Celso Amorim visita Rússia e encontra Putin para tratar de negociação de paz na Ucrânia

Assessor especial de Lula conversou com russo na 'mesa gigante' e também foi à França em aceno a aliados do Ocidente

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Brasília e São Paulo

O assessor especial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para política externa, o ex-chanceler Celso Amorim, realizou viagem discreta à Rússia e à França para prospectar cenários para uma negociação de paz na Guerra da Ucrânia.

À Folha ele diz ter ficado surpreso com a receptividade do governo de Vladimir Putin —o próprio presidente russo o recebeu, para uma conversa que durou uma hora, no Palácio do Kremlin, em Moscou.

Amorim e a comitiva brasileira conversaram com o russo, por meio de tradução simultânea em inglês, na "mesa gigante" de Putin, mobiliário de cinco metros que virou meme durante a pandemia de Covid.

O ex-chanceler e atual assessor especial do presidente Lula, embaixador Celso Amorim - Adriano Machado/Reuters

Durante as tratativas, Amorim falou em especial sobre o conflito na Ucrânia e, por iniciativa russa, de alguns temas da agenda bilateral, como o comércio de fertilizantes. Durante a viagem, foi confirmada a vinda a Brasília do chanceler russo, Serguei Lavrov, no próximo dia 17.

Segundo o conselheiro de Lula para a agenda externa, a viagem serviu para observar a receptividade russa à proposta de mediação de paz para a guerra. "Eles dizem que apreciam tanto os esforços do Brasil quanto os da China", afirma —Pequim apresentou um plano para a paz que foi esnobado pelo Ocidente.

Mas a ambição brasileira levará tempo, pondera Amorim. "Não há solução imediata. É preciso preparar um quadro para quando a vontade política se materializar. Quando ficar claro para um lado ou para o outro que o custo da guerra é maior que o de eventuais concessões, as ideias para a paz poderão fluir."

Amorim partiu na última terça-feira (28) para uma viagem de seis dias, a mando do presidente Lula. As reuniões na França tiveram o objetivo de representar a ligação com o lado Ocidental —que apoia Kiev.

Questionado, Amorim diz que não há um plano imediato para uma conversa com altas autoridades de Kiev, mas não descarta a possibilidade —o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, já fez críticas à postura neutra do governo brasileiro na guerra. A primeira parada da viagem foi em Moscou, onde houve o encontro com Putin, o chanceler Lavrov e dois auxiliares do presidente.

Amorim também almoçou com Lavrov, com quem mantém contato há anos, dos tempos em que era o chanceler brasileiro e quando atuou no mesmo período que o russo na ONU. Um aliado afirma que o assessor especial de Lula teve a missão mais de ouvir a versão dos envolvidos do que de propor soluções. Ele também não usou o termo "clube da paz", como Lula tem feito. "Deixei um pouco mais vago", afirma.

Após Moscou, o ex-chanceler foi a Paris. O principal encontro foi com Emmanuel Bonne, conselheiro do presidente Emmanuel Macron para relações internacionais, função semelhante à de Amorim.

Lula vem buscando uma forma de atuação para encerrar o conflito. A equipe do mandatário defende que o Brasil atue como um facilitador para colocar os atores envolvidos no conflito, direta ou indiretamente, em uma mesa de negociação. O petista defende, por exemplo, que o tema seja tratado em um clube de países não envolvidos diretamente nas hostilidades, como Índia e Indonésia. Essas nações, na visão do presidente brasileiro, forneceriam as condições para mediar a conversa entre os beligerantes.

O modelo é semelhante ao adotado para possibilitar um diálogo entre governo e oposição na Venezuela, ainda no primeiro mandato do petista; e, depois, para tentar solucionar a questão nuclear iraniana.

Alguns críticos de Lula e de sua iniciativa apontam que o presidente não apresentou uma proposta concreta de paz e que, por isso, suas ações terão pouca eficácia.

O presidente também quer discutir o assunto com o líder chinês, Xi Jinping, durante viagem oficial ao país asiático, na próxima semana. A viagem estava programada para acontecer na segunda quinzena de março, mas acabou cancelada após Lula receber o diagnóstico de pneumonia.

Lula também já manteve uma conversa de vídeo com Zelenski e recebeu um convite para visitar o país invadido pelas tropas russas. A guerra entre Rússia e Ucrânia completou no fim de fevereiro um ano, contabilizando mais de 250 mil mortos e 8 milhões de refugiados.

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