Descrição de chapéu ataque à democracia Itália

Netanyahu condena ataque em Brasília e amplia isolamento de Bolsonaro mesmo entre conservadores

Lideranças como Meloni, Modi e Duda defendem democracia no Brasil; Trump, Orbán e Bukele não se posicionaram

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

O premiê de Israel, Binyamin Netanyahu, condenou nesta terça (10) o que chamou de "violentos distúrbios" em Brasília, em referência à invasão orquestrada por uma multidão bolsonarista no domingo (8).

"Israel condena os violentos distúrbios e apoia as instituições democráticas brasileiras e o Estado de Direito", diz nota publicada pelo perfil oficial do primeiro-ministro de ultradireita no Twitter. "Não há espaço para protestos violentos em uma democracia, e a vontade do povo, expressa nos resultados das eleições, deve ser respeitada."

O então presidente Jair Bolsonaro (PL) durante cerimônia na Academia Militar das Agulhas Negras em Resende, no Rio de Janeiro - Tércio Teixeira - 26.nov.22/AFP

Netanyahu, que recentemente assumiu um novo mandato à frente do governo de Israel, é ideologicamente alinhado a Jair Bolsonaro (PL) e fez campanha por ele contra Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Sua manifestação aprofunda o isolamento do ex-presidente e indica que, mesmo para aliados internacionais do bolsonarismo, o silêncio prolongado diante do ataque à democracia brasileira não seria bem-vindo.

O ex-presidente dos EUA Donald Trump, que insuflou a invasão do Capitólio em 6 de janeiro de 2021movimento considerado a inspiração dos extremistas que atacaram Brasília—, não se pronunciou publicamente sobre a insurreição brasileira. Viktor Orbán, primeiro-ministro da Hungria e acusado de minar a democracia em seu país, também ignorou o assunto em suas manifestações públicas —seu chanceler ofereceu ajuda à campanha de Bolsonaro para tentar viabilizar a reeleição em outubro.

Além de Netanyahu, porém, líderes de Itália e Polônia também condenaram os ataques a Brasília. A italiana de ultradireita Giorgia Meloni a princípio compartilhou uma publicação de um de seus vices, Antonio Tajani, em que ele dizia que "qualquer ato de violência contra as instituições democráticas deve ser veementemente condenado".

Pouco mais de uma hora depois, fez um post próprio. "O que está acontecendo no Brasil não pode nos deixar indiferentes. As imagens da irrupção nas sedes das instituições são inaceitáveis e incompatíveis com qualquer forma de dissidência democrática. O retorno à normalidade é urgente, e nos solidarizamos com as instituições brasileiras."

Tajani, aliás, que também é chanceler do país, negou nesta terça (10) que Jair Bolsonaro (PL) tenha solicitado cidadania italiana e afirmou que a obtenção do documento é pouco provável para o ex-presidente. Ele vinha sendo questionado no Parlamento por deputados de esquerda a respeito de uma possível solicitação do político de extrema direita, mas não tinha se posicionado sobre o assunto.

O polonês Andrzej Duda, também expoente da direita ultraconservadora, não condenou diretamente os ataques, mas fez uma publicação em tom quase resignado defendendo a democracia. "A democracia não é perfeita. Às vezes, apenas 50% + 1 dos eleitores estão satisfeitos. Mas nada melhor foi inventado para garantir o bem-estar das pessoas. As instituições democráticas (eleições) são sagradas. O presidente Lula venceu e tem o apoio do mundo democrático, incluindo a Polônia!"

Outras figuras de proa da ultradireita, mas que não são chefes de Estado, engrossaram as falas de repúdio aos ataques à democracia no Brasil. "Atacar as sedes do poder e da representação cidadã é atacar a democracia. A violência perpetrada contra as instituições brasileiras para contestar a eleição do presidente Lula deve ser condenada firmemente", escreveu a deputada francesa Marine Le Pen.

Os também parlamentares Santiago Abascal, da Espanha, Javier Milei, da Argentina, e María Fernanda Cabal, da Colômbia, compartilharam uma nota do grupo Foro Madrid. O texto "condena da maneira mais categórica a violência" em Brasília, para em seguida apontar um duplo padrão de líderes de esquerda, dizendo que políticos como Gabriel Boric e Gustavo Petro incentivaram manifestações em que houve atos de vandalismo.

"À diferença da esquerda, os que defendemos a democracia e as liberdades mantemos um só critério: a violência não se justifica em nenhuma circunstância", diz a nota, pedindo que esses líderes condenem também as ditaduras de Cuba, Venezuela e Nicarágua. "Do contrário, ficam desautorizados [de críticas aos ataques em Brasília], na medida em que reafirmam a cumplicidade com formas de violência."

O português André Ventura, do Chega, definiu o domingo de "um dia triste" para o Brasil. "Às vezes, os líderes têm de ir contra os seus próprios apoiadores para fazer valer as regras democráticas", disse, em referência a Bolsonaro, a quem chamou de presidente. "É o apelo que faço [...], para que serene os ânimos e possa dar às autoridades novamente condições de ocupar os edifícios da democracia brasileira."

Na Índia, o premiê Narendra Modi, alinhado ao manual nacionalista que guia o bolsonarismo, expressou "profunda preocupação" com o que chamou de "tumultos e vandalismo" em Brasília. "As tradições democráticas devem ser respeitadas por todos. Estendemos nosso total apoio às autoridades brasileiras", afirmou o indiano, marcando na publicação o perfil oficial de Lula.

Outros dois líderes à direita que compartilham com Bolsonaro tendências autocráticas não se posicionaram publicamente sobre os ataques às sedes dos Três Poderes: Alejandro Giammattei, eleito na Guatemala com uma plataforma de defesa de valores cristãos e combate ao crime semelhante à do brasileiro, e Nayib Bukele, presidente de El Salvador que se apelidou nas redes de o "ditador mais cool" —ele aparelhou a Suprema Corte, tem atuado para silenciar a imprensa independente e decretou um estado de exceção seguido de uma série de denúncias de abusos e maus-tratos.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.