Descrição de chapéu Governo Biden

Funeral de Tyre Nichols reúne Kamala e símbolos antirracistas dos EUA

Vice-presidente defende aprovação de reforma policial em cerimônia que homenageia homem negro morto em Memphis

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São Paulo

Familiares e amigos de Tyre Nichols, homem negro de 29 anos morto por policiais em Memphis, despediram-se do americano em um funeral nesta quarta-feira (1º), após o caso gerar comoção e revolta com as cenas da violência tornadas públicas por autoridades locais.

A vice-presidente dos EUA, Kamala Harris, compareceu à cerimônia, assim como familiares de outras vítimas do racismo e da violência policial no país, como Tamika Palmer, mãe de Breonna Taylor, morta a tiros em 2020 no Kentucky, e Philonise Floyd, irmão de George Floyd, além de familiares de Eric Garner.

RowVaughn Wells, mãe de Tyre Nichols, chega acompanhada de familiares ao funeral do filho - Lucy Garrett - Getty Images via AFP

Durante breve fala, Kamala fez uma homenagem à família de Nichols, a quem elogiou pela força, e disse que a violência contra o homem de 29 anos não pode ser justificada como uma medida para manter a segurança pública. "Fosse assim, Nichols ainda estaria entre nós."

A democrata ainda usou o espaço para voltar a defender a aprovação da Lei George Floyd, uma das bandeiras do governo de Joe Biden que, no entanto, está há mais de dois anos travada no Congresso.

A proposta reforça as punições a agentes em casos de má conduta, limita o uso da força e propõe uma base nacional de dados sobre a atuação dos profissionais, para impedir que um policial demitido retome a função. A medida foi aprovada na Câmara, mas ficou estagnada no Senado devido à atuação republicana.

O funeral ocorreu na Igreja Cristã de Mississippi Boulevard, fundada em 1921 e conhecida como a primeira igreja afro-americana de Memphis, cidade onde Nichols morava desde 2020 para ficar mais perto da mãe.

O reverendo Al Sharpton, importante ativista de direitos humanos dos EUA, também participou. Na terça (31), ele disse que esse foi mais um caso que todos pensaram que "ninguém se importaria". "Mas bem, a vice virá ao funeral, assim como pessoas de todo o mundo. Neste momento, somos todos Tyre Nichols."

Sharpton, que tem participado ativamente da mobilização contra a violência policial, também criticou os policiais envolvidos na morte de Nichols —todos negros—, chamando-os de traidores. "Pessoas tiveram de marchar, muitas foram presas e outras até mortas para abrir as portas para vocês", disse, referindo-se à mobilização contra o racismo nos EUA. "Como vocês ousam agir como se esse sacrifício fosse em vão?"

O reverendo lembrou ainda a luta de Martin Luther King e o fato de que o ativista foi morto em Memphis. "Cinco homens negros, que nunca se imaginariam num esquadrão de elite... Vocês espancaram um irmão até a morte, na cidade em que dr. King perdeu sua vida, não longe daquela sacada [em que ele foi assassinado em 1968]. Não há nada mais ofensivo para nós que lutamos para abrir portas do que vocês entrarem por essas portas e agirem como os caras contra quem tivemos que lutar para abri-las a vocês."

Perto do caixão de Nichols, adornado com flores, o pastor J. Lawrence Turner, líder da igreja, o descreveu como "uma boa pessoa, de linda alma, um filho, pai, irmão, amigo e ser humano que se foi muito cedo. "Teve os direitos à vida, à liberdade e à busca da felicidade retirados." Ele também pediu transparência, responsabilidade e ação legislativa no país, referindo-se à reforma policial abordada por Kamala.

Durante a cerimônia, Tiffany Rachal, mãe de Jalen Randle, homem negro que no ano passado também foi morto pela polícia, participou do funeral e cantou música gospel em memória de Nichols.

Ainda não foi esclarecido o motivo para que o homem negro, pai de um menino de 4 anos e funcionário de uma empresa de serviço postal, fosse parado pela polícia no dia 7 de janeiro, quando foi espancado, chutado e atingido com gás de pimenta. Três dias depois, ele morreu devido ao que uma autópsia independente descreveu como uma hemorragia severa decorrente das contusões.

As imagens das agressões foram divulgadas na noite da última sexta (27) e transmitidas na TV, o que despertou protestos em Memphis e em outros locais dos EUA. Após a repercussão, o departamento de polícia local anunciou ter desativado as atividades da unidade responsável pela morte de Nichols.

Os cinco policiais envolvidos no espancamento, todos negros, já haviam sido indiciados na quinta-feira (26) por homicídio, agressão, sequestro e outros crimes. Eles também foram demitidos. Ao menos quatro deles já tinham sido alvo de processos disciplinares da polícia de Memphis.

O departamento ainda afastou dois agentes ligados ao caso. Dois socorristas e uma tenente acionados para o atendimento de Nichols foram demitidos pelo corpo de bombeiros sob alegação de má conduta.

Com The New York Times e Reuters

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