ONU aprova resolução por retirada de tropas russas da Ucrânia com apoio do Brasil

Representação brasileira foi a única dos países do Brics a não se abster ou votar contra

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São Paulo

A Assembleia-Geral da ONU aprovou nesta quinta-feira (23) uma resolução que condena as "nefastas consequências humanitárias" da invasão da Ucrânia pela Rússia, exige a retirada das tropas de Moscou do país no Leste Europeu e se compromete com a promoção da paz na região.

O Brasil, que em outras votações sobre o conflito chegou a optar pela abstenção, foi favorável à resolução.

O texto teve 141 votos a favor, 7 contra e 33 abstenções. Os votos contrários foram do grupo que apoia a Rússia, como Belarus, Síria e Coreia do Norte. Já entre os que se abstiveram estão China, Índia, Irã e África do Sul. A resolução não é vinculativa, mas tem peso político —em especial no momento em que foi votada.

Assembleia-geral da ONU em sessão especial para votar resolução que condenou invasão da Ucrânia pela Rússia
Assembleia-geral da ONU em sessão especial para votar resolução que condenou invasão da Ucrânia pela Rússia - Timothy A. Clary - 23.jan.23/AFP

A reunião dos 193 estados-membros do órgão acontece um dia antes de a Guerra da Ucrânia completar um ano, nesta sexta-feira (24). As tensões cresceram nos últimos dias, após o presidente russo, Vladimir Putin, suspender a participação de seu país no último acordo de controle de armas nucleares.

Reafirmando que não reconhecerá anexações territoriais derivadas do uso da força, o texto vitorioso na Assembleia-Geral exige a imediata retirada das tropas russas. O documento ainda reitera mais de uma vez o compromisso com a paz geral, justa e duradoura da Ucrânia e a integridade territorial do país.

Em nota, o embaixador Ronaldo Costa Filho, representante permanente do Brasil junto às Nações Unidas, afirmou que o país votou a favor da resolução "devido à necessidade urgente de a Assembleia-Geral reafirmar seu compromisso inabalável de defender os princípios fundamentais da Carta da ONU e do direito internacional, ao mesmo tempo em que ressalta a necessidade de alcançar a paz".

Há estimativas de que já houve 65 mil casos de crimes de guerra e 40 mil civis mortos ou feridos até agora na guerra. O líder da Ucrânia, Volodimir Zelenski pede a criação de um tribunal especial da ONU para punir a Rússia —que, segundo ele, deveria ser privada de seu direito de veto no Conselho de Segurança.

Os dois lados do conflito e seus aliados pressionaram os Estados-membros da ONU na véspera da votação. "Veremos como as nações do mundo se posicionam sobre a questão da paz na Ucrânia", disse a embaixadora dos EUA Linda Thomas-Greenfield à Assembleia Geral nesta quarta (22).

"Todos os membros devem rejeitar ameaças ou uso da força contra a integridade territorial e política de qualquer Estado em suas relações internacionais", afirmou o secretário-geral António Guterres.

Já a Rússia descreveu o texto como "desequilibrado e anti-russo". "O Ocidente ignorou descaradamente nossas reclamações e continuou construindo infraestrutura militar da Otan cada vez mais próximo às nossas fronteiras", afirmou na quarta o embaixador da Rússia na ONU, Vassili Nebenzia.

A Ucrânia esperava aprofundar o isolamento diplomático ao qual a Rússia foi imposta desde a invasão, conseguindo pelo menos três quartos dos votos dos Estados-membros.

Antes da votação desta quinta, o Brasil havia apoiado duas resoluções contra a Rússia no ano passado —uma que condenava a anexação de porções do território da Ucrânia e outra que condenava a invasão.

Um texto votado em novembro passado que reconhecia a Rússia como responsável pela reparação da Ucrânia, porém, não foi apoiado pelo Brasil. À época, a organização decidiu que o país deverá "arcar com as consequências legais de todos os seus atos ilícitos pela lei internacional". A medida, como as demais da entidade, tem peso apenas simbólico.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem defendido a criação de um grupo de países para negociar o fim da guerra. No final de janeiro, o Brasil negou um pedido do governo da Alemanha para fornecer munição a tanques que seriam repassados a Kiev, para não abalar sua posição de neutralidade.

Com Reuters

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