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França tem novos protestos contra reforma da Previdência de Macron

Em Paris, polícia interditou praça da Concórdia; em Bordeaux, nove pessoas foram presas

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São Paulo

O fim de semana da França teve início com novos protestos contra a reforma da Previdência, no terceiro dia de mobilizações após o presidente Emmanuel Macron atropelar a votação na Assembleia Nacional para impor a mudança nas aposentadorias.

Proibidos de ocupar a praça da Concórdia, os manifestantes de Paris começaram a se reunir na praça da Itália por volta das 18h do horário local e iniciaram uma caminhada. De acordo com a emissora BFM, há 4.000 pessoas na manifestação, na qual houve confronto quando tentaram atear fogo em latas de lixo e fazer barricadas. Já no começo da tarde, dezenas de manifestantes entraram no shopping Châtelet-Les Halles e abriram faixas de protesto após seguranças do estabelecimento tentarem barrá-los com bombas de fumaça.

Houve manifestações em pelo menos 14 cidades. Segundo o jornal Le Monde, as autoridades contabilizaram 2.000 pessoas em Caen, 1.200 em Saint-Etienne, 6.000 em Nantes, 6.000 em Brest e 1.900 em Bordeaux —números que podem mais do que dobrar de acordo com a contabilização dos organizadores.

Também houve confronto em Bordeaux, onde manifestantes colocaram fogo em lixeiras. A polícia usou gás lacrimogêneo e prendeu nove pessoas.

Greves e mobilizações contra a controversa reforma do presidente aconteciam desde janeiro pacificamente, mas o cenário mudou nos últimos dias. A manobra de Macron, que recorreu ao artigo 49.3 da Constituição para aprovar o projeto de lei do governo sem a chancela parlamentar, deu novo impulso aos protestos.

Manifestantes provocam incêndio durante protesto em Bordeaux, no sudoeste da França - Thibaud Moritz/AFP

O dispositivo constitucional, visto como pouco democrático, foi uma aposta radical do governo diante das incertezas sobre a votação na Casa de uma reforma considerada crucial para a agenda reformista de Macron.

Na noite de quinta, 310 pessoas foram presas —258 delas só em Paris, onde cerca de 10 mil manifestantes ocuparam a praça da Concórdia. Na sexta-feira (17), cerca de 4.000 pessoas se reuniram no mesmo local, onde houve um princípio de incêndio. Grupos lançaram sinalizadores e garrafas contra as forças de segurança, que responderam com gás lacrimogêneo; 61 foram presos.

As últimas manifestações levaram a polícia francesa a proibir concentrações neste sábado na praça, que fica em frente ao Parlamento. As pessoas que tentarem se reunir nos locais serão dispersadas e poderão ser multadas, afirmou a polícia à agência de notícias AFP.

"O que eu vou responder aos jovens que me dizem que votar não serve para nada? Eu elegi um deputado que não pode votar. Estamos em plena negação da democracia", disse à AFP Nathalie, uma mulher de 30 anos que protestava em Besançon.

A proposta aumenta a idade de aposentadoria de 62 para 64 anos até 2030 e adianta para 2027 a exigência de 43 anos de contribuição para acessar a aposentadoria integral —atualmente são necessários 42 anos.

'Viver sim, sobreviver não', lê-se em cartaz de manifestante em Paris - Julien de Rosa/AFP

A reformulação também mexe nos chamados regimes especiais —aqueles dedicados a atividades consideradas mais penosas, como as de garis, bombeiros, policiais e enfermeiros, que podem se aposentar antes das demais categorias, teriam a idade mínima elevada de 57 para 59 anos.

Segundo o governo, a reforma vai representar uma economia de € 18 bilhões (cerca de R$ 101 bilhões). Ela representa uma aproximação da França aos parâmetros adotados por outros países da União Europeia, que já elevaram suas idades mínimas de aposentadoria.

A proposta, apresentada em janeiro pela primeira-ministra, Elisabeth Borne, gerou uma articulação intersindical que não se via há pelo menos 12 anos. Uma nova onda de protestos é esperada para a próxima quinta-feira (23), na semana em que deputados da oposição apresentarão duas moções de censura. A aprovação de qualquer uma delas, cenário considerado improvável, anularia o decreto presidencial e forçaria a renúncia de Borne.

Segundo o secretário-geral da CGT, a refinaria da TotalEnergies na Normandia, norte da França, está paralisada desde a noite de sexta. Além disso, lixo se acumula em Paris por causa da greve de garis —os funcionários estão parados há 12 dias. Em assembleia desta sexta, os trabalhadores decidiram continuar a paralisação até pelo menos terça-feira (21). A estimativa é que haja 10 mil toneladas de lixo nas ruas.

Sindicatos de professores também convocaram novas greves para a semana que vem, às vésperas do vestibular unificado francês, enquanto grupos do setor industrial programaram uma greve nacional para a quinta. Já a paralisação dos controladores de tráfego aéreo vai afetar as viagens: na sexta, o governo pediu o cancelamento de 30% dos voos do aeroporto de Orly, na periferia de Paris, e 20% dos de Marselha-Provence, na próxima segunda-feira (20).

Com AFP

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