Fox News e fabricante de urnas nos EUA fazem acordo milionário e evitam julgamento

Firma havia entrado com ação contra empresa de mídia por alegações de fraudes nas eleições de 2020

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Wilmington (EUA) | Reuters

As empresas Fox Corp FOXA.O e Fox News fecharam um acordo no processo de difamação promovido pela Dominion Voting Systems, fabricante de urnas eletrônicas nos EUA, anunciou o juiz do caso nesta terça (18), evitando assim um julgamento que colocou uma das principais companhias de mídia do mundo na mira devido a alegações de que houve fraude nas eleições americanas presidenciais de 2020.

O acordo de US$ 787,5 milhões (R$ 3,9 bilhões) foi anunciado de supetão, enquanto um júri de 12 pessoas selecionado na manhã desta terça estava pronto para acompanhar o início do processo. A Dominion havia pedido US$ 1,6 bilhão (R$ 7,9 bilhões) em indenização na ação aberta em 2021, com o juiz da Corte Superior de Delaware, Eric Davis, presidindo o caso na cidade de Wilmington.

"A Fox admitiu ter contado mentiras sobre a Dominion que causaram enormes danos à minha empresa, nossos funcionários e clientes", disse John Poulos, CEO da companhia, em comunicado. "Nada pode compensar isso. Ao longo deste processo, buscamos responsabilização e acreditamos que as evidências trazidas à luz neste caso ressaltam as consequências de espalhar e endossar mentiras."

John Poulo, CEO da Dominion Voting Systems, durante entrevista coletiva após anúncio do acordo com a Fox News em Wilmington, no estado de Delaware - Pete Marovich - 18.abr.23/The New York Times

O magistrado já havia ordenado o adiamento do julgamento em um dia, na segunda-feira (17), e houve ainda um atraso no processo nesta terça, aparentemente enquanto os dois lados fechavam um acordo.

Agora, o trato poupa a Fox do risco de ter algumas de suas figuras mais conhecidas convocadas para testemunhar e de serem submetidas a questionamentos potencialmente fulminantes —executivos como Rupert Murdoch, o magnata da mídia de 92 anos presidente da Fox Corp., e Suzanne Scott, CEO da Fox, bem como apresentadores conhecidos como Tucker Carlson, Sean Hannity e Jeanine Pirro.

"Reconhecemos as decisões que consideram falsas certas alegações sobre a Dominion. Este acordo reflete o compromisso contínuo da Fox com os mais altos padrões jornalísticos. Esperamos que nossa decisão de resolver esta disputa com a Dominion amigavelmente, em vez da amargura de um julgamento divisivo, permita que o país avance com essas questões", disse a Fox em nota lida no ar pela Fox News.

O movimento por um acordo também seguiu uma decisão do juiz, em março, de que a Fox não poderia invocar proteções à liberdade de expressão, previstas na Constituição dos EUA, já que considerou falsa e difamatória a cobertura feita pela emissora, conhecida por seus comentaristas conservadores. A Fox News é a rede de notícias a cabo mais assistida dos EUA, de acordo com a consultoria Nielsen.

O processo girava em torno da responsabilidade da Fox ao divulgar falsas alegações de que as máquinas de contagem de votos fabricadas pela Dominion foram usadas para manipular a eleição dos EUA em 2020 em favor do democrata Joe Biden em vez do então presidente, o republicano Donald Trump. A firma argumentou que as alegações causaram "danos econômicos enormes e irreparáveis".

A questão central era se a Fox espalhou informações falsas conscientemente ou desconsiderou a verdade de forma imprudente. Com base em uma série de comunicações internas, a Dominion alegou que a equipe da Fox, desde os funcionários da Redação até Murdoch, sabia que as declarações eram falsas, mas continuou a levá-las ao ar por medo de perder espectadores para concorrentes da mídia à direita, incluindo a One America News Network, que a Dominion processa em uma outra ação.

A Fox ainda encara um processo movido por outra empresa de tecnologia que fabrica equipamentos para votação nos EUA, a Smartmatic, que pede US$ 2,7 bilhões (R$ 13,44 bilhões) em danos em um tribunal do estado de Nova York. A Fox Corp divulgou quase US$ 14 bilhões (R$ 69,6 bilhões) em receita em 2022.

Em registros judiciais, a Dominion citou comunicações internas em que Murdoch e outras figuras da Fox reconheceram que as alegações eram falsas. Segundo a Dominion afirmou no processo, o magnata descreveu internamente as afirmações de manipulação como "malucas" e "prejudiciais", mas se recusou a detê-las e admitiu sob juramento que alguns apresentadores endossaram as alegações infundadas.

Quando Murdoch viu Rudolph Giuliani e Sidney Powell, os advogados de Trump, acusarem a Dominion de fraude, ele os caracterizou para Scott, CEO da Fox News, como "coisas terríveis que prejudicam a todos". De acordo com o processo, questionado se poderia ter impedido que Giuliani continuasse a espalhar falsidades em participações no canal a cabo, Murdoch respondeu: "Eu poderia. Mas não o fiz".

A Fox, no entanto, argumentava que as reivindicações de Trump e de seus advogados sobre a eleição de 2020 eram inerentemente dignas de nota e protegidas pela Primeira Emenda da Constituição.

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