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Número de sem-teto na França dobra em 10 anos

Estudo afirma que mulheres e pessoas LGBTQIA+ são as mais afetadas pela vulnerabilidade impulsionada pela alta inflação

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RFI

Pessoas sem-teto ou em moradias precárias são cada vez mais numerosas e vulneráveis à inflação na França, segundo a Fundação Abbé Pierre em relatório anual apresentado na quarta-feira (1º).

O estudo critica a insuficiência de esforços do governo para remediar o desafio. Mulheres e pessoas LGBTQIA+ são as que mais sofrem.

Voluntário caminha perto de pessoas em situação de rua durante ação de distribuição de marmitas em Bordeaux, na França
Voluntário caminha perto de pessoas em situação de rua durante ação de distribuição de marmitas em Bordeaux, na França - Philippe Lopez - 11.dez.22/AFP

A Fundação estima o número de desabrigados no país em 330 mil —30 mil acima do registrado no ano anterior e um aumento de cerca de 130% em relação a 2012, data do último estudo sobre esse assunto realizado pelo Instituto Nacional de Estatísticas.

Mas o diretor de estudos da fundação, Manuel Domergue, calcula que esse número pode ser ainda maior. No total, 4,15 milhões de pessoas vivem em condições precárias, segundo a fundação, que inclui nesta categoria aqueles que vivem em locais demasiadamente pequenos para si ou privadas de confortos básicos —como cozinha, banheiro e aquecimento.

A categoria habitação precária, que inclui situações como precariedade energética ou inquilinos com contas em atraso, agrupa 12,1 milhões de pessoas, ou mais de um sexto da população francesa.

Precariedade e gênero

A fundação se debruçou sobre as vulnerabilidades específicas sofridas por mulheres e pessoas LGBTQIA+. Elas correm o risco, revela o estudo, de cair em moradias precárias em quatro momentos da vida: ao deixar a casa dos pais, após separação conjugal, herança e viuvez.

A inflação, que acelerou significativamente em 2022, coloca em dificuldade as famílias de baixa renda ao aumentar seus custos com moradia, transporte e alimentação, observa a fundação.

Uma pessoa com renda mínima ou uma família monoparental pode se encontrar "no vermelho" ou comendo restos para viver, simplesmente pagando despesas cotidianas, explica o estudo, que calculou os tipos de orçamento familiar em vários municípios.

Inação governamental

À semelhança dos anos anteriores, a fundação aponta críticas ao governo, considerando que 2022 foi "um ano que passou em branco ou quase na luta contra a habitação precária".

"Raramente o fosso pareceu tão grande entre, por um lado, o estado de habitação precária e, por outro, a inadequação das respostas públicas para tornar a habitação acessível."

As ajudas distribuídas para mitigar o impacto da inflação não são, segundo o estudo, suficientemente direcionadas. A ajuda à renovação da habitação, cujo orçamento foi ampliado em 2023, é considerada insuficiente porque financia poucas renovações.

'Contra os pobres'

O "esforço público para a habitação", que reúne ajuda governamental às pessoas e à produção, representou em 2021 apenas 1,5% do PIB francês, valor que não era tão baixo desde pelo menos 1991.

O controle do valor dos aluguéis e a luta contra as locações sazonais do tipo Airbnb ainda são muito tímidos, segundo a fundação.

O Estado faz, às vezes, políticas "contra pobres", diz a organização, tendo como alvo a reforma do seguro-desemprego, que visa a reduzir a duração das indenizações, ou o projeto de lei contra pessoas que acampam em imóveis vazios ou abandonados, examinado recentemente pelo Senado.

Na frente mais urgente, se o governo desistiu de eliminar as vagas em alojamentos de emergência, "o próprio fato de ter pensado em reduzi-las é um sinal bastante preocupante", aponta Christophe Robert.

Com AFP

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