DeSantis indica guerra cultural como prioridade em corrida pela Casa Branca

Potencial sucessor de Trump fala ao Legislativo no dia em que republicanos propõem restringir direito ao aborto na Flórida

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São Paulo

Ron DeSantis, governador da Flórida e um dos mais cotados para candidato republicano à Casa Branca em 2024, sinalizou nesta terça (7), em discurso para o Legislativo estadual, aquele que deve ser o cerne de sua administração: o apoio a guerras culturais nos EUA.

"Nossas escolas devem oferecer boa educação, não doutrinação política", disse, referindo-se a uma das frentes em que seu governo tem atuado —a de ameaça à liberdade acadêmica a nível de ensino básico e superior. Outra delas são os direitos reprodutivos.

O governador da Flórida, o republicano Ron DeSantis, durante discurso ao Legislativo na capital Tallahassee
O governador da Flórida, o republicano Ron DeSantis, durante discurso ao Legislativo na capital Tallahassee - Cheney Orr/AFP

Pouco antes do discurso, legisladores republicanos apresentaram um pacote de projetos de lei para proibir a maioria dos abortos após seis semanas de gestação —estariam excluídos casos de estupro e incesto, mas não os que a vida ou saúde da mulher estivessem em risco.

Maioria no Legislativo estadual, os correligionários de DeSantis já haviam aprovado no ano passado um projeto para proibir abortos após 15 semanas de gestação, na esteira da decisão da Suprema Corte que suspendeu o direito constitucional à interrupção voluntária da gravidez, em junho passado.

A Flórida havia se tornado um reduto para mulheres de outros estados que haviam aprovado leis mais restritivas. Muitas iam ao estado para acessar o procedimento —dados mostram que o número de abortos feitos por mulheres de outras localidades em 2022 foi 38% maior que no ano anterior.

Se avançar no Legislativo, o pacote apresentado nesta terça-feira será sancionado pelo governador, como já manifestou o próprio. DeSantis disse que apoiava o que chamou de uma legislação "pró-vida" e que achava que as exceções para casos de estupro e incesto eram sensatas.

O republicano discursou no dia de abertura dos trabalhos legislativos estaduais –algo similar ao discurso do Estado da União proferido por Joe Biden há um mês. No evento, o presidente ou governador deve prestar contas e divulgar prioridades de sua administração.

Na fala, DeSantis pediu que os legisladores ignorem o que chamou de "ruído de fundo" –críticas– enquanto buscam aprovar suas agendas. "Nos encontramos na linha de frente da batalha pela liberdade", afirmou. "Juntos, fizemos da Flórida o destino mais desejado do país e produzimos resultados históricos. Mas agora não é hora de descansar."

DeSantis também prometeu proibir quaisquer novas obrigações relacionadas à pandemia de Covid, dando seguimento a um discurso que, ainda que que contrariasse a ciência, o ajudou a colher apoio de correligionários nas etapas iniciais da crise sanitária.

À época, ele foi contra a obrigatoriedade do uso de máscaras e da vacinação. Nesta terça ele recordou disso manifestando orgulho. "Desafiamos os especialistas, resistimos às elites, ignoramos a tagarelice", disse DeSantis. "Fizemos do nosso jeito, do jeito da Flórida."

O governador foi reeleito nas midterms —as eleições de meio de mandato— em novembro. Seu primeiro mandato foi marcado por medidas como a sanção de uma lei que permite que pais de alunos do ensino infantil processem docentes que mencionem em sala de aula temas relacionados a sexualidade. A medida foi apelidada de "Don't Say Gay" (não diga gay).

Mais recentemente, em janeiro, o líder da Flórida baniu uma iniciativa para implementar um curso sobre estudos afro-americanos no ensino médio. Como argumento, disse que o projeto visava a doutrinação.

"Esse curso de história negra tem como um de seus tópicos a teoria queer; isso significa que alguém está impondo uma agenda política às nossas crianças", afirmou ele na ocasião.

DeSantis é tido como o nome favorito para suceder Donald Trump na liderança republicana. Ainda que o ex-presidente tenha manifestado que buscará a vaga, sua popularidade desidratou nas fileiras do partido. Outro nome que já se colocou na disputa é o de Nikki Haley, ex-embaixadora na ONU e ex-governadora da Carolina do Sul que busca ser a primeira mulher candidata do partido à Presidência.

Neste fim de semana, durante a na CPAC, evento de direita que ocorre em Washington e reúne lideranças desse espectro, como o brasileiro Jair Bolsonaro, Trump se autoproclamou o 47º presidente dos EUA e disse, entre outras coisas, que irá "terminar o que começamos".

Com Reuters

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