Netanyahu critica declaração anti-Palestina de ministro e mantém relação de 'morde e assopra' com EUA

Chefe das Finanças de Israel disse que vila palestina cenário de confrontos entre colonos e palestinos deveria ser extinta

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São Paulo

Quando Binyamin Netanyahu tomou posse mais uma vez como primeiro-ministro de Israel, jornais de várias partes do mundo destacaram que seu governo –o quarto desde os anos 1990– seria o mais à direita da história do país. Até aquele momento, os questionamentos mais frequentes eram sobre as consequências da guinada de Netanyahu para o Estado de Direito do país e para os palestinos, alvos frequentes de disputas territoriais na região.

Dito e feito: após pouco mais de dois meses, o governo de Netanyahu caminha para aprovar uma reforma judicial que aumenta a influência de sua ala política na Suprema Corte –tarefa nada silenciosa, já que milhares de israelenses contrários à proposta protestam com frequência nas ruas do país. Além disso, o premiê e seus ministros dão gás à espiral de violência que assola a Cisjordânia desde o início do ano.

Primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, preside reunião semanal de gabinete em seu escritório, em Jerusalém - Gil Cohen-Magen - 5.mar.23/AFP

O premiê, porém, talvez não tenha dimensionado as consequências de suas políticas para as relações diplomáticas de Israel, principalmente com seu maior aliado: os Estados Unidos. Neste domingo (5), por exemplo, Netanyahu precisou dar as caras para amenizar a declaração de seu ministro das Finanças, que na semana passada defendeu publicamente o fim de Huwara, um dos principais cenários dos últimos confrontos entre israelenses e palestinos.

A declaração de Bezalel Smotrich não agradou aos americanos, que tentam –ainda que de forma atabalhoada– conter os ânimos na região. O Departamento de Estado dos EUA chamou os comentários de irresponsáveis, repugnantes e nojentos.

Além disso, na quinta-feira (2), o porta-voz da pasta, Ned Price, criticou o aliado de Bibi, como é conhecido o premiê israelense. "Assim como condenamos a incitação palestina à violência, condenamos os comentários provocativos do ministro das Finanças Smotrich, que também equivalem a incitação a violência. É imperativo que palestinos e israelenses trabalhem juntos para restaurar a calma."

Coube a Bibi, então, colocar panos quentes na relação com os americanos. Neste domingo, o premiê israelense chamou os comentários de Smotrich de inapropriados. "É importante para todos nós trabalharmos para diminuir o tom da retórica e baixar a temperatura", tuitou Netanyahu em inglês.

O próprio Smotrich teve que voltar atrás; no sábado (4), disse que estava chateado quando fez a declaração e a descreveu como ruim. A mudança de discurso fez-se ainda mais necessária após especulações de que o ministro não seria bem recebido pela Casa Branca durante sua visita a Washington na próxima semana. Os palestinos, por exemplo, pediram ao governo dos EUA que não o receba.

Paralelamente, o secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, chegou ao Oriente Médio neste domingo e deve visitar Israel nos próximos dias –o país é um forte aliado dos americanos na disputa com o Irã. No sábado, aliás, o chefe da agência nuclear da ONU, Raphael Grossi, visitou Teerã e disse que "qualquer ataque militar a instalações nucleares é proibido". Foi um sinal tanto a americanos quanto a israelenses, e a carapuça serviu em Netanyahu, que chamou o comentário de Grossi de indigno.

Música nos ouvidos dos americanos à parte, Bibi também aproveitou o tuíte deste domingo para acenar aos aliados. Apesar do cutucão público em Smotrich, o premiê israelense provocou os críticos, acusando potências estrangeiras de minimizar o assassinato de dois irmãos israelenses na mesma Huwara. "Israel está esperando que a comunidade internacional insista para que a Autoridade Palestina condene esse ataque. Não só não o fez, como continua a fechar os olhos para a incitação desenfreada da AP", escreveu.

Os irmãos mortos em Huwara por um atirador eram de um assentamento judeu próximo, comunidade que os palestinos consideram intrusa nas terras ocupadas da Cisjordânia. A maioria das potências mundiais considera os assentamentos ilegais, mas Israel contesta essa visão.

Horas depois que os irmãos foram baleados em seu carro, os colonos se revoltaram em Huwara. Um homem palestino foi morto a tiros, dezenas de outros ficaram feridos, e casas e carros foram incendiados. Israel prendeu 10 suspeitos do ataque.

Vários dos ministros do gabinete de Netanyahu, aliás, são colonos na Cisjordânia, e a expansão dos assentamentos tinha sido uma de suas promessas de campanha.

Pelo menos 62 palestinos, incluindo homens armados e civis, foram mortos desde o início de 2023, disse o Ministério da Saúde palestino. Treze israelenses e uma turista ucraniana morreram em ataques palestinos no mesmo período, segundo Israel.

Paralelamente, neste domingo, um grupo de 37 reservistas da Força Aérea de Israel disse que não compareceria a um dia de treinamento em protesto contra as reformas judiciais propostas pelo governo. A instituição tradicionalmente conta com reservistas em tempos de guerra e exige que as tripulações que foram dispensadas treinem regularmente para manter a prontidão.

Com Reuters

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