Netanyahu recua e mantém no cargo ministro de Israel que criticou reforma judicial

Anúncio da saída de Yoav Gallant, que nunca se concretizou, provocou manifestações no país na última semana de março

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São Paulo

O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, recuou e anunciou nesta segunda (10) que manterá no cargo o ministro da Defesa, Yoav Gallant, outrora demitido, alegando que a medida se justifica devido à crise de segurança que vive o país.

No mês passado, Gallant pediu a interrupção da controversa reforma judicial que tem levado milhares de israelenses às ruas em protestos. Pouco depois, foi demitido por Bibi, como o premiê é conhecido. Mas Gallant não chegou a deixar o posto de fato.

O primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu
O primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu - Ronen Zvulun - 2.abr.23/Reuters

"Decidi deixar nossas diferenças para trás", afirmou Netanyahu em entrevista coletiva. O líder da coalizão mais à direita da história do país disse ainda que os dois trabalharam juntos nas últimas duas semanas.

Quando anunciou a demissão, Bibi enfrentou críticas da oposição e de parceiros internacionais, além de novas manifestações. Israelenses descontentes com a medida bloquearam a principal rodovia de Tel Aviv e foram à casa dele, em Jerusalém. No mesmo dia, Asaf Zamir, cônsul-geral em Nova York, renunciou ao cargo, dizendo que era seu dever garantir que o país continuasse sendo um farol da democracia.

Especialistas afirmam que a reforma judicial de Bibi é um instrumento para minar a independência do Judiciário e corroer a democracia. Após semanas de manifestações, o governo adiou o trâmite da reforma.

Ao criticar a proposta, Gallant alertava sobre os riscos à segurança nacional, uma vez que, em oposição à controversa reforma, reservistas do Exército ameaçaram cruzar os braços. Netanyahu aproveitou a entrevista nesta segunda-feira para colocar a onda de ataques que se intensifica no país na conta do governo anterior e dos protestos massivos. Segundo o jornal Times of Israel, ele afirmou que o contexto de violência não é novidade e que os ataques terroristas aumentaram sob a gestão que o antecedeu.

"Nosso país está sob ataque terrorista. Mas isso não começou agora. Sob o governo anterior, o número de ataques dobrou", afirmou o premiê, sem apresentar informações para embasar a alegação.

"Repeliremos essas ameaças e derrotaremos nossos inimigos. Já fizemos isso no passado e faremos de novo", seguiu. "Vamos restabelecer a dissuasão e consertar os danos que herdamos."

Ele também culpou o líder da oposição, o ex-premiê Yair Lapid, que costuma alertar para um colapso nacional caso o premiê siga em frente com a reforma. "Quando você declara que o Estado de Israel está entrando em colapso, como você acha que nossos inimigos interpretam isso? Eles acreditam que podem nos enfrentar, com o terror combinado do Líbano, da Síria e de Gaza", afirmou Bibi.

O premiê enfrenta um cenário eleitoral pouco favorável. No domingo (9), pesquisa do Canal 13 mostrou que o Likud, de Netanyahu, perderia mais de um terço de suas cadeiras se uma eleição fosse realizada agora e o premiê não conseguiria obter a maioria dos votos com seus parceiros de coalizão de ultradireita.

O primeiro-ministro afirmou ainda que as relações com os Estados Unidos, tensas devido à reforma judicial, permanecem "estreitas" e que os dois países cooperam em questões de segurança e inteligência.

O recuo da demissão do chefe da Defesa ocorre em um momento de crise interna e de escalada da violência entre israelenses e palestinos. Na última semana —na véspera do Pessach, a Páscoa judaica, e em meio às celebrações do Ramadã muçulmano—, a polícia de Israel invadiu a mesquita de Al-Aqsa, em Jerusalém, e entrou em confronto com centenas de palestinos.

Dias depois, um homem jogou um carro contra turistas em Tel Aviv, matando um deles e ferindo outros sete, e um ataque a tiros deixou duas irmãs israelenses e sua mãe mortas na Cisjordânia ocupada. Depois, o Exército convocou reservistas para reforçar as tropas do país, escancarando o aumento das tensões.

Com Reuters

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