Biden vai discutir Guerra da Ucrânia com Lula, tema que divide os dois presidentes

'Não é o momento para agir como de habitual', diz Autoridade do Conselho de Segurança Nacional americano

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Washington

Na pauta da reunião de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Joe Biden na Casa Branca, na sexta (10), um tema de discordância entre Brasil e EUA estará à mesa, em meio a consensos sobre democracia e ambiente.

O governo americano vai incluir o tema da Guerra da Ucrânia, conflito prioritário para o governo americano, segundo John Kirby, coordenador de comunicação estratégica do Conselho de Segurança Nacional.

A conversa entre os presidentes terá "não só assuntos regionais e do Brasil, mas do Hemisfério e globais", disse ele em conversa com jornalistas nesta quarta (8). "A Guerra da Ucrânia teve um efeito ao redor do mundo. Segurança alimentar e segurança energética foram as principais maneiras pelas quais a guerra de Putin afetou nações em todo o mundo. E teve um impacto profundo particularmente na América Latina."

O presidente dos EUA, Joe Biden, discursa durante evento em Washington
O presidente dos EUA, Joe Biden, discursa durante evento em Washington - Andrew Caballero-Reynolds - 2.fev.23/AFP

Enquanto o governo americano articula o envio de um novo pacote de armas para Kiev na casa de US$ 1,75 bilhão (R$ 9,13 bilhões), Lula manteve a política de Jair Bolsonaro (PL) de evitar interferência mais direta no conflito e negou pedido da Alemanha para repassar munições a tanques do lado ucraniano.

Questionado pela Folha se a neutralidade do Brasil incomoda Biden, Kirby afirmou que a postura do país é parte de "decisões soberanas que as nações têm de tomar". "E respeitamos isso", disse ele, antes de descrever a guerra como "totalmente desprezível" e deixar clara a posição americana: "Só posso falar pelos EUA. Não acreditamos que seja momento para ‘business as usual’ [agir de modo habitual]".

A declaração de Kirby ecoa o discurso do Estado da União que Biden fez no Congresso, na noite desta terça (7), durante o qual afirmou que os EUA "estarão com a Ucrânia por quanto tempo for necessário".

Em café com jornalistas e blogueiros na manhã de terça, Lula afirmou que vai recusar uma possível proposta americana para compor os esforços da guerra. "Não acredito que o presidente Biden venha me convidar para participar do esforço de guerra pela Ucrânia, porque o Brasil não participará", disse, segundo o site Opera Mundi. "O Brasil é um país que não tem contencioso, e nós não precisamos de contencioso. Temos muitos problemas internos para resolver, temos a fome para resolver, e eu acho que nós precisamos tratar disso antes de tratar de qualquer coisa relacionada com a Ucrânia".

Outro assunto que pode aparecer na pauta americana e que divide os dois países é a influência chinesa na região —Lula deve visitar Pequim no próximo mês. Maior parceiro comercial do Brasil e maior rival geopolítico dos EUA, Pequim viu as tensões com Washington dispararem depois que o Pentágono identificou um balão, que afirma ser de espionagem, sobrevoando o espaço aéreo americano. China e EUA confirmaram que havia outro balão do mesmo tipo sobrevoando a América do Sul.

"Nós trabalhamos de maneira próxima com os nosso parceiros do hemisfério ocidental em muitos assuntos", disse Kirby, ao afirmar que a China "entra nos países com promessas vazias com empréstimos com juros altos e não se importam com o que deixam para trás". "Não é assim que os EUA fazem negócio. Nós trabalhamos em parceria com nossos amigos e aliados ao redor do mundo, e isso certamente vai continuar na América Latina. Todos compartilhamos ameaças, desafios e oportunidades, e é nisso que estamos focados."

O petista chega a Washington acompanhado dos ministros Mauro Vieira (Relações Exteriores), Fernando Haddad (Fazenda), Marina Silva (Meio Ambiente) e Anielle Franco (Igualdade Racial), além do assessor especial da Presidência Celso Amorim, principal conselheiro de Lula para política externa. Também viajam o secretário do Ministério do Desenvolvimento Econômico Marcio Elias Rosa e o senador Jaques Wagner.

O presidente se hospedará na Blair House, residência do governo americano onde costumam ficar líderes estrangeiros. Lula disse que preferia ficar em um hotel, mas foram levadas em conta questões de segurança, devido à agressividade de alguns apoiadores de Bolsonaro e à possibilidade de protestos.

Na Blair House, o esquema de segurança não permite nenhum tipo de ato não pacífico, e o acesso à praça onde a residência está localizada costuma ser restringido durante a visita de delegações estrangeiras.

No local, Lula receberá o senador americano Bernie Sanders pela manhã e se encontrará com deputados do Partido Democrata. À tarde, ele participa de um encontro com representantes da AFL-CIO (Federação Americana de Trabalho e Congresso de Organizações Industriais), maior central sindical do país.

Depois, será recebido por Biden na Casa Branca. Ele volta ao Brasil no sábado (11).

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