Papa Francisco defende paridade salarial por gênero no Dia da Mulher

Mulheres ganharam protagonismo inédito no Vaticano na gestão do pontífice, mas ainda lutam por mudanças estruturais

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São Paulo

O papa Francisco condenou a disparidade salarial entre homens e mulheres e defendeu a igualdade de oportunidades para elas em uma pensata divulgada no site oficial do Vaticano nesta quarta-feira (8), quando se celebra o Dia Internacional da Mulher.

"Gosto de pensar que, se as mulheres tivessem acesso à igualdade de oportunidades, elas poderiam contribuir substancialmente para as mudanças necessárias para criar um mundo de paz", afirma o pontífice no texto, que serve de prefácio ao livro "More Women's Leadership for a Better World", ou mais liderança feminina para um mundo melhor, publicado pela editora italiana Vita e Pensiero.

Papa Francisco abençoa mulher nigeriana que foi vítima do grupo islâmico Boko Haram durante sua audiência semanal na praça São Pedro, no Vaticano
Papa Francisco abençoa mulher nigeriana que foi vítima do grupo islâmico Boko Haram durante sua audiência semanal na praça São Pedro, no Vaticano - Vatican Media via AFP

"É justo", prossegue ele, "que elas expressem essas habilidades em todos os âmbitos, não só no familiar, e possam ser remuneradas de maneira equânime em relação aos homens ao desempenhar papéis iguais".

A discussão sobre igualdade de gênero na Igreja Católica ganhou impulso na gestão do argentino, que levou mulheres a ganharem protagonismo inédito no Vaticano. Segundo dados da Santa Sé, a quantidade de mulheres que trabalham na Cúria Romana —isto é, a administração da igreja— quase triplicou desde a eleição de Francisco, em 2013, indo de 812 para 3.114. Sua presença em comparação com a de funcionários homens também aumentou em relação ao papado anterior e foi de 19,3% para 26,1%.

O menor Estado independente do mundo, com menos de mil habitantes, diz inclusive ser o único em que há paridade absoluta de remuneração em termos de gênero. Mesmo assim, as mulheres se queixam que o arcaísmo persiste intacto no catolicismo, seja na cúpula da igreja em Roma ou nas paróquias espalhadas pelo mundo. São as mulheres, geralmente irmãs consagradas, que servem padres, bispos e cardeais como empregadas domésticas, quase sempre sem nenhum direito reconhecido.

A possibilidade do diaconato feminino —primeiro degrau na ordenação católica, seguido por padres e bispos— tampouco avançou, embora o papa tenha criado uma comissão para discutir o tema em 2016.

Mulheres que trabalham no Vaticano ainda se queixam que as reformas de Francisco não impediram a permanência de uma mentalidade machista no coração da igreja. Em condição de anonimato, elas afirmaram à agência AFP que experimentam certo desdém recorrentemente, principalmente de clérigos.

Uma delas afirmou que tinha a sensação de ser tratada como uma estagiária e citou comentários recorrentes sobre suas roupas ou sua aparência por parte dos colegas. Outra se queixou que os homens com que convive agem de forma paternalista, reiterando estereótipos de que mulheres são mais sensíveis.

A caracterização é feita pelo próprio papa, vide trecho da pensata desta quarta: "As mulheres pensam de forma diferente dos homens. São mais atentas à proteção do ambiente, e seu olhar não se volta ao passado, mas ao futuro. Elas sabem que dão à luz em meio ao sofrimento para alcançar uma grande alegria: conceder a vida e abrir novos e vastos horizontes. Por isso as mulheres sempre querem a paz".

A italiana Luceta Scaraffia, que entre 2012 e 2019 comandou um suplemento feminino no jornal oficial do Vaticano, é uma das críticas do atual pontífice no que se refere às suas políticas para mulheres. Também à AFP, ela afirmou que as reformas de Francisco são essencialmente cosméticas e, na verdade, escondem uma mentalidade machista segundo a qual "as mulheres devem servir sem pedir nada em troca".

O papa, aliás, ainda fez uma referência a elas durante sua missa semanal no Vaticano, também nesta quarta-feira. Na ocasião, abençoou as mulheres presentes e pediu uma salva de palmas para elas.

Com AFP e Reuters

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