'Não consegui soltar sua mão', diz homem fotografado com filha morta em terremoto na Turquia

Fotógrafo reencontra Mesut Hancer após tragédia; imagem do turco ao lado de corpo gerou comoção

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Ancara | AFP

A imagem de um pai segurando a mão da filha morta sob escombros rodou o mundo, causando forte comoção. O momento foi captado pelo repórter fotográfico Adem Altan, em Kahramanmaras, perto do epicentro do terremoto que devastou cidades e matou mais de 44 mil pessoas na Turquia e na Síria.

Quase três semanas após a tragédia, Altan voltou a se encontrar com o turco Mesut Hancer. Pai de quatro filhos, entre os quais a adolescente Irmak, que morreu aos 15 anos sob os escombros de um prédio de oito andares, ele deixou recentemente Kahramanmaras, no sudeste turco, e foi morar na capital, Ancara.

Mesut Hancer segura a mão de sua filha Irmak, 15, morta no terremoto na cidade turca de Kahramanmaras
Mesut Hancer segura a mão de sua filha Irmak, 15, morta no terremoto na cidade turca de Kahramanmaras - Adem Altan - 7.fev.23/AFP

"Também perdi minha mãe, meus irmãos e meus sobrinhos no terremoto. Mas não há nada comparável a enterrar um filho. É uma dor indescritível", afirma Hancer. Sua família tenta agora reconstruir a vida longe de Kahramanmaras, localizada perto do epicentro do tremor de magnitude 7,8.

A foto de Hancer, indiferente ao frio e à chuva e vestindo um casaco laranja, simbolizou a tragédia vivida por milhares de pessoas e gerou uma onda de solidariedade. Um empresário de Ancara ofereceu-lhe uma casa e propôs contratá-lo como funcionário administrativo em sua rede de televisão privada.

Na sala de sua casa nova, ele pendurou um quadro, presente de um artista, no qual Irmak é retratada com asas de anjo ao lado do pai. "Não consegui soltar sua mão. Minha filha dormia como um anjo", diz Hancer.

Quando o terremoto ocorreu, às 4h17 de 6 de fevereiro (22h17 do dia 5, em Brasília), Hancer trabalhava em sua padaria. Imediatamente, ele ligou para a família e soube que sua casa tinha sofrido danos, mas que não havia desmoronado, e sua mulher e três de seus quatro filhos estavam sãos e salvos.

Mas a família não tinha notícias da filha caçula, Irmak, que naquela noite dormiu na casa da avó para passar mais tempo com as primas de Istambul, que foram visitá-las. Então, Hancer, muito preocupado, foi rapidamente para a casa da mãe e ali se deparou com o imóvel transformado em uma montanha de escombros. Em meio às ruínas, encontrou o corpo da filha.

Nenhuma equipe de socorristas apareceu na área nas 24 horas que se seguiram à catástrofe. Hancer e outros moradores tiveram que usar seus próprios meios para tentar encontrar familiares nos escombros.

Mesut Hancer segura quadro no qual Irmak aparece retratada com asas de anjo
Mesut Hancer segura quadro no qual Irmak aparece retratada com asas de anjo - Adem Altan - 25.fev.23/AFP

Ele tentou retirar o corpo da filha morta, erguendo blocos de concreto com as mãos. Mas era uma tarefa impossível. Desesperado e frustrado, sentou-se ao lado do corpo de Irmak. "Peguei a mão dela, acariciei seu cabelo e beijei suas bochechas." Minutos depois, viu o repórter fotográfico que retratava as consequências do terremoto. "Faça fotos da minha filha", disse ele, com a voz embargada.

Após o terremoto no início do mês, a região convive com tremores secundários. Nesta segunda (27), pelo menos uma pessoa morreu e 69 ficaram feridas após um terremoto de magnitude 5,6 e profundidade de 6,15 km atingir o leste da Turquia, de acordo com a Afad, órgão de gestão de emergências e desastres.

Vários prédios já danificados desabaram com o novo sismo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.