O número de mortos da tragédia provocada pela colisão de dois trens na Grécia, na noite desta terça-feira (28), deve crescer, uma vez que as temperaturas dentro do primeiro vagão de um dos veículos superaram 1.300°C, de acordo com o porta-voz do Corpo dos Bombeiros, Vassilis Varthakogiannis, nesta quarta (1º).
"Isso faz com que seja difícil identificar as pessoas que estavam lá. A cifra confirmada é de 36 óbitos, mas, baseados nesses fatos e no que vimos na cena da tragédia, o número esperado é maior."
Quase 24 horas após dois trens, um de passageiros e outro de carga, colidirem perto da cidade de Larissa, sobreviventes e parentes de vítimas buscam saber de quem é a responsabilidade pelo acidente. Além das mortes, há ainda 85 feridos, 66 dos quais hospitalizados —cerca de 350 pessoas estavam nos vagões.
Os veículos viajavam em direções opostas na mesma linha e se chocaram a cerca de 350 km ao norte da capital grega, Atenas, a velocidades que a mídia local reportou como superiores a 160 km/h, reduzindo um deles a uma massa mutilada de aço. Assim, o incidente definido como "tragédia indescritível" pelo primeiro-ministro Kyriakos Mitsotakis gerou questões se a catástrofe poderia ter sido evitada, ainda que o próprio premiê tenha indicado a uma emissora que o acidente ocorreu devido a "um trágico erro humano".
A imprensa registrou relatos de que o software de sinal eletrônico não estava funcionando, o que significa que a sinalização foi feita manualmente, e os sindicatos reclamam da escassez crônica de funcionários. A OSE, operadora estatal de infraestrutura ferroviária do país, não respondeu a pedidos de comentários nem emitiu uma declaração, e o ministro dos Transportes, que chorou ao visitar o local do desastre, renunciou.
Em poucas horas, a polícia grega prendeu o chefe da estação, acusando-o de morte por negligência. O homem de 59 anos negou as acusações, atribuindo o acidente a uma possível falha técnica.
Partes dos serviços ferroviários da Grécia foram privatizadas em 2017 sob um programa de resgate multibilionário da União Europeia e do Fundo Monetário Internacional. A Hellenic Train, unidade da Ferrovie dello Stato da Itália que adquiriu operações de passageiros e carga, disse que está trabalhando com as autoridades na investigação. "Ainda é muito cedo [para determinar a causa], mas mais de dois fatores são necessários para que um acidente desse tipo ocorra", disse Nikos Tsikalakis, chefe do sindicato dos trabalhadores da OSE, em uma aparente referência a erro humano e falha técnica.
Segundo Tsikalakis, cerca de 750 trabalhadores estão hoje empregados no setor, número bem abaixo das ao menos 2.100 pessoas que inicialmente deveriam estar atuando para que o sistema ferroviário operasse de forma eficaz, de acordo com um plano aprovado pelo estado. Outro sindicalista, Yiannis Ditsas, afirmou que apenas parte do sistema de sinalização de Atenas a Thessaloniki foi concluído, com o restante sendo feito manualmente. "Alertamos isso pelo menos nos últimos 25 anos", afirmou ele à TV estatal.
Ao renunciar, Kostas Karamanlis disse que assumiu a pasta dos Transportes em 2019 com infraestrutura "imprópria para o século 21", algo que prometeu melhorar. "Esses esforços não foram suficientes."
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