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Ministro de Israel pede que governo interrompa controversa reforma judicial

Yoav Gallant, chefe da pasta da Defesa, manifesta preocupação com segurança nacional e coesão do Exército

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São Paulo

Em uma fala ensaiada havia dias, o ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, correligionário do premiê Binyamin Netanyahu, pediu neste sábado (25) que o governo interrompa a tramitação da controversa reforma judicial no Knesset, o Parlamento.

Em um pronunciamento televisionado, Gallant destoou de Bibi, como é conhecido o premiê, e disse estar preocupado com o que tem visto. "A divisão na sociedade tomou conta também do Exército, e isso é um perigo imediato e tangível para a segurança do Estado", afirmou ele.

O ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, durante encontro com autoridades dos EUA na cidade de Lod
O ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, durante encontro com autoridades dos EUA na cidade de Lod - Amir Cohen - 9.mar.23/Reuters

"Precisamos de uma mudança no Judiciário, mas grandes mudanças devem ser feitas com diálogo", seguiu. "O processo legislativo [sobre a reforma judicial] deve ser interrompido."

Fatiada em vários pontos, a reforma do governo de Netanyahu, o mais à direita da história de Israel, é apontada por opositores e especialistas como um instrumento que corrói a democracia à medida que mina a independência do Judiciário israelense.

Mas Bibi, mesmo que pressionado domesticamente por uma série de protestos em massa e diplomaticamente pelos EUA de Joe Biden, seguiu defendendo a polêmica medida.

Em um aguardado discurso na última quinta (23), quando cogitou-se, ainda que de forma frágil, que ele poderia recuar, o premiê disse que quer os principais pontos da reforma aprovados nos próximos dias.

O líder da oposição, o ex-premiê Yair Lapid, elogiou o discurso de Gallant. "O ministro da Defesa deu um passo corajoso e vital. O golpe [como chama a reforma] prejudica seriamente a segurança nacional e é seu papel impedir a deterioração do Estado", disse em comunicado.

O ministro da Defesa foi ecoado também por outros parlamentares do Likud, como Yuli Edelstein, que lidera o Comitê de Relações Exteriores e Defesa do Knesset, e David Bitan. Os dois elogiaram a fala de Gallant pouco depois e pediram a suspensão da reforma para que haja diálogo.

Já o ministro da Segurança Nacional, o extremista de direita Itamar Ben Gvir, pediu a Bibi que demita o ministro da Defesa.

Enquanto isso, cerca de 195 mil pessoas se reuniram em um grande protesto contra a reforma em Tel Aviv, segundo estimativas da mídia local. Organizadores afirmam que, em todo o país, foram mais de 630 mil. Esta é a 12ª semana consecutiva de grandes manifestações.

Falando na manifestação, o historiador Yuval Noah Harari, conhecido internacionalmente pela publicação de "Sapiens", afirmou que funcionários públicos e Forças Armadas devem obedecer aos tribunais, e não ao governo, caso Israel acabe em uma crise constitucional.

Dirigindo-se ao premiê, Harari disse: "Sabemos que você é responsável por tudo o que está acontecendo. Depois de 2.000 anos, ainda nos lembramos do faraó. E nós vamos lembrar de você. Não haverá ruas, praças ou aeroportos com o seu nome. Mas contaremos a história do homem que tentou nos escravizar e falhou".

Falando no mesmo comício, Shikma Bressler, um físico de renome mundial e líder de protestos, disse que o plano do governo de assumir o controle do comitê para escolher os juízes "é o primeiro dominó no caminho para a ditadura".

O pacote de leis apresentado pelo governo se baseia em basicamente dois pilares: modificar a forma como a nomeação de juízes e assessores jurídicos se dá no país, de modo que a coalizão governista tenha prevalência sobre as indicações, e frear a interferência da Suprema Corte sobre as legislações aprovadas no Parlamento.

Especialistas apontam que as mudanças podem comprometer seriamente o equilíbrio dos três Poderes e, em última instância, pôr em risco o Estado de Direito no país. A medida enfrenta resistência inclusive dentro do Exército, instituição central para a sociedade local.

Em uma carta que circulou na mídia local há alguns dias, centenas de reservistas voluntários de unidades militares especiais afirmaram que pretendem se negar a comparecer a exercícios militares e a servir caso o projeto do governo avance no Parlamento.

"Se este país não for mais democrático, simplesmente não vamos mais ser voluntários", disse à Deutsche Welle Guy Poran, um ex-piloto da Força Aérea. Há duas semanas, pilotos reservas do esquadrão de elite do país ameaçaram parar de treinar em protesto.

Homens e mulheres israelenses geralmente são recrutados para o serviço militar por um período de dois a três anos. Depois, alguns continuam a se alistar para funções de reserva até passarem dos 40 anos, e, mais tarde, tornam-se voluntários. Em algumas unidades, os reservistas assumem papéis essenciais devido à sua experiência.

Críticos do plano incluem ainda instituições financeiras e empresários da área de tecnologia de ponta, que alertaram a administração de que ele pode provocar prejuízos à economia israelense.

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