Feminicídios geram indignação na China e reação a políticas de incentivo ao casamento

Redes sociais chinesas são palco de críticas a violência de gênero e a falta de proteção a mulher

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Pequim | Reuters

Os assassinatos de duas mulheres de origens sociais distintas na China na semana passada têm provocado indignação e reações da população contra políticas do regime de incentivo ao casamento, diante da falta de proteção às mulheres contra a violência doméstica.

Em Hong Kong, foram encontradas partes do corpo da modelo Abby Choi, 28, o que levou à prisão de seu ex-marido e de dois familiares dele. Já na zona rural de Henan, uma mulher de 24 anos foi esfaqueada pelo marido durante uma "disputa familiar", segundo autoridades, que afirmaram ter prendido o homem.

Policiais do lado de fora da casa onde partes do corpo da modelo Abby Choi, 28, foram encontradas, em Hong Kong
Policiais do lado de fora da casa onde partes do corpo da modelo Abby Choi, 28, foram encontradas, em Hong Kong - Tyrone Siu - 27.fev.23/Reuters

Em um momento em que a China tenta incentivar o aumento do número de casamentos para conter o declínio demográfico, os dois casos repercutiram nas redes sociais com críticas e questionamentos às políticas do regime. "Se você não casa, apanha do namorado. Se é casada, apanha do marido. Se é divorciada, apanha do ex-marido", afirmou um usuário no Weibo, principal rede social chinesa. "Não casar e não ter filhos é realmente a opção mais segura", escreveu outra pessoa.

A hashtag "mulher de 24 anos morre após ser esfaqueada oito vezes pelo marido" teve mais de 200 milhões de visualizações apenas nesta terça-feira (28). Outros casos recentes, como o de uma mulher encontrada acorrentada na província de Jiangsu e um vídeo de um grupo de mulheres sendo agredidas por homens na cidade de Tangshan, também provocaram indignação na internet.

Em outubro passado, Pequim aprovou uma nova lei de proteção à mulher, que tem como alvo a discriminação de gênero e o assédio sexual —embora o texto também afirme que mulheres devem "respeitar os valores familiares", sem deixar claro quais seriam esses valores.

Promulgado em 2020, o novo código civil da China implementou uma lei que impõe a casais um "período de reflexão" de ao menos 30 dias depois de entregar os documentos que formalizam a decisão de separação. Desde então, usuários nas redes sociais têm criticado autoridades, acusadas de ignorar os pedidos, embora exista uma regra que abre exceção para casos de violência doméstica.

Os questionamentos na internet são maiores quando ocorrem casos de violência. Em 2021, uma mulher foi condenada a três anos de prisão por matar o marido após ser espancada por ele. Nas redes sociais, usuários defenderam a mulher e culparam a morosidade do sistema legal chinês pela tragédia —ela tentava se divorciar do marido desde 2019.

Dados de 2022 mostram que a China viu sua população diminuir pela primeira vez em 62 anos, um cenário já previsto, mas antecipado diante de queda histórica nas taxas de natalidade e casamento.

O resultado, estimado para ocorrer apenas em 2025, sugere um legado duvidoso das políticas de natalidade de Pequim, a mais famosa delas, a de filho único, vigente de 1979 a 2015, que permitia apenas um filho por casal. Eficaz para conter a explosão demográfica à época, a medida criou raízes na sociedade chinesa e dificultou a retomada de nascimento necessária atualmente, mesmo após sua suspensão.

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