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Podcast discute futuro da Lua para turismo milionário e sob disputa de potências

Programa de Princeton recebe cientista que vê o satélite também como potencial ponto de observação do universo

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São Paulo

Para que serve a Lua? A resposta do astrofísico Joseph Silk, 80, é simples e bem utilitária. A Lua serve como plataforma para a futura instalação de imensos telescópios que permitirão identificar estrelas e planetas localizados a muitos milhões de anos-luz.

Silk é autor de "Back to the Moon: The Next Giant Leap for Humankind (de volta à Lua: o próximo salto gigante da humanidade), que faz campanha para que, ao lado da virtual exploração de minérios, a Lua também seja usada para a observação de corpos celestes distantes da nossa galáxia.

Silhueta de avião comercial vista contra a Lua na Cidade do Kuwait - Yasser Al-Zayyat - 8.nov.22/AFP

Formado em Cambridge, professor em Harvard e em Oxford e pesquisador do Instituto de Astrofísica de Paris, Silk foi o convidado em dezembro do podcast da Universidade Princeton. O veterano cientista afirma que telescópios em solo lunar têm ao menos duas vantagens em relação ao Hubble e ao Webb, que estão em órbita ao redor da Terra: serão bem mais baratos e estarão fora da área de interferência de sinais magnéticos humanos.

Silk está em campanha por sua ideia e faz concessões para difundi-la ao afirmar, por exemplo, que, meio século após as missões Apollo, a Lua tem tudo para se tornar ponto turístico. Os viajantes a princípio se limitariam a permanecer em órbita ao redor do satélite natural da Terra —o que já lhes custaria alguns milhões de dólares— e só num segundo momento desceriam a resorts construídos em solo lunar.

"É claro que seria um turismo muitíssimo caro", diz o cientista. "Mas as viagens aéreas também o eram no início da aviação civil e depois se tornaram bem mais acessíveis."

Silk estima que as melhores localizações para os futuros telescópios lunares estarão na face oculta do satélite. O local não está sujeito a interferências da Terra e se abriria para o infinito em busca de respostas para perguntas fundamentais como a origem do universo e a existência de outros planetas habitados.

A Terra existe há aproximadamente 2,5 bilhões de anos, um planeta relativamente jovem. Planetas bem mais velhos podem ter experimentado a existência de alguma forma de vida há muito mais tempo. Esses planetas talvez tenham tido a evolução interrompida e, por isso, num futuro distante, poderiam nos ensinar como se reconstrói uma civilização depois de um intervalo de milhões de anos. Estamos em plena ficção científica. Mas nada nos impede de imaginar.

A motivação inicial para uma corrida à Lua será, porém, econômica, afirma Silk. Potências com tecnologia para a empreitada –hoje apenas EUA, Rússia e China– irão atrás de minérios raros em solo lunar. Pode-se especular sobre problemas de direito internacional, militarização da Lua e questões como precedência. Até que ponto uma potência delimitará um território para sua mineração, impedindo que a potência que chegou depois tenha acesso à mesma riqueza?

O cientista diz esperar que os governos da Terra tenham o mesmo bom senso que demonstraram na divisão da Antártida, onde estações de países diferentes convivem sem problemas de soberania. Esse conjunto de questões está sujeito, claro, à viabilidade econômica da exploração mineral lunar.

A tendência é que uma viagem lunar custe infinitamente menos do que a Nasa desembolsou com o projeto Apollo. Só então os minérios de origem na Lua ficarão bem menos caros e poderão ser matéria-prima disponível para a iniciativa privada.

Ainda em termos de custo, Silk volta a colocar sua colher no projeto dos telescópios lunares. Argumenta que eles serão incomparavelmente mais baratos que o programa das naves reutilizáveis da Nasa, que já chegou ao fim e que teve como modesta finalidade o transporte de astronautas até estações espaciais.

Silk é um visionário que, pelas instituições em nome das quais pesquisou, também faz parte de um circuito institucional que o afastou do anonimato. Em outras palavras, se seu projeto de telescópio lunar vingar, é mais que provável que no futuro seu nome seja dado a um deles. Exatamente como aconteceu com os visionários James Webb e Edwin Powell Hubble.

Joseph Silk, "Back to the Moon: The Next Giant Leap for Humankind"

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