O presidente da Rússia, Vladimir Putin, fez uma visita surpresa à Crimeia neste sábado (18) para marcar o aniversário de 9 anos da anexação russa da península ucraniana no Mar Negro.

Segundo a imprensa estatal, Putin foi recebido pelo prefeito pró-Rússia da maior cidade da Crimeia, Sevastopol. O prefeito Mikhail Razvozhayev levou Putin para visitar um centro infantil e uma escola de arte.

A visita ocorre um dia após o Tribunal Penal Internacional (TPI) emitir um mandado de prisão contra Putin, acusando-o de ser o responsável por crimes de guerra cometidos na Guerra da Ucrânia.

Em comunicado, o TPI argumentou que Putin é o provável responsável pela deportação ilegal de centenas crianças de áreas ocupadas pela Rússia na Ucrânia —porções no leste do país. A alta corte diz que o russo falhou em exercer controle adequado de seus subordinados civis e militares.

O presidente russo ainda não fez nenhum comentário sobre o mandado de prisão do tribunal de Haia.

A porta-voz da chancelaria russa, Maria Zakharova, afirmou na sexta-feira (17) que a decisão do Tribunal de Haia é insignificante. "Inclusive do ponto de vista jurídico, já que a Rússia não é parte do Estatuto de Roma e do TPI e não tem obrigação nenhuma com eles."

O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, falou em linha semelhante. Ele disse que as questões abordadas pelo TPI são "ultrajantes e inaceitáveis", mas, de todo modo, sem efeito.

A Rússia anexou a Crimeia em 2014, em ação condenada pela comunidade internacional. Em 24 de fevereiro de 2022, os russos invadiram a Ucrânia. Os ucranianos afirmam que irão expulsar os russos da Crimeia e de todos os territórios ocupados durante a guerra.

Putin deu mostras de que mantém sua posição de não abrir mão da Crimeia. "Obviamente, a segurança é a prioridade para a Crimeia e Sevastopol no momento, Faremos tudo o que for necessário para enfrentar as ameaças", disse o lídero russo.

Foi a primeira vez que o Tribunal de Haia emitiu um mandado de prisão contra um líder de um dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU.

Apesar do mandado, a ONU e o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, anunciaram no sábado (18) a prorrogação do acordo que permite o fluxo de grãos da Ucrânia para países na África, Oriente Médio e Ásia.

A Rússia e a Ucrânia são grandes exportadores de trigo, cevada e óleo de girassol. Os países assinaram acordos no ano passado para permitir que os produtos fossem exportados pelos portos da Ucrânia, que estavam bloqueados.

A Rússia tem afirmado que carregamentos de seus fertilizantes – cuja exportação também deveria ser facilitada pelo acordo – não estão chegando aos mercados globais.

Também no sábado, Putin sancionou uma lei que prevê multas altas para quem "desacreditar ou espalhar informações enganosas" sobre voluntários ou mercenários que estão lutando na guerra da Ucrânia. A lei determina multa de 50 mil rublos (cerca de US$ 660, ou R$ 3.430) para quem infringir a lei, e até 15 anos de prisão para reincidentes.

A medida se assemelha à lei aprovada por Putin no início da guerra, que proibia críticas sobre soldados ou militares russos de forma geral.

Na Ucrânia, autoridades relataram inúmeros ataques russos entre a noite de sexta (17) e a manhã de sábado (18). As autoridades reportaram 34 ataques aéreos e disseram que estilhaços atingiram sete casas e um jardim de infância em Kherson.