrigir injustiças.

Vieira ainda ressaltou o fato de que a chegada de Maria Laura à secretaria-geral se dá mais de um século após o ingresso de Maria José de Castro Rebello, primeira diplomata e funcionária pública concursada do Brasil. "A diversidade não pode ser entendida apenas de forma instrumental. Por um lado, é inegável que um corpo de funcionários diverso e inclusivo aumenta a excelência do trabalho diplomático [...] Por outro, resta óbvio que a maior presença de colegas negras e negros, mulheres, indígenas, pessoas LGBTQIA+, com deficiência e oriundas de distintas regiões do Brasil constitui o alicerce maciço sobre o qual se assenta a própria democracia", afirmou.

O ministro das Relações Exteriores disse ainda que "práticas autoritárias que macularam a história do país" impactaram a evolução na carreira de mulheres. Citou a data de 1938, quando mulheres foram impedidas de ingressar no serviço exterior, e criticou a perseguição a diplomatas homossexuais.

"É igualmente justo homenagear a memória dos colegas que foram expurgados da carreira por sua orientação sexual e por razões ideológicas, em diferentes momentos da nossa história", afirmou.

O chanceler disse ainda que sua gestão vai estudar maneiras de reabrir representações encerradas durante o governo Bolsonaro. "Faz-se necessário assegurar lotação adequada de postos C e D e de postos consulares e estudar maneiras e meios de reabrir embaixadas que foram fechadas na África e no Caribe."

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