Brasil veta navios de guerra do Irã no Rio em semana de visita de Lula aos EUA

Governo não se opõe a visita de embarcações, mas entende que data proposta por Teerã visa a provocar Washington

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Brasília

O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vetou uma solicitação feita pelo Irã para que embarcações de guerra do país persa atracassem no Rio de Janeiro em uma visita oficial na semana em que o petista se encontra com o líder dos Estados Unidos, o democrata Joe Biden.

O pedido foi visto por auxiliares de Lula como uma tentativa de Teerã de usar o Brasil para provocar os EUA —o que motivou a decisão de não atender à solicitação em data tão próxima à viagem a Washington.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva discursa durante evento no Rio de Janeiro
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva discursa durante evento no Rio de Janeiro - Mauro Pimentel - 6.fev.23/AFP

Em 13 de janeiro, o Brasil chegou a autorizar oficialmente o atracamento das embarcações militares Iris Makran e Iris Dena no porto do Rio de Janeiro entre os dias 23 e 30 do mesmo mês. Embora exista forte pressão diplomática dos Estados Unidos para que os países da América Latina neguem esse tipo de permissão à Marinha iraniana, o Itamaraty adota o princípio de não reconhecer sanções unilaterais, apenas as aprovadas pelo Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas).

Nesse sentido, não haveria razões para negar a solicitação de Teerã.

As autorizações são dadas oficialmente pela Marinha, que cuida de questões logísticas, mas elas só são confirmadas após negociações entre os respectivos ministérios de Relações Exteriores. De acordo com fontes da Marinha, o espaço para as embarcações já estava designado pelo porto do Rio.

Lá, os navios iriam se reabastecer, e a tripulação passaria alguns dias na cidade. O plano repassado à Marinha envolvia a estadia por um curto período, até que seguissem para o Canal do Panamá, para exercícios militares. Embarcações de guerra, o Iris Makran possui mísseis e canhões navais, e o Iris Dena, usado no apoio logístico de navios de combate, tem capacidade para transportar até cinco helicópteros.

Em nota, a Marinha brasileira disse que "não houve atracação no referido período [de 23 a 30 de janeiro]". Procurada, a embaixada do Irã em Brasília não fez comentários. Pessoas com conhecimento das tratativas disseram reservadamente que os iranianos fizeram uma nova solicitação oficial para que os navios pudessem atracar no Rio, num período que compreende o final de fevereiro e o início de março.

A consulta foi levada para avaliação do governo. À Folha o Itamaraty disse que a nova data acertada com o país persa para que os navios atraquem é de 26 de fevereiro a 3 de março. Segundo a chancelaria, a justificativa para a visita oficial é a celebração dos 120 anos das relações diplomáticas entre Brasil e Irã.

No entanto, a Folha apurou que em seguida houve uma sugestão informal de autoridades iranianas para saber se o Brasil aceitaria antecipar a passagem dos navios para esta semana. Uma oficialização do pedido seria feita somente em caso de resposta positiva. Após análise, conselheiros de Lula avaliaram que o gesto seria uma provocação do Irã aos EUA, elaborada para coincidir com a reunião de Lula e Biden.

Assim, a possibilidade de conceder a autorização foi descartada.

Questionado sobre essa consulta informal, o Itamaraty não comentou. Lula viajou a Washington nesta quinta (9) e se encontra com Biden no final da tarde de sexta. Mais cedo no mesmo dia, tem reuniões com o senador Bernie Sanders e com deputados do Partido Democrata. Também tem agenda com membros da central sindical Federação Americana de Trabalho e Congresso de Organizações Industriais.

As viagens de navios militares do Irã pela América Latina são encaradas de forma distinta pelos países da região. Em dezembro, o Uruguai informou que havia negado autorização para que uma embarcação do país persa atracasse no porto de Montevidéu. A passagem estava prevista para o final de fevereiro.

Os argumentos usados pelo governo do Uruguai foram solidariedade à Argentina, devido à suspeita de participação de altas autoridades iranianas no atentado contra a Amia (Associação Mutual Israelita Argentina), ocorrido em Buenos Aires, em 1994, e à violência do regime contra mulheres no país.

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