Descrição de chapéu Coronavírus China

OMS acessa dados da China e afirma que país deixou de mostrar impacto real da Covid

Entidade confirma subnotificação da crise sanitária e conclui que não há novas variantes no país apesar da alta circulação

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Um dia depois de enviar uma comissão de especialistas à China para discutir a crise sanitária, a Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmou nesta quarta-feira (4) que os dados do país asiático não mostram nenhuma nova variante do coronavírus, mas indicam que o regime de Xi Jinping deixou de reportar os efeitos reais da pandemia de Covid-19, em especial o número de mortes.

"Os números atuais sub-representam o impacto real da doença em termos de internações hospitalares, em UTIs e, particularmente, em termos de mortes", disse Mike Ryan, diretor de emergências da entidade.

Pacientes em leitos e macas em departamento de emergência de um hospital em Xangai, na China, em meio a surto de Covid - 4.jan.23/Reuters

A OMS teve acesso a dados fornecidos pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças da China (CDC), segundo os quais as variantes dominantes na explosão de casos que se seguiu ao fim da política de Covid zero são as linhagens BA.5.2 e BF.7. Como essas cepas já são conhecidas pelos cientistas, a confirmação pela OMS tranquiliza, ao menos por enquanto, os temores de que a alta circulação do vírus entre os chineses pudesse ser a incubadora para uma nova variante.

A transparência dos dados oficiais da China, porém, ainda segue como fator de atenção. O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, disse que a entidade está preocupada com "o risco à vida" no país e que seguirá buscando relatórios "mais rápidos, regulares e confiáveis" sobre hospitalizações e mortes.

"Com a circulação [do vírus] tão alta e dados abrangentes não disponíveis, é compreensível que alguns países estejam tomando medidas que acreditam proteger os próprios cidadãos", afirmou o etíope, em referência às restrições impostas a viajantes chineses —que Pequim considera irracionais, fruto de manipulação política e sem embasamento científico.

Na terça-feira (3), o gigante asiático confirmou mais cinco mortes por Covid, elevando o número oficial de óbitos desde o início da pandemia a 5.258. O número real de vítimas pode ser quase o dobro disso, mas em termos diários. A empresa de análise e consultoria em biotecnologia Airfinity, sediada no Reino Unido, estimou que cerca de 9.000 pessoas estão morrendo em decorrência da Covid todos os dias na China.

Para Ryan, parte da discrepância pode ser atribuída ao conceito de morte pelo vírus usado na China. "Acreditamos que a definição é muito restrita", disse o diretor, apontando que óbitos por Covid só são classificados dessa maneira quando, necessariamente, há um quadro de insuficiência respiratória.

Com cautela, Ryan insinuou que o caminho para um retrato mais fiel talvez seja fugir da dependência das cifras oficiais. "Não desencorajamos médicos e enfermeiros a relatar essas mortes e esses casos. Temos uma abordagem aberta para poder registrar o impacto real da doença na sociedade."

Desde dezembro, quando os relatos de hospitais e funerais lotados começaram a se multiplicar, a China registrou oficialmente 22 novas mortes. "Isso é totalmente ridículo", disse Zhang, 66, morador de Pequim que informou apenas seu sobrenome à agência de notícias Reuters. "Quatro dos meus parentes próximos morreram. Isso é apenas de uma família. Espero que o governo seja honesto com as pessoas e com o resto do mundo sobre o que realmente aconteceu aqui."

Em um editorial nesta quarta, o Diário do Povo desenhou um cenário bem mais otimista. "A China e o povo chinês certamente obterão a vitória final contra a epidemia", diz o texto publicado pelo principal jornal do Partido Comunista. A publicação também refuta as críticas à política de Covid zero, encerrada no mês passado depois de uma rara onda de protestos que se espalhou pelo país.

Com AFP e Reuters

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.