Descrição de chapéu América Latina

Governo Boric diz que Chile dará nacionalidade a expatriados por Ortega

Chanceler da Argentina, em ato semelhante, afirma que país também está disposto a acolher opositores nicaraguenses

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São Paulo

O governo de Gabriel Boric anunciou nesta terça (21) que o Chile concederá nacionalidade aos ex-presos políticos da Nicarágua expatriados por Daniel Ortega. Destoando de outros líderes de esquerda da região, o chileno tem criticado a ditadura de Manágua.

Em nota, a chancelaria do país disse que "a defesa da democracia e dos direitos humanos transcende conjunturas políticas e forma parte dos pilares civilizatórios essenciais de uma sociedade".

Apoiador do ditador da Nicarágua, Daniel Ortega, durante manifestação pró-regime na capital Manágua
Apoiador do ditador da Nicarágua, Daniel Ortega, durante manifestação pró-regime na capital Manágua - Oswaldo Rivas - 11.fev.22/AFP

No último dia 9, a Justiça nicaraguense, controlada por Ortega, deportou aos EUA 222 ex-presos políticos, dos quais também tirou a nacionalidade e os direitos políticos. Poucos dias depois, estendeu a medida a outros 94 opositores, muitos no exílio, entre os quais jornalistas e escritores reconhecidos. A punição impõe aos que não têm outra nacionalidade a condição de apátridas.

Boric vinha se manifestando sobre o assunto nas redes sociais. No fim de semana, ao compartilhar uma publicação de uma opositora de Ortega, escreveu que "o ditador não sabe que uma pátria está no coração e nos atos, de modo que não pode ser privada por um decreto".

O político costuma ser um notório crítico da ditadura. "Irrita-me quando a esquerda condena violações de direitos humanos no Iêmen ou em El Salvador, mas não fala sobre Venezuela ou Nicarágua", afirmou ele em setembro passado nos EUA. "O respeito aos direitos humanos não deve ter um padrão duplo."

Os escritores exilados Sergio Ramírez e Gioconda Belli, que estão entre os que tiveram sua nacionalidade retirada, agradeceram Boric. "Obrigado por encarnar a dignidade e a integridade ao não se calar sobre a Nicarágua", afirmou Ramírez, vencedor do prêmio Cervantes. "Sua mensagem acende luzes novas na América Latina. Obrigada pela ternura e pela solidariedade", escreveu a poetisa Belli.

Sinalização semelhante à do Chile veio da Argentina. O chanceler Santiago Cafiero disse a uma rádio local que o governo de Alberto Fernández está disposto a conceder cidadania aos mais de 300 opositores de Ortega recentemente expatriados.

"A Argentina sempre falou sobre a necessidade de que a Nicarágua volte a respeitar os direitos humanos e condenou a perseguição que muitos nicaraguenses sofreram", disse Cafiero. Horas depois, a porta-voz da Casa Rosada, Gabriela Cerruti, disse que o governo deve conceder cidadania a pessoas como o escritor Sergio Ramírez e a poetisa Gioconda Belli.

O governo do premiê Pedro Sánchez, da Espanha, já havia oferecido nacionalidade aos ex-presos no dia em que foram libertos e estendido o direito aos demais expatriados que foram alvo de Ortega.

A medida parece ser a nova estratégia da ditadura para silenciar a dissidência que está fora do país, já que internamente a oposição foi controlada. Opositores são considerados "traidores da pátria", título dado àqueles que "firam os interesses supremos da nação" ou "aplaudam a imposição de sanções".

Além da perda de cidadania, também foram suprimidos, de forma perpétua, os direitos políticos de concorrer em eleições e de exercer cargos públicos, e os acusados foram considerados fugitivos. Imóveis e empresas que tenham no país estão sendo confiscados pelo Estado.

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