Premiê da Ucrânia diz que plano de paz de Lula não é realista

Chmihal comparou invasão a assalto a residência e questionou: 'Vocês assinariam acordo com bandidos?'

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Gina Marques
Roma | RFI

O premiê da Ucrânia, Denis Chmihal, questionou o plano de paz proposto pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em entrevista à Associação de Imprensa Estrangeira, em Roma, nesta quinta (27).

O primeiro-ministro da Ucrânia, Denis Chmihal, durante encontro com a Associação da Imprensa Estrangeira em Roma
O primeiro-ministro da Ucrânia, Denis Chmihal, durante encontro com a Associação da Imprensa Estrangeira em Roma - Guglielmo Mangiapane - 27.abr.23/Reuters

"Temos um caminho bem traçado em direção à paz como a entendemos", disse ele, para quem a ideia do petista não era realista. "Vou dar um exemplo simples. Se o apartamento de vocês [brasileiros] fosse invadido por bandidos que querem matar vocês e seus filhos, estuprar suas mulheres e tomar a sua casa, vocês assinariam um acordo com esses bandidos? Vocês acham isso realista?", questionou.

"Vocês não aceitariam conviver com esses bandidos nem se curvariam às condições impostas por eles, realizando o desejo deles, não o de vocês", acrescentou.

Ainda na esteira do exemplo da residência invadida, Chmihal reiterou que os russos têm que sair da Ucrânia. "Antes de mais nada, esses bandidos têm que sair da casa de vocês. Depois talvez fosse possível discutir com eles princípios de convivência pacífica, mas não naquele território."

O primeiro-ministro saudou, porém, o empenho de Lula, que insiste em uma solução pacífica para o conflito e já propôs várias vezes uma mediação alternativa em busca da paz. "Agradecemos os esforços do povo brasileiro e do presidente por seu desejo de ajudar o povo ucraniano na sua luta", disse, antes de agradecer aos que acolheram refugiados do conflito. "Muitos países acolheram ucranianos com coração aberto e gentileza. Esperamos que todos os nossos cidadãos possam voltar a uma Ucrânia pacificada."

Ucrânia e China

Chmihal não quis avaliar a possibilidade de uma intervenção da China para mediar um plano de paz. No entanto, disse que a conversa entre os líderes da Ucrânia, Volodimir Zelenski, e da China, Xi Jinping —a primeira desde o início da invasão russa—, havia aberto "uma nova etapa nas relações" entre os países.

"Estou convencido de que é um bom começo para o desenvolvimento positivo de nossas relações."

Questionado se Kiev aceitaria Pequim como mediadora, o premiê reiterou que eles têm seu "próprio caminho para a paz, a fórmula de Zelenski". "Sabemos muito bem o que é a libertação da Ucrânia. Todos os territórios dentro das fronteiras de 1991 devem ser desocupados. A segurança deve ser garantida pelas instituições internacionais. Só assim teremos a certeza de uma paz estável, justa e duradoura."

Encontro com o papa

Chmihal também foi recebido em Roma pelo papa Francisco em meio a uma série de audiências na quinta, véspera da viagem do pontífice à Hungria. O encontro no Palácio Apostólico durou meia hora. Nele, o premiê convidou Francisco a ir a Kiev e pediu ajuda às crianças ucranianas deportadas para a Rússia.

O papa Francisco cumprimenta o primeiro-ministro da Ucrânia, Denis Chmihal, em encontro no Vaticano - Vatican Media - 27.abr.23/Reuters

Em seguida, teve uma audiência com o secretário de Estado do Vaticano, o cardeal Pietro Parolin, e o secretário para as Relações com os Estados e as Organizações Internacionais da organização, Paul Richard Gallagher. Segundo comunicado de imprensa da Santa Sé, "durante as cordiais conversas realizadas na Secretaria de Estado, foram ressaltadas as várias questões relacionadas à guerra na Ucrânia, reservando particular atenção ao aspecto humanitário e aos esforços para restaurar a paz. No mesmo contexto, foram abordados diversos temas relativos à vida e à atividade das igrejas no país".

Reconstrução da Ucrânia

Chmihal esteve em Roma para uma conferência bilateral entre a Itália e a Ucrânia sobre a reconstrução do seu país. Participaram do evento diversas empresas de ambas as nações. O primeiro-ministro pediu às empresas italianas investimento na reconstrução de seu Estado invadido. Segundo o Banco Mundial, os custos para reconstruir o país ultrapassam os US$ 400 bilhões (cerca de R$ 2 trilhões, na cotação atual).

Esta não é a primeira conferência em que se fala da reconstrução ucraniana, ao menos na Europa. Mas o encontro serviu para reforçar o papel de Itália nesse esforço, sobretudo em nível europeu.

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